Rio de Janeiro

Crise na Uerj revela desprezo dos governantes pela educação, afirma professora

Com atraso no pagamento de professores e funcionários, cortes de água e luz e aulas suspensas, trabalhadores lançam carta com apelo ao poder público em defesa da universidade

Arquivo/EBC

Por falta de pagamento, Uerj decidiu suspender o reinício das aulas, previsto para esta segunda-feira (16)

São Paulo – “Aparentemente, a universidade não tem a importância que os políticos tanto propalam em período de eleição.” Ao comentar a crise que se abateu sobre a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), com salários atrasados de professores e servidores e aulas suspensas, a professora de Relações Internacionais Mônica Leite revela “profunda decepção” com os governadores do estado. Por falta de pagamento, a universidade decidiu suspender o reinício do segundo semestre de 2016, previsto para esta segunda-feira (16). 

“Não é uma crise internacional. É uma crise de incompetência administrativa do atual governador – Luiz Fernando Pezão (PMDB) – e do antecedente – Sérgio Cabral, do mesmo partido –, que inclusive está preso por improbidade e corrupção. Desprezo à educação. Tem dinheiro para dar isenção fiscal a grandes empresas internacionais, mas não tem dinheiro para garantir uma obrigação básica do Estado, que é a educação?”, questiona a professora.

Em entrevista à Rádio Brasil Atual na manhã de hoje (16), ela relata cenário de atraso no pagamento de salários dos professores, funcionários e terceirizados. Bolsas e verbas para pesquisa também não estão sendo pagas, assim como os fornecedores. “A universidade tem apenas dois elevadores funcionando, porque os ascensoristas são terceirizados. Não há sequer previsão para pagamento do último 13º. Há cortes de luz, de água. É assim que estão tratando a Uerj.” 

Com cerca de 32 mil alunos, a Uerj possui sete campi espalhados pelo estado, e foi a primeira universidade do país a adotar o sistema de cotas raciais e para estudantes da rede pública. “Tem um alcance de inclusão social enorme”, lembra a professora, que destaca a quinta colocação entre as melhores instituições do país, e a 11ª da América Latina, de acordo com o ranking Best Global Universities 2016. 

Mônica Leite reclama, ainda, de cortes no programa de incentivo Pró-ciência, e da diferença salarial de quase 50% em relação aos professores das universidades federais, com a não implementação do programa de dedicação exclusiva. 

Em protesto contra a atual situação, professores, servidores e membros de diversas entidades da sociedade civil, lançam uma Carta em Defesa da Uerj, endereçada ao presidente Michel Temer e ao governador Pezão, conclamando os agentes públicos a assumir suas responsabilidades.

Confira na íntegra:

Ao poder público estadual e federal – Carta em defesa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Para o Exmo. Sr. Presidente da República Michel Temer e Exmo Sr. Governador do Estado do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão

Nós, servidores da UERJ e demais membros da sociedade civil em seus diversos segmentos, denunciamos, com profunda indignação, a dramática situação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e solicitamos ao poder público que assuma o compromisso com o pleno funcionamento da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 

A UERJ é a 5ª melhor Universidade do Brasil e a 11ª da América Latina, de acordo com o ranking “Best Global Universities 2016”, aferido com base em indicadores que mensuram a performance nas áreas de pesquisa acadêmica, número de docentes premiados e reputação regional e global. 

Patrimônio científico e cultural do Rio de Janeiro, a UERJ firmou sua existência ao longo de 64 anos com avanços e inovações científico-acadêmicas que resultaram em 33 cursos de graduação, 54 de mestrado, 42 de doutorado, 142 de especialização, 623 projetos de extensão, intercâmbios e parcerias internacionais, e dois centros médicos de atendimento e pesquisa: Hospital Universitário Pedro Ernesto e Policlínica Piquet Carneiro – ambos com reconhecidas expertises em vários domínios das ciências médicas. Além do Colégio de Aplicação, que atende a estudantes nos níveis fundamental e médio.

Essas conquistas acadêmicas resultam do esforço conjunto de todos os segmentos da Universidade. Dentre esses esforços, destaque-se o programa Prociência, que permitiu à UERJ alcançar os atuais níveis de excelência. A UERJ é também pioneira em sua missão social ao ser precursora na implantação do sistema de cotas.

Todavia, somente em 2013 foi instituído, e de forma incompleta, o regime de dedicação exclusiva, existente há muito nas Universidades Federais. Além disso, há que se destacar a intolerável defasagem salarial frente à remuneração das Universidades Federais, resultado de 14 anos sem reajuste linear.

Neste momento, a UERJ enfrenta uma crise profunda e sem precedentes, agravada desde o final de 2015, quando o governo do Estado do Rio de Janeiro passou a submeter a Universidade a um progressivo abandono, um verdadeiro processo de sucateamento. A degradação tornou-se pública em fins de 2016, com a propalada falência do estado do Rio de Janeiro, que resultou na falta de pagamento do custeio da Universidade e dos salários de seus servidores. Submetida a condições inaceitáveis, a UERJ encontra-se paralisada. 

Conclamamos, portanto, o poder público, em suas diferentes esferas – estadual e federal-, a assumir sua responsabilidade pelo destino de 2.977 docentes altamente qualificados, 4.519 funcionários técnico-administrativos especializados e 32.220 estudantes, desta que é a 5ª melhor Universidade do Brasil. 

Ouça a entrevista: