Concentração

Donos da Globo estão entre as oito pessoas que têm mais de metade da riqueza do país

Enquanto os veículos da emissora se concentram em convencer os brasileiros sobre reformas da Previdência e trabalhista, três irmãos Marinho acumulam fortuna superior a R$ 40 bilhões

Joel Silva/Folhapress

Enquanto João Roberto Marinho e seus irmãos acumulam fortunas, suas mídias pregam redução de direitos na base da pirâmide

São Paulo – Apenas os três irmãos Marinho, herdeiros do grupo Globo, e mais cinco homens possuem juntos a mesma riqueza que mais de 100 milhões de brasileiros, que representam mais da metade da população do país. A fortuna acumulada pelos oito brasileiros mais ricos em 2016 é estimada em R$ 285,8 bilhões, segundo a revista Forbes. A conclusão foi divulgada ontem (16), no Fórum Econômico Mundial, na Suíça, pela ONG Oxfam, no estudo Uma economia humana para os 99%.

Completam a lista dos mais ricos do Brasil, pela ordem: Jorge Paulo Lemann (sócio da Ambev e dono da Budweiser, Burger King e Heinz); Joseph Safra (dono do banco Safra); Marcel Herrmann Telles (sócio da Ambev e também dono da Budweiser, Burger King e Heinz); Carlos Alberto Sicupira (outro sócio da Ambev e dono da Budweiser, Burger King e Heinz); Eduardo Saverin (cofundador do Facebook); e João Roberto Marinho (herdeiro do grupo Globo).

Na sexta posição da lista, João Roberto está empatado com seus irmãos José Roberto e Roberto Irineu Marinho, cada um dono de um patrimônio avaliado em R$ 13,92 bilhões. Se incluísse os três – patrimônio de quase R$ 42 bilhões –, a lista teria oito bilionários com ainda mais riqueza concentrada.

A profunda desigualdade brasileira é similar ao que acontece em âmbito mundial. De acordo com o estudo apresentado pela Oxfam, apenas oito homens possuem a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de pessoas da metade mais pobre da humanidade.

Para Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam, os grandes negócios e os indivíduos mais ricos do mundo estão se aproveitando da crise econômica, pagando menos impostos, reduzindo salários dos trabalhadores e influenciando a política de seus países em benefício próprio.

Embora as fortunas de alguns bilionários possam ser atribuídas ao seu trabalho duro e talento, a análise da Oxfam para esse grupo indica que um terço do patrimônio dos bilionários do mundo tem origem em riqueza herdada, enquanto 43% podem ser atribuídos ao favorecimento ou nepotismo”, diz o documento.

O documento associa ainda a concentração de riqueza à remessa de fortunas a paraísos fiscais, associada a sonegação de impostos, e ao aumento do lucro de acionistas de empresas. Segundo a ONG, ocorre no mundo um aumento vertiginoso de ganhos dos altos executivos, enquanto salários de trabalhadores não mudaram ou até diminuíram.

“Em todo o mundo, empresas estão implacavelmente empenhadas em reduzir seus custos com mão de obra – e em garantir que os trabalhadores e fornecedores da sua cadeia de abastecimento fiquem com uma fatia cada vez menor do bolo econômico”, afirma a ONG.

A constatação coincide com um fenômeno em curso no Brasil pós-impeachment. Enquanto os controladores da Globo ostentam posição bilionária no ranking, os veículos da empresa dedicam seu noticiário a defender projetos que reduzem direitos dos trabalhadores. A reforma da Previdência tem sido alvo de séries de matérias especial nos telejornais e são frequentes editorias em defesa da “flexibilização” de leis trabalhistas e condenando a política de valorização do salário mínimo.

 

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