Música

Anná lança EP feminista e com mensagem contra a gordofobia

'Pesada', primeiro trabalho autoral da cantora paulista, traz quatro músicas, duas delas abordam temas relacionados ao empoderamento da mulher

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Já tive bulimia e sei como a gordofobia pode transtornar uma mente, daí vem minha vontade de lutar contra isso

“Você sabe o que é olhar para o espelho e desejar que aquele corpo não fosse seu? Sabe o que é não se achar em telas e papéis? Não é sobre ser gorda, é sobre o peso de se estar acima de um peso”. O verso de Carta à Boa Forma sintetiza bem a pegada do primeiro trabalho da cantora paulista Anná. O EP Pesada, que será lançado oficialmente no dia 29 de setembro em show no Sesc Ipiranga, em São Paulo, é uma ode ao empoderamento feminino, contra o machismo e a opressão dos padrões de beleza.

A cantora acaba de lançar o clipe desta faixa que é o carro-chefe do EP gravado por meio de de um financiamento coletivo. Chegamos, chegamos, chegamos pra sentar nossa bunda gorda nessa sua ideia paranoica de que a gente não existe ou não devia existir. Aceita que dói menos, aceita que dói menos. Eu já aceitei, e foi delicioso”, canta Anna, cercada de mulheres com biquínis no videoclipe.

Outra faixa que aborda o tema, Grosse, é cantada em francês. “Fizemos um trabalho que tem a temática femini(sta)na e gorda. As quatro músicas abordam temas sociais, ora sutil, ora escancaradamente, e apresentam muitos ritmos diferentes, como maculelê, baião e polca”, afirma Anná.

A vontade de escrever sobre o assunto vem de sua história pessoal e da consciência sobre a importância de combater este tipo de preconceito. “Eu sou magra? Visto 44/46, não me considero magra. E quando eu vestia 38, também me sentia gorda. A diferença é que hoje ‘gorda’ não é um xingamento para mim. Já tive bulimia e sei bem o quanto a gordofobia pode transtornar uma mente, acho que é daí que vem minha grande vontade de lutar contra isso. Não sou obesa e entendo a necessidade dessa representatividade, mas também sinto que depois de lutar tanto para ficar bem com meu corpo, o mínimo que posso fazer é tentar transmitir isso às pessoas, especialmente às mulheres. Tem muita mulher magra se matando por se achar gorda, e eu quero tentar dizer ‘calma, ser gorda não é um defeito nem uma coisa ruim’ ao invés de dizer ‘ah, você é magra, para de pedir confete’”, declara.

A faixa Linha Vermelha, escrita em parceria com Samuel da Silva, foi feita em homenagem a Luis Carlos Rua, espancado até a morte no Natal de 2016 por defender uma travesti dentro da estação Pedro 2°, em São Paulo. A última canção de Pesada, Daqui,sugere que se escute os artistas brasileiros: “Abrir as portas do mundo é sempre bom, deixar fluir distintos arrebóis. Mas volta à casa e então tu ouvirás, o som da tua terra consegue te fazer vibrar”, canta Anná, conhecida em várias rodas de sambas paulistas e uma das vozes do bloco afro Ilú Obá de Min, que já se tornou tradição no Carnaval paulistano.

O EP completo pode ser ouvido no canal de Anna no YouTube.