Vamos!

Debate da Povo sem Medo busca programa progressista para um Brasil pós-Temer

Economistas Laura Carvalho e Luiz Gonzaga Belluzzo, sindicalistas Índio e Ivone Silva e sociólogo Ruy Braga falaram de possibilidades e ideias para a construção de um projeto de sociedade mais justa e inclusiva para o país

Mídia Ninja

Luiz Gonzaga Belluzzo e Laura Carvalho (dir.) defendem que Estado brasileiro volte a promover investimentos

São Paulo – A Frente Povo Sem Medo, por meio da plataforma Vamos!, realizou na noite de ontem (12) um debate em que dá continuidade às discussões para formatar um  projeto de esquerda no país. Participaram da rodada os economistas Laura Carvalho e Luiz Gonzaga Belluzzo, os sindicalistas Edson Carneiro (o Índio, secretário-geral da Intersindical) e Ivone Silva (presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região) e o sociólogo Ruy Braga. A Plataforma Vamos! foi lançada no dia 26 de agosto, em São Paulo.

Um dos pontos destacados por Belluzzo diz respeito ao desemprego e à política pela qual o Estado brasileiro investe cada vez menos. “A questão crucial é o desemprego. (É preciso) fazer com que as pessoas se libertem do desemprego, fazer com que o investimento público se recupere. Sair da casinha é fundamental”, disse, em relação aos economistas cujas teses prevalecem no país. “Ao contrário do que dizem, é perfeitamente possível fazer isso. A gente não pode ter medo.”

Na opinião de Laura Carvalho, para se começar a traçar um programa econômico que passe pela democratização da economia, “é preciso não enxergar a democracia como entrave”. “Isso nos distingue dos outros programas. Os grupos que comandam o país hoje enxergam a democracia como um entrave”, afirmou.

A professora elencou uma série de pontos que julga necessários para desenvolver um programa econômico progressista. Entre eles, a reforma tributária é o ponto central dentro de um processo de inclusão. Ela propõe, entre outras medidas, a redução de impostos sobre consumo, a elevação de tributos sobre dividendos e sobre heranças e aumentar a incidência de Imposto de Renda em faixas salariais mais altas, de forma a atingir os mais privilegiados. 

Para a professora da Universidade de São Paulo (USP), a inclusão social também deve se dar por meio de serviços públicos como moradia, transporte, saúde e educação. Assim como defendeu Belluzzo, Laura advogou por um Estado que volte a investir, para superar inclusive a carência do país em áreas como saneamento básico. Ela afirmou acreditar que o teto de gastos, introduzido pela Emenda Constitucional 95, “deve ser revisto por um próximo governo”.

Laura defendeu ainda que o país precisa diversificar as prioridades em suas políticas de Estado. A indústria automotiva, por exemplo, talvez já não deva ter o papel de condutora privilegiada no processo de desenvolvimento. Para ela, setores como esse “não podem determinar o que o Estado vai fazer”. Ela apontou a política de desmonte do papel do BNDES como preocupante e argumentou que o banco deve ter o papel de “permitir desenvolvimento de setores sustentáveis e de inovação”, que dê financiamento a projetos nos quais as empresas privadas não investem.

Ela destacou ainda que “não é mais aceitável que um programa de esquerda ignore o massacre das populações indígenas e o que acontece na Amazônia”. “Incentivar setores produtivos não significa que vamos fazer um programa que continue o desmatamento.” Em sua fala, o sociólogo Ruy Braga afirmou concordar com Laura. “Precisamos de saneamento básico, oferecer água limpa. O povo é carente de hospitais. Precisamos construir escolas”, acrescentou.

Bancos públicos

A presidenta do Sindicato dos Bancários, Ivone Silva, manteve sua fala na defesa de empregos e bancos públicos. “Defendemos um Estado do bem estar social, o mínimo que tínhamos na Constituição, e que vimos rasgada por um golpe com reformas absurdas. Temer não quer o Estado mínimo, ele quer o Estado-nada.”

Ela defendeu a existência dos bancos públicos por ser deles o papel de viabilizar atividades econômicas que o sistema financeiro privado, que visa apenas o lucro, não faz. “O sistema financeiro só faz especulação, compram os títulos públicos e não aplicam no desenvolvimento. Por isso os bancos públicos são importantíssimos para o país.”

Ivone citou a crise mundial iniciada em 2008, em que os bancos públicos,  como a Caixa e o Banco do Brasil, tiveram papel fundamental nas políticas anticíclicas desenvolvidas pelo governo brasileiro. “O que estão fazendo é terminar o que começaram na década de 90, privatizando as empresas públicas. Não temos um único banco público em São Paulo. O Banespa era importantíssimo para o interior do estado, para agricultura. E a Nossa Caixa foi incorporada pelo Banco do Brasil. Hoje, os governos municipal (de São Paulo, com João Doria),  estadual (com Geraldo Alckmin) e federal têm o mesmo discurso, que é privatizar tudo.”

Ruy Braga afirmou que a esquerda precisa “pensar de um jeito diferente”. Ele defendeu “abordagens mais ousadas” e “outras matrizes” para as políticas econômicas. “Ser de esquerda não é defender investimentos de bancos públicos no agronegócio. Não podemos mais ter receio de ter posições de esquerda.”

Segundo ele, assim como o agronegócio, a produção de alumínio ou outros produtos, por grandes corporações, no Amazonas, não pode estar no horizonte da esquerda brasileira. Ele defendeu que a construção de um programa progressista precisa “enfrentar interesses corporativos e principalmente os bancos”.

Para Nelson Carneiro, o Índio, da Intersindical, os setores progressistas precisam desenvolver “o debate de um programa que retome a esperança do povo, num contexto de golpe que desmonta o papel do Estado, amplia as privatizações e restringe as liberdades democráticas”.

Citando a fala de Belluzzo, afirmou que é urgente o enfrentamento do desemprego. “Somos um dos países mais desiguais do mundo, do ponto de vista social, regional, de classes, e isso se expressa na renda do trabalho. A gente precisa combater isso de forma persistente no nosso projeto”, defendeu.