A que preço?

Inflação cai, mas com alta do desemprego e retração no consumo

Em um ano, IPCA acumulado passa de 9% para 4%. Mas desemprego dispara e atinge 14,2 milhões. Nesta semana, IBGE divulga novos dados sobre mercado de trabalho e o PIB do primeiro trimestre. BC tem Copom

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GloboNews destaca ‘retomada’ do poder de compra à custa do desemprego e da recessão: bom para quem?

São Paulo – Em sua Carta da Conjuntura, divulgada sexta-feira (26), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) analisa a perda de força da inflação nos últimos meses, em movimento que ainda deve continuar. Mas também aponta outro aspecto dessa diminuição, notadamente na inflação de bens e serviços, que mostra “trajetória declinante possibilitada, em grande parte, pelo baixo dinamismo da economia e seus reflexos sobre o mercado de trabalho e o consumo das famílias”.

Com variação de 0,14% em abril, último dado disponível, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está acumulado em 4,08%. Há um ano, somava 9,28%. Os dados do IBGE mostram comportamento diferenciado. Alimentos como feijão preto (8,76%), feijão fradinho (34,35%), arroz (8,30%) e leite em pó (20,78%) sobem acima da média, enquanto feijão carioca (-18,76%) e cenoura (-45,28%) têm quedas consideráveis. Mas itens importantes como plano de saúde e produtos farmacêuticos registram altas de 13,57% e 8,18%, respectivamente. Energia elétrica e combustíveis diminuem de preço.

Já considerando o IPCA-15 (“prévia” da inflação oficial), o Ipea destaca que a alta dos alimentos no domicílio foi de 1,8% em 12 meses, como reflexo da safra favorável. O instituto prevê que o IPCA fecha em 3,8% neste ano. “Este quadro de alívio inflacionário é possibilitado pela combinação de uma série de fatores que incluem desde o fim dos efeitos da recomposição de preços administrados e do choque de preços dos alimentos, até a manutenção do câmbio em patamar favorável. Outras razões são o baixo dinamismo da demanda interna e o aumento da credibilidade do Banco Central, que parece ter ampliado a capacidade de ancoragem das expectativas de inflação”.

No restante do ano, diz texto assinado pela pesquisadora Maria Andréia Parente Lameiras, os riscos para a inflação estarão condicionados “ao comportamento da taxa de câmbio, que pode sofrer impactos do ambiente de incerteza política”. Mas a técnica acrescenta, que, mesmo com alguma desvalorização cambial, “os impactos sobre os preços ao consumidor não seriam imediatos e tenderiam a ser minimizados devido ao grande nível de ociosidade na economia”. Além disso, “o baixo dinamismo do mercado de trabalho deve contribuir para impedir uma aceleração mais forte dos preços livres, em especial dos serviços e dos bens de consumo”.

No primeiro trimestre, a taxa de desemprego, também medida pelo IBGE, atingiu 13,7%, a maior da série histórica, iniciada em 2012. Em igual período de 2016, estava em 10,9%. Isso significa que, em um ano, o número estimado de desempregados no país aumentou em 3,1 milhões e atingiu 14,2 milhões, total também recorde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.

Outro indicador importante mostra redução do poder de compra. Segundo o Produto Interno Bruto (PIB), a despesa de consumo das famílias caiu 4,2% no ano passado. Além de resultados ruins de emprego e renda, o IBGE destaca retração do crédito.

Juros e PIB

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reúne-se amanhã e quarta-feira (30/31) para definir a nova taxa básica de juros da economia, a Selic, atualmente em 11,25% ao ano. A taxa nominal vem caindo – três pontos percentuais nas quatro últimas reuniões, desde setembro –, mas a real ainda não, justamente por causa da inflação menor.

A trajetória de queda deve se manter. A aposta majoritária é de corte de um ponto percentual, para 10,25%. O resultado será anunciado no final da tarde de quarta.

No mesmo dia, o IBGE divulga dados da Pnad Contínua com resultados do mercado de trabalho no trimestre encerrado em abril. E na quinta-feira (1º) sai o PIB do primeiro trimestre.