Cinema e luta

Documentário amplifica a voz das ocupações contra o impeachment

Filme 'Resistência', de Eliza Capai, acompanha movimentos de ocupação e manifestações de luta por direitos constitucionais como igualdade de gênero, educação, cultura e pela democratização da mída

Reprodução

Protagonismo feminino e negro, quebra de estereótipos de gênero e ocupação de espaços de poder são pano de fundo de ‘Resistência’

São Paulo – Cinquenta e cinco minutos. É este o tempo que a documentarista Eliza Capai (Severinase Tão Longe é Aqui) leva para dizer – por meio de imagens, de discursos, entrevistas e de muita luta – que, por mais que a situação seja ou esteja difícil, é possível (e é preciso) ter esperança. Seu documentário Resistência, lançado na semana em que o afastamento de Dilma Rousseff completou um ano, apresenta a energia mobilizadora e obstinada de milhares de jovens e militantes que ocuparam edifícios públicos para reivindicar que suas vozes e suas demandas fossem ouvidas. Já na semana de pré-lançamento, o filme foi exibido em mais de 70 sessões em todas as regiões do Brasil, e também na Europa e Estados Unidos.

Tudo começou com uma série que Eliza estava fazendo sobre democracia em que um dos temas era educação. Em meio às ocupações estudantis na Assembleia de São Paulo pela instalação da CPI da Merenda, em maio de 2016, ela entrou em contato com os estudantes, que prontamente abriram a porta para sua entrada. Surpresa com a maneira com que aqueles jovens se organizavam, Eliza decidiu ficar e registrar aquilo que ressoava como uma nova forma de fazer política.

É assim que nasce o documentário Resistência: da percepção de que os estudantes que instigaram outras ocupações em escolas em vários cantos do país faziam parte de uma geração que se articula de maneira diferente e que alinha suas demandas políticas e sociais com questionamentos de gênero e de papéis em prol da construção de um futuro melhor para todos.

Eliza registrou como aquele grupo relativamente pequeno de adolescentes dividia as funções dentro do movimento, como se organizavam para atingir seus objetivos, como pautaram a mídia alternativa e a tradicional e se fizeram ouvir por políticos, artistas e pela sociedade como um todo. Ao constatar a grandiosidade daquele movimento, Eliza decidiu que só sairia de lá quando o prédio fosse desocupado. E foi o que fez.

A semente de Resistência estava plantada. Entre maio e agosto de 2016, o Poder Legislativo votou o afastamento da primeira mulher eleita presidenta do Brasil, Dilma Rousseff e, como resposta, outras dezenas de edifícios públicos foram ocupados e surgiram dentro e fora deles manifestações que exigiam direitos constitucionais como cultura, educação, igualdade de gênero e democratização da mídia.

Entre abril e agosto do ano passado, Eliza Capai acompanhou de perto as ocupações no prédio do Ministério da Cultura do Rio de Janeiro, da Funarte de São Paulo, a Marcha das Vadias na capital carioca e a Parada LGBTT de São Paulo.

A forma como ela costura a grave situação política no Brasil e todas essas manifestações de resistência são de uma força e delicadeza raras. As legítimas demandas desses movimentos são apresentadas sob diversos pontos de vista: do protagonismo feminino e negro, da quebra de estereótipos de gênero e da ocupação de espaços de poder por setores até pouco tempo completamente excluídos das tomadas de decisão. A mensagem que fica é que a luta só está começando.

Impossível não chegar ao final do filme triste por ver na tela a triste situação política do país. Mas ao mesmo tempo, o espectador é invadido por uma onda de esperança em uma geração que está reiventando a todo tempo as formas de lutar por um país melhor. A associação com a música E Vamos À Luta,de Gonzaguinha, é inevitável, apesar de ela não fazer parte do filme: “Eu acredito é na rapaziada/ Que segue em frente e segura o rojão/ Eu ponho fé é na fé da moçada/ Que não foge da fera e enfrenta o leão/ Eu vou à luta com essa juventude/ Que não corre da raia a troco de nada/ Eu vou no bloco dessa mocidade/ Que não tá na saudade e constrói/ A manhã desejada”.

Onde ver

Nem adianta procurar o documentário Resistência nos cinemas. Segundo Eliza Capai, ele foi feito para ser um filme compartilhado, para servir como um instrumento de reflexão sobre tudo o que está acontecendo no país. Portanto, a equipe do filme incentiva que qualquer cidadão organize sessões gratuitas para sua exibição. Para saber onde serão as próximas sessões e como organizar uma exibição de Resistência, visite o link www.videocamp.com/pt/movies/resistencia.

#Resistencia_chamada from Eliza Capai on Vimeo.