cobaias do setor financeiro

Apeoesp questiona projeto de banqueiros para alunos da rede estadual

Em vez de aplicar recursos diretamente nas escolas, governo Alckmin pretende pagar empresas para implementar política para reduzir em 7% as taxas de reprovação, a princípio em 61 escolas estaduais

Arquivo/Governo de SP

Mesmo conhecendo os problemas das escolas, Alckmin prefere repassar dinheiro público para empresas

São Paulo – O Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), por meio da subsede Sul/Santo Amaro, está questionando formalmente a Diretoria Regional de Ensino Sul 2 sobre a implementação do projeto de Contrato de Impacto Social (CIS). Os professores querem uma reunião para discutir a proposta que está sendo comparada à tentativa de reorganização da rede, em 2015, em termos de impacto. A diretoria ainda não respondeu ao ofício entregue no último dia 23.

Em outubro, professores, pais e estudantes de Santo André rejeitaram a proposta de adesão apresentada pela direção de ensino local. Mas o tema começou a ganhar repercussão a partir de 23 de novembro, quando a Secretaria Estadual da Educação colocou em consulta pública a minuta do edital sobre o contrato.

Conforme o órgão do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), o CIS tem o objetivo de complementar as políticas da rede estadual de ensino de São Paulo e melhorar a qualidade do Ensino Médio. A consulta se encerra no próximo dia 12.

A ideia é contratar, por meio de licitação, uma empresa para implementar uma política para reduzir em 7% as taxas de reprovação em 61 escolas estaduais contempladas. O CIS foi idealizado por um grupo integrado pelo Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a ONG britânica Social Finance e o Insper.

“Não podemos ser favoráveis a uma proposta que pretende repassar recursos públicos para empresas, e não para a solução dos problemas da educação que já são conhecidos, como falta de professores e de infraestrutura adequada, como laboratórios e outras instalações”, afirma o professor de Filosofia e dirigente da Apeoesp Tales Amaro Ferreira.

Para o professor, a proposta sinaliza que a empresa que vencer a licitação atuará como gerente da escola. “Os professores responderão a essa gerência, que pelo que tudo indica terá influência também sobre a parte pedagógica. Não é à toa que o estado apresenta essa proposta ao mesmo tempo em que cria um comitê para planejamento de ações visando à implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC)”, completa.

A proposta do governo tucano, que está sendo comparada à proposta de reorganização do ensino em 2015, que levou à reação dos estudantes que passaram a ocupar escolas, está sendo costurada há mais de um ano. Em novembro do ano passado, o secretário estadual da Educação, José Renato Nalini, falou na abertura do seminário Inovação em Contratos de Impacto Social (CIS): Experiência Mundial e Agenda para o Brasil. A “experiência em São Paulo” chegou a ser destaque em um dos paineis.

Em artigo, o especialista em Educação e professor do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do ABC (UFABC) Salomão Ximenes diz tratar-se de contrato de parceria público-privada do governo paulista que estabelece relação pública perde-perde. “Perdem os “estudantes-cobaia”, perdem os “estudantes-placebo”, perde o Estado imobilizado por 4 anos em sua atuação precípua em escolas prioritárias. Só não perdem os ganhadores de sempre, os banqueiros e suas assessorias educacionais.”

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