Literatura

‘Vou e volto’, avisa Nicanor, irmão de Violeta Parra, morto aos 103 anos

Irmão mais velho da compositora e ativista, o poeta chileno, ou anti-poeta, era reconhecido em todo o mundo, mas pouco lido no Brasil

Museu Violeta Parra

O escritor em sua casa no litoral chileno: transgressão na literatura de seu país e reconhecimento internacional

São Paulo – Ao som de Gracias a la Vida, de sua irmã Violeta, com uma manta bordada pela mãe e um recado singelo deixado sobre o caixão (“Voy & Vuelvo”, vou e volto, um de seus poemas visuais). Assim foi a despedida, ontem (25), do escritor chileno, o poeta ou “anti-poeta” Nicanor Parra, que morreu na última terça-feira (23), aos 103 anos. “Um dos protagonistas das letras chilenas”, como definiu, em nota, o Museu Violeta Parra. Alguém que rompeu com a estética da poesia de seu país com sua “montanha-russa”, conforme sua própria definição.

O autor de Poemas y Antipoemas (1954), entre outras obras, ganhou o Prêmio Nacional de Literatura em 1969, o Prêmio Ibero-americano de Poesia Pablo Neruda em 2012 e o Cervantes em 2011. Irmão mais velho de Violeta (1917-1967), veio de uma família numerosa e de origem camponesa – ele completaria 104 anos em setembro. Até hoje inédito no Brasil, deverá ter uma antologia publicada no segundo semestre.

“Apesar do reconhecimento internacional (sobretudo na América Latina, na Espanha e nos Estados Unidos), a obra de Parra, e a literatura chilena em geral, com raras mas significativas exceções, permanece virtualmente desconhecida no Brasil, tanto no meio acadêmico quanto do público”, escreveu há alguns anos o escritor e pesquisador João-Gabriel Mostazo Lopes. “Não seria exagero afirmar que, se o Chile provocou na literatura brasileira qualquer impacto permanente durante o século passado, foi aquele Chile o país de Neruda.”

“Poeta formado em matemática, cosmopolita radicado num vilarejo, pensador anárquico que repudiava toda ideologia (inclusive o anarquismo), Nicanor Parra causava um misto de espanto e admiração a quem quer que tentasse decifrá-lo”, definiu o jornalista e professor Guilherme Freitas, que o entrevistou em 2014, em Las Cruces, litoral do Chile, a 120 quilômetros de Santiago, “onde ele vivia há mais de uma década, numa casa com a palavra “antipoesia” pichada na porta”, descreve. “Às vésperas de completar 100 anos, conservava a memória prodigiosa e a lucidez irreverente.”

Em entrevista ao jornal El País, em 2011, Nicanor disse que nunca foi autor de nada, “porque sempre pesquei coisas que estavam no ar”. 

 

 

Leia também

Últimas notícias