Gênero

‘A principal causa de morte dos homens é o machismo’

Documentário 'Precisamos Falar com os Homens? Uma Jornada pela Igualdade de Gênero' trata da necessidade urgente de homens e mulheres se unirem pela construção de uma sociedade mais igualitária

Reprodução

‘A igualdade de gênero é um caminho para que masculinidades nocivas deixem de existir’

“A remuneração das mulheres é 30% menor do que a dos homens no Brasil. E a diferença de salários entre uma mulher negra e um homem branco é ainda maior: elas recebem 61% a menos do que eles. Em casa, as mulheres ainda realizam o dobro ou mais que o dobro do trabalho doméstico realizado pelos homens. A representação delas no Congresso do nosso país ainda é de apenas 10%. E no mundo, uma em cada três mulheres sofre violência em algum momento de sua vida.” Estas são algumas das estatísticas apresentadas pelo documentário Precisamos Falar com os Homens? Uma Jornada pela Igualdade de Gênero, disponível gratuitamente na internet e que pode ser assistido na íntegra ao fim desta matéria

Dirigido por Luiza de Castro e Ian Leite, o longa-metragem de 51 minutos é uma iniciativa da ONU Mulheres e do portal PapodeHomem, que realizaram em 2016 uma pesquisa qualitativa em várias regiões do país e uma pesquisa on-line, com mais de 20 mil participantes, abordando temas como relacionamentos, violência e comportamento.

O objetivo era entender como os homens podem participar do diálogo pela igualdade de gênero e o resultado é uma profunda reflexão sobre os males que o machismo exerce na vida das mulheres e também na dos homens, além de propostas para promover mudanças efetivas neste sentido.

Você percebe que a maior população carcerária do Brasil – na verdade, não só do Brasil, mas do mundo – é composta por homens; quando você pensa sobre as causas de adoecimento e morte dos homens, do que os homens morrem? A gente vê o tempo inteiro campanhas falando de câncer de próstata, câncer de pênis… Essa é uma das causas, mas não é a principal. A principal causa de morte dos homens é o machismo”, aponta o pesquisador e professor de Psicologia Benedito Medrado.

Com um roteiro bem costurado, a obra apresenta informações de forma didática e acessível, com infográficos e entrevistas com psicólogos, antropólogos, educadores, trabalhadores sociais, entre outros. O cuidado com a casa, com os filhos, os privilégios que os homens ainda têm em relação às mulheres, as diversas formas de violência contra a mulher e os sofrimentos psicológicos que o machismo causa nos homens são alguns dos assuntos abordados.

O machismo mata os homens por vários motivos: seja pelo descaso com a saúde, pela relação perigosa com as bebidas alcóolicas, ou pelo modo agressivo de dirigir”, aponta a narração feita pelos atores Caco Ciocler e Leandra Leal. “O machismo é a crença na superioridade dos homens sobre as mulheres. Ele se repete em nossa sociedade de muitas maneiras: nos filmes, nas relações pessoais, nas escolas, no trabalho. O machismo não é o contrário do feminismo. O feminismo não defende a superioridade das mulheres. Seu objetivo primordial é desconstruir o machismo que afeta homens e mulheres e conquistar o acesso a direitos e oportunidades iguais a todos os gêneros”, explica o filme.

Redescobrir a masculinidade

Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil, afirma que é preciso engajar homens e meninos para novas relações de gênero: “Os homens têm de encontrar formas de viver melhor com eles mesmos porque eles estão se matando entre eles, estão matando e agredindo as mulheres, e estão perdendo uma série de coisas que são parte da vida cotidiana e que são muito importantes: compartilhar a criação dos filhos, poder amar, poder sentir, poder chorar…”

A igualdade de gênero é um caminho para que masculinidades nocivas deixem de existir. Mas ela não acredita que toda forma de ser homem é ruim. Pelo contrário: ela valoriza as riquezas do masculino e do feminino. É tempo de abrir espaços para conversas e transformações, de quebrar o silêncio e dialogar, em especial com quem pensa diferente de nós. (…) E as mudanças passam pelas escolas, pelos meios de comunicação, por políticas públicas, pela sociedade. Mas também podem começar em pequenos gestos, como questionar atitudes machistas de seus amigos, não expor materiais íntimos de outros ou outras em redes sociais, não contar piadas preconceituosas, não subestimar a inteligência de uma mulher. Ou seja, respeitar todas as possibilidades de ser homem e de ser mulher”, sugere o longa-metragem.

Uma das questões importantes tratadas no filme é a justa divisão de tarefas domésticas e como isso pode impactar nas gerações futuras: “O Homem que cuida, divide as tarefas, está presente na vida dessa criança. Se ele cria um menino, esse menino vai aprender a ser mais equitativo quando ele crescer; se ele cria uma menina, ela vai entender que relacionamento não é baseado em violência, é baseado em respeito, é baseado no homem dividindo as tarefas, é baseado no que cuida… Então, a gente consegue fazer com que na próxima geração – dos nossos filhos, dos nossos sobrinhos – as novas crianças consegam entender que a forma de elas demonstrarem afeto não tem nada a ver com controle, nada a ver com violência”, afirma Milena do Carmo, assistente de projeto do Instituto Promundo, que atua em diversos países na promoção da igualdade de gênero e prevenção da violência com foco no envolvimento de homens e mulheres na transformação de masculinidades.

A mensagem de Precisamos Falar com os Homens? é clara: é preciso que todos e todas lutem juntos pela construção de uma sociedade igualitária. “As mulheres vão seguir lutando, as mulheres vão seguir nas ruas, no trabalho, vão seguir nas universidades. Mas agora precisamos que os homens façam sua parte. É um momento para que eles revisem sua masculinidade, aprendam a ser homens de outro jeito. O que é muito bom dessa proposta – que é uma proposta das mulheres, uma proposta feminista – é que essa mudança é muito boa para nós, mulheres, mas ainda é uma mudança muito boa para os homens também. Então, é uma situação em que todo mundo ganha. A gente tem de mudar e tem de mudar logo”, conclama Dra. Nadine Gasman.

Assista abaixo ao filme completo:

Precisamos Falar com os Homens? Uma Jornada pela Igualdade de Gênero
Iniciativa: ONU mulheres e PapodeHomem
Viabilização: Grupo Boticário
Concepção e implementação: PapodeHomem e Questto | Nó Research
Realização do documentário: Monstro Filmes e Questto | Nó Research
Direção audiovisual: Ian Leite e Luiza de Castro
Produção executiva: PapodeHomem
Pesquisa qualitativa: Questto | Nó Research
Pesquisa quantitativa: Zooma
Apoio especial: Heads Propaganda
Apoio institucional: ONU, ElesPorElas, Organização Pan-Americana de Saúde, O Valente Não É Violento, UNA-SE Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres