ensino público

Para cobrir professores exonerados, Alckmin convoca vice-diretores

Parte dos coordenadores de escola e dos professores mediadores de conflito também está sendo transferida. Sindicato afirma que não há diálogo com o governo estadual

Secretaria Estadual de Educação/ A2img /Daniel Guimarães

As escolas da rede estadual com mais de 45 salas passarão a ter dois vice-diretores em vez de três

São Paulo – Vice-diretores, coordenadores e professores mediadores de conflitos de escolas estaduais de São Paulo têm recebido, nas últimas semanas, a notícia de que o governo de Geraldo Alckmin está redirecionando parte dos profissionais de volta para a sala de aula, sem diálogo com as unidades de ensino. Professores e membros de sindicatos denunciam que mudança irá sobrecarregar funcionários, reduzir salários e transferir profissionais para funções nas quais não possuem conhecimentos específicos, prejudicando a qualidade do ensino.

A Secretaria da Educação justifica a mudança pela necessidade de redução de gastos com a crise econômica e pelo fato de 70 mil professores da rede estarem fora das salas de aula, exercendo outros tipos de cargos ligados à educação. Em reunião com membros do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), representantes da secretaria afirmaram que o cargo de professor mediador de conflitos não está sendo extinto e que nas escolas onde funciona o Programa Escola da Família, que oferece atividades de lazer e cultura aos fins de semana, o vice-diretor assumiria a função.

Já a Apeoesp defende que a mudança deve-se ao fato de muitos professores terem sido exonerados na rede. Só entre 2014 e 2015, o quadro foi reduzido em 26,6 mil profissionais (11%) do total, entre concursados e efetivos. “Os professores abriram mão desse emprego que o estado está oferecendo. As pessoas estão deixando o estado. Onde eles estão indo buscar essa mão de obra? Nas coordenações”, afirmou o conselheiro do sindicato Severino Honorato.

“Claro que a escola não funciona só com professor na sala de aula”, diz Severino, lembrando que dos 70 mil professores que não lecionam diretamente, pelo menos 16 mil estão afastados por licença médica, segundo dados da própria Secretaria de Educação. “Na rede toda são pelo menos 5 mil escolas, cada uma tem que ter pelo menos um diretor e um vice-diretor. Só nisso já são pelo menos 10 mil funcionários que precisam estar fora das salas de aula. A Secretaria vem enxugando. Não tem mais professores nas salas de leitura, de informática e nas aulas de reforço.”

Uma das mudanças propostas pela Secretaria da Educação, por exemplo, é que nas escolas com 45 salas ou mais, o número de vice-diretores passe de três para dois. Nas escolas com menos salas, o número de vice-diretores passaria de dois para um.

“O vice-diretor que ficou sozinho vai ficar muito atribulado, com muito serviço. Com dois já estávamos sobrecarregados. É muito serviço: tem alunos com problemas, precisa atender os pais, ir até o Conselho Tutelar”, diz uma das vice-diretoras reencaminhada para sala de aula sem aviso prévio, que trabalhava em uma escola estadual na região de Santo Amaro, na zona sul da capital paulista, e  que preferiu não se identificar. Após dez anos desempenhando o trabalho na mesma instituição de ensino, ela será transferida para outra escola. Seu salário reduzirá do equivalente a 200 aulas para 150 aulas.

Nesta semana, um grupo de professores mediadores realizou um ato na frente da sede da Secretaria da Educação, na região central da cidade, para protestar contra a mudança. Eles foram recebidos por uma representante do órgão, mas tiveram penas “respostas vagas”, segundo um dos professores que participou da atividade e não quis se identificar. “Onde está a democracia? O governo parece não estar nem aí para o que acontece dentro das escolas”, disse. “Nossa função é importante. Quem faz papel de socorrer os alunos somos nós, os mediadores. Nós vamos na casa de alunos, buscamos os evadidos, falamos com os pais. Nós entramos onde a polícia não entra.”

O professor teme que sejam perdidos os cinco anos de trabalho desempenhados por ele na mediação de conflitos na instituição, localizada na periferia de Embu das Artes, na grande São Paulo. “Eu já conversei com aluno armado, já entrei no meio de conflitos e agora o governo tira tudo e coloca qualquer outra pessoa para fazer esse trabalho. É um descaso muito grande. Nós não estamos lá como professores apenas, mas como amigos desses meninos, da comunidade. Para que o vice-diretor adquira a intimidade que temos com os estudantes vão mais três ou quatro anos”, disse. “No último ano, uma aluna que havia sido abusada pelo padrasto no ensino fundamental se formou no ensino médio e me abraçou e disse ‘obrigada por falar que era possível eu conseguir as coisas que eu sonhava. Quando cheguei aqui eu não tinha nenhuma perspectiva’. Como ficarão os outros alunos como ela?”