Inclusão social permanece como desafio para o país, dizem analistas

Samuel Pinheiro Guimarães: “Somente 40% do subsolo brasileiro é conhecido. Em um país desenvolvido, cada milímetro do território é mapeado” (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil) São Paulo – O Brasil tem […]

Samuel Pinheiro Guimarães: “Somente 40% do subsolo brasileiro é conhecido. Em um país desenvolvido, cada milímetro do território é mapeado” (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)

São Paulo – O Brasil tem hoje um papel importante no mundo, mas há ainda desafios como o conhecimento territorial e a inclusão social. A avaliação de especialistas foi detalhada durante a Conferência Foresight Brazil, realizada nesta quinta-feira (17), em São Paulo. O debate, de tema “Os Rumos do Brasil em Mundo Multipolar”, foi realizado pelo Instituto de  Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Projeto Foresight, da Sociedade Alfred Herhausen.

Para Samuel Pinheiro Guimarães, alto representante-geral do Mercosul e ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Lula, a política externa “altiva e ativa” do país é responsável por se alcançar esse patamar. Entre os desafios apontados por Guimarães, estão a integração dos sistemas de transporte, de energia e a qualificação dos fatores de produção, como o pleno conhecimento dos recursos naturais existentes no país. “Somente 40% do subsolo (brasileiro) é conhecido. Em um país desenvolvido, cada milímetro do territorio é mapeado”, afirmou.

Outro aspecto em que seria preciso avançar é a inclusão na ecomonia moderna de forma plena das cerca de 60 milhões de pessoas que recebem o Bolsa Família. Isso passa pela transformação do sistema produtivo, segundo ele.

Para João Carlos Ferraz, diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Brasil tem uma grande capacidade de competição, tanto no mercado internacional como internamente. Mas as exportações da indústria perdem participação na balança comercial do país, mesmo com um crescimento no comércio maior do que a média mundial. Ele explica que isso se deve à dependência brasileira em relação à produção de commodities – produtos agrícolas e minerais.

Ferraz ainda ressaltou a baixa capacidade interna de oferecer financiamentos a longo prazo. Para ele, o setor financeiro não está preparado e a capacidade de poupança interna no Brasil ainda é muito limitada. A maior parte desse tipo de crédito, voltado a grandes investimentos, é obtida justamente por meio do BNDES e não pelos bancos privados. “Eu não tenho preocupação com índices inflacionários ou temas fiscais, porque em relação a outros países nós estamos muito bem”, afirmou.

Protagonismo

Sobre o protagonismo do Brasil na relações internacionais e na condução de sua política, os especialistas estrangeiros evidenciaram a capacidade institucional e humana. Peter Mandelson, presidente do Instituto Policy Network e ex-ministro de Estado britânico, afirmou que o Brasil é um país “abençoado” por pelo menos quatro motivos: tamanho, valores, recursos naturais e governança.

Entretanto, Mandelson destacou a necessidade de haver mais pessoas preparadas para conduzir os negócios, para que as diretrizes sejam refletidas também dentro de sistemas internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), Organização das Nações Unidas (ONU) e o grupo dos 20 países mais industrializados do mundo (G-20). Assim como também garantir novas respostas no comércio e nas mudanças climáticas.

Emprego e crescimento

Para Deepak Nayyar, professor da Universidade Jawaharlal Nehru e ex-economista-chefe do governo indiano, a rápida recuperação econômica pós-crise de países como Brasil, China e Índia foram evidenciadas em razão da estabilidade de suas economias. As condições de inflação moderada e boas reservas de moeda foram as bases para isso.

O ex-ministro ressaltou a importância adoção de programas de “empregabilidade” rural, como aconteceu na Índia, e o Bolsa Família, no Brasil, para a superação da crise. Ele explicou que a adoção de medidas favoráveis de incentivo fiscal e geração de emprego permitiu que a política monetária permanecesse estável.

“Precisamos falar em distribuição de renda e na restauração do crescimento com base no consumo e nos ativos. É hora de criar empregos. o que é bom para o emprego é bom para o crescimento econômico”, destacou.

Para os países que ainda não se encaixam nesse mundo multipolar, o economista indiano acredita ser necessário que as nações mais desenvolvidas criem condições para que os “retardatários” possam participar do novo cenário. “A população mundial não poderá avançar sem que um terço avance”, disse Nayyar. Ele referiu-se à parcela que vive abaixo da linha de pobreza no mundo.

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