Governos tucanos

Para 75% da população, escolas estaduais paulistas pioraram nos últimos anos

Pesquisa da Apeoesp/Instituto Locomotiva mostra ainda que 89% se dizem contrários à maneira como a progressão continuada é adotada; 44% dos alunos disseram já ter passado de ano sem saber a matéria

Kevin David/SIGMA/FOLHAPRESS

Para estudantes, Alckmin deve investir na melhoria da infraestrutura das escolas, do material didático, do salário dos professores e funcionários e atualizar a grade curricular para melhorar a qualidade do ensino

São Paulo – As escolas mantidas pelo governo de Geraldo Alckmin (PSDB) vêm piorando nos últimos anos. Essa é a opinião da maioria (75%) da população ouvida pelo Instituto de Pesquisas Locomotiva para avaliar a percepção da qualidade da educação nas escolas estaduais de São Paulo. A avaliação é compartilhada por grande parte dos professores entrevistados (75%), dos pais (60%) e dos estudantes (58%).

As entrevistas foram feitas entre os dias  e 11 de setembro nas cidades de São Paulo, Guarulhos, Bauru, Marília, Campinas, Sorocaba, Santos, Registro, São José dos Campos, Taubaté, Ribeirão Preto, Araraquara, São José do Rio Preto e Presidente Prudente. Foram ouvidas 649 pessoas das localidades, maiores de 18 anos, além de 600 pais e mães de alunos e 602 estudantes com 14 anos ou mais. E foram entrevistados, por telefone, 702 professores de 155 municípios de todas as regiões do estado.

A pesquisa foi encomendada pelo Sindicatos dos Professores do Ensino Oficial no Estado de São Paulo (Apeoesp).

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Para os entrevistados, qualidade na educação é entendida principalmente como ensino de qualidade, professores preparados e qualificados, preparo para o mercado de trabalho e infraestrutura.

No entanto, as escolas estaduais paulistas apresentam problemas como falta de segurança – objeto de outra pesquisa da Apeoesp, divulgada na semana retrasada –, indisciplina, baixo aprendizado infraestrutura inadequada e baixa motivação dos professores.

Um dado que chama atenção na pesquisa sobre qualidade, divulgada na tarde de ontem (9), é que 90% dos pais, 89% da população geral, 78% dos estudantes e 87% dos professores se dizem contrária ao sistema de progressão continuada da maneira como é aplicada hoje. Dos pais ouvidos, 33% disseram que seus filhos já passaram de ano mesmo sem ter aprendido a matéria. A mesma resposta foi dada por 44% dos estudantes.

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A pesquisa questionou se a valorização e motivação dos professores são fundamentais para uma educação de qualidade. Houve concordância de 94% dos pais, 92% da população em geral, 89% dos estudantes e 100% dos professores.

Para os entrevistados, a educação pública no Brasil está longe de ser de qualidade para 84% da população, para 82% dos professores e 68% dos pais e dos estudantes. É considerada de qualidade para apenas 2% dos estudantes e dos professores e para 1% dos pais e população em geral.

Entre as prioridades para melhoria da qualidade da educação pública em São Paulo, a melhora do salário dos professores foi destacada pela população em geral, pais e professores. Já os estudantes citaram a melhoria da infraestrutura física e o material didático.

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Na avaliação do presidente do instituto Locomotiva, Renato Meirelles, os dados apontam para uma situação grave. “Poderíamos estar em uma situação ruim mas vir melhorando, mas não estamos. Isso é preocupante porque não se trata apenas de um problema do presente, e sim que terá consequências para as gerações futuras do estado mais rico da federação”, disse. O estado de São Paulo é governado pelas mesmas forças políticas desde o início dos anos 1990.

Meirelles chama atenção também para o fato de a progressão continuada – que da maneira que tem sido implementada por Alckmin, sem investimentos na qualidade do ensino – ter se tornado, na prática, um sistema de promoção automática, em que muitos estudantes são aprovados mesmo não tendo aprendido muitos conteúdos.

“Além da rejeição ao sistema, a pesquisa mostra que há muitas aulas vagas, que as classes estão superlotadas, que 71% dos professores acham inadequado o tempo que têm para preparar aulas, índice que era de 48% em 2013. Como os professores vão ficar motivados?”, questiona Meirelles.

A presidenta da Apeoesp, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, associa a crescente queda na qualidade de ensino à lógica do projeto do governo tucano de São Paulo.

“A situação é de abandono. Não pode faltar dinheiro para a educação. Em São Paulo convivemos com a realidade de professores dando até 64 aulas por semana para compensar os baixos salários, e lutamos entre outras coisas pelo fim dos contratos temporários, uma espécie de trabalho escravo, em que o professor não tem direito a nada. A escola, como espaço de ensino e aprendizado, não é o que reflete a realidade da rede estadual de ensino de São Paulo”, disse.

No próximo domingo (15), Dia do Professor, a entidade promove um Tributo à Educação na Avenida Paulista, esquina com Ministro Rocha Azevedo. O evento, a partir das 14 horas, será um espaço de celebração e de festa pelo ofício de educar, e também de reflexão e de alerta sobre a situação do ensino público no país: em vez de melhorar, vem piorando – quadro que tende a se agravar em função da aprovação, pelo governo Temer, da emenda constitucional que engessa gastos sociais por 20 anos. Está confirmada a presença de artistas como Zélia Duncan, Chico César e o movimento artístico e de resistência política Ilú Obá De Min

 Assista também à reportagem do Seu Jornal da TVT

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