democracia

‘Vitória histórica’ dos movimentos, USP aprova cotas sociais e raciais no vestibular

Maior universidade do país é a última do sistema público a aderir a sistema de inclusão. Medida passa a ser adotada a partir de 2018

EBC

Reivindicação pelas cotas raciais na USP é antiga, mas sofreu com a truculência de reitores da universidade

São Paulo – Em decisão inédita e considerada histórica, o Conselho Universitário da Universidade de São Paulo (USP) aprovou, nesta terça-feira (4), a adoção de cotas sociais – para alunos de escolas públicas – e raciais em seus vestibulares. A medida entra em vigor a partir dos exames de 2018 para os cursos de graduação.

Em seu primeiro ano, serão reservadas 37% das vagas, por curso, para estudantes oriundos da escola pública; já em 2019, a porcentagem deverá ser de 40%, subindo para 45% em 2020; a partir de 2021 e nos anos subsequentes, 50% das vagas de cada curso e turno serão preenchidas por cotistas.

Dentro destes percentuais reservados para alunos da rede pública serão determinadas as vagas para pretos, pardos e indígenas (PPI). A proporção será definida pela base de dados do IBGE no estado de São Paulo, que aponta o total da PPI em relação a toda a população do estado – hoje, esse índice é de 37%. A reserva considerará também, os resultados nos dois processos de seleção da USP: a Fuvest e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

A decisão é vista como uma vitória dos movimentos negro e indígena. Laura Daltro, integrante do Núcleo de Consciência Negra e formada em Pedagogia na USP, conta que já tinha deixado de acreditar na aprovação da pauta. “A gente colocou a reitoria da principal universidade do país contra a parede. É a última universidade a aprovar cotas raciais e sem perspectiva de aprova-las. A gente até achou que não ia rolar. É motivo de muita comemoração”, conta.

Para a conquista das cotas étnicas, Laura conta que o apoio dos professores da USP foi crucial. Na tarde de ontem, cerca de 300 professores apresentaram um manifesto que exigia a aprovação da pauta, pois as cotas sobre as condições sócio-econômica eram insuficientes – ideia inicialmente apresentada pelo reitor da universidade, Marco Antonio Zago.

Daltro afirma que, agora, o cenário dos jovens negros irá mudar. “É menos um jovem negro sem perspectiva de futuro. As cotas não vão acabar com o racismo ou com o genocídio da juventude negra, mas sabemos que as cotas são um passo para uma juventude que não tinha perspectiva.”

Novas lutas

Mesmo com a pauta principal aprovada, a militância não descansará. Segundo a aluna formada na USP, o objetivo é lutar pela permanência dos alunos da universidade. “Muita gente nova vai ter de enfrentar esse problema”, lamenta. 

A USP possui um programa de auxílio para os alunos de baixa renda se manterem na instituição, que inclui uma verba para moradia, transporte, alimentação e compra de livros.

Entretanto, a militante conta que, recentemente, 150 bolsas foram cortada e há atraso no pagamentos desses auxílios.”A USP passa por uma crise há anos, quando eu estudava lá cortaram minha bolsa de iniciação científica. O bandejão também enfrenta o mesmo problema”, afirma Laura.

Ela defende que, mesmo com a falta de repasses feito pelo governo Alckmin à universidade, dinheiro não falta nos cofres da instituição. “Não é verdade que a USP não tem dinheiro, pois gasta com reformas inúteis. Eles reformaram a Praça do Relógio, custou muito caro e não havia necessidade. No mesmo período a universidade fez corte de bolsas. Eles dizem que não tem dinheiro, mas parece não ter só para a permanência estudantil.”

Outra resistência prevista será contra o racismo por parte de alunos e professores, conta Laura. “Tem um grupo de direita da universidade que declarou que (as cotas) são ‘um grande retrocesso’. Vai ser difícil fazer esse enfrentamento, porque sempre existe um aluno racista, um professor racista. Mas, agora, o movimento intensifica-se mais ainda. É um fortalecimento da gente.”