Documentário acompanha bailarinas profissionais com deficiência visual
'Olhando para as Estrelas' é o resultado dos três anos que Alexandre Peralta passou com as dançarinas da única escola de balé para pessoas com deficiência visual do mundo. 'Queremos ser mais que exemplo'
Publicado 09/11/2017 - 13h58
Geyza Pereira: ‘A gente gosta de ser exemplo, sim, mas não dá para construir um futuro só sendo exemplo’
“Se eu desmaiar, você me pega?”. Esta é a primeira frase que a bailarina Geyza Pereira diz no filme Olhando para as Estrelas. Na coxia, ouvindo o burburinho da plateia e prestes a entrar no palco, ela abraça o dançarino que a acompanha, aflita para que o espetáculo seja um sucesso. Com passos elegantes, collants bordados e tutus, as outras bailarinas entram em cena de mãos dadas para receber Geyza, que é o destaque da companhia. Ela é também uma das personagens principais do documentário dirigido por Alexandre Peralta.
Com estreia nesta quinta-feira (9), o filme apresenta Geyza e Thalia Macedo, duas dançarinas da primeira e única escola de balé para pessoas com deficiência visual do mundo, a Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini, na cidade de São Paulo. Peralta acompanhou não apenas os ensaios e as aulas das duas bailarinas, mas também a vida delas em casa, com a família e amigos.
Além de dançarina, Geyza também dá aula de balé e, na primeira parte do filme,prepara os detalhes para seu casamento. Thalia é uma de suas alunas adolescentes que está passando por todas as mudanças e desafios desta etapa da vida. A ausência da visão é apenas mais uma característica das duas e é exatamente isso que faz Olhando para as Estrelas ser bom: em nenhum momento, elas são reduzidas à condição de pessoa com deficiência. Ambas são retratadas primeiramente como bailarinas, mas também como profissionais, parceiras, noiva, mãe, estudante, filha etc.
Bom humor, companheirismo, amizade, amor, persistência e a certeza de que, a partir de uma oportunidade, o ser humano pode se reinventar e fazer muita diferença na vida de pessoas ao seu redor. É isso o que Alexandre apresenta. “Desde que começamos a gravar, sabíamos que o foco do filme não seria a deficiência. Nós queríamos conhecer a Geyza e a Thalia como elas realmente são, com seus sonhos, aspirações, desafios e inseguranças. Por isso, espero que as pessoas saiam do cinema sentindo-se muito próximas delas e de suas histórias. Acredito que a verdadeira inclusão vai acontecer quando deixarmos de dar tanta atenção para as nossas diferenças e focarmos mais no que temos em comum como seres humanos”, declara o diretor.
No final das contas, o que todo mundo quer é ser feliz. E é exatamente o que Geyza diz depois de ficar um tempo longe da dança para o nascimento de seu filho Lucas. “Eu estava me sentindo um pouco vazia sem a dança. A gente tem de ter pessoas para acrescentar e eu não acho que o Lucas é um obstáculo para eu estar no palco hoje. Eu queria mostrar para ele que a mãe dele em nenhum momento desistiu. (…) Eu quero dançar para ser feliz”.
Mesmo sendo uma bailarina profissional e tendo se apresentado em vários países, Geyza afirma que é preciso dar um passo além rumo a um outro tipo de reconhecimento. “Todos nós dentro da associação somos valorizados pelo exemplo e por tudo isso. A gente gosta de ser exemplo, sim, mas não dá para construir um futuro só sendo exemplo. A dança é uma bela arte realmente, mas desde que você consiga se sustentar através dela. Muitas (bailarinas) deixaram de dançar justamente por esse motivo.”
Talento, dedicação e responsabilidade não parecem faltar para essas mulheres e meninas que não deixam que a ausência de um dos sentidos seja um empecilho para que se dediquem, com o máximo de independência e autonomia, à paixão pela dança. Nas aulas de balé, é nisso que insistem os professores: os olhos (e os sonhos) devem estar sempre apontados para o céu. Este é – ou deveria ser – o único limite.
A estreia de Olhando para as Estrelas terá uma sessão especial nesta quinta-feira, às 19h, no Espaço Itaú de Cinema Augusta, em São Paulo. Depois da exibição, haverá um debate com a presença do diretor Alexandre Peralta, da professora e bailarina Geyza Pereira, da bailarina Thalia Macedo e da diretora da Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini.
Olhando para as Estrelas
Direção e montagem: Alexandre Peralta
Fotografia: Alejandro Ernesto Martinez e Guan Xi
Argumento: Alexandre Peralta e Larissa Sundfeld
Roteiro: Alexandre Peralta e Melissa Rebelo Kerezsi
Compositores da trilha original: Alexis & Sam
Produção: Alexandre Peralta, Alejandro Ernesto Martinez, Thais Peralta, Melissa Rebelo Kerezsi, Corina Maritescu, Mayra Ometto e Chao Thao
Produtores executivos: Camilla Belle, Sabrina Chammas, Leandro Peralta, Andre Peralta, Adriana Rodrigues, Ariadne Mazzetti e Jean Paulo Lasmar
Gênero: documentário
Ano: 2016
País: Brasil
Distribuição: Elo Company