Ipea cria ‘Focus’ do setor produtivo

Indicador que media expectativa do setor produtivo ganha nova versão, incluindo medianas das estimativas de entidades do setor, além de sindicatos e outras organizações. Modelo permite confrontar dados do mercado financeiro

(Foto: Antonio Cruz/ABr)

O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulga, nesta quinta-feira (25) uma versão repaginada do Sensor Econômico, um índice que mede as expectativas dos setores produtivos. Com a mudança, a análise deve permitir uma comparação mais precisa com as projeções do mercado financeiro, aferidas atualmente pela Pesquisa Focus, uma publicação do Banco Central.

A mudança era programada na Diretoria de Estudos Macroeconômicos (Dimac) e coincide ainda com o primeiro ano completo pelo Sensor. No entanto, a divulgação ocorre poucos dias antes da provável saída de Henrique Meirelles da presidência do BC. A medida coloca em debate o modelo de regime de metas de inflação adotado no Brasil, já que o Comitê de Política Monetária (Copom) tem, como fator decisivo para definir a taxa básica de juros da economia, as projeções de analistas do mercado financeiro.

Como autoridade monetária, a principal preocupação do Banco Central desde 1999 é responder pelo desempenho dos preços perante a meta projetada. Questões como crescimento econômico – e consequente geração de emprego – não fazem parte das responsabilidades da instituição. Para os críticos do regime de metas de inflação, desde que foi implementado, é demasiadamente influenciado pela visão do mercado financeiro.

Criado em fevereiro de 2009, o Sensor Econômico tinha, inicialmente, o objetivo de medir qualitativamente a avaliação de entidades patronais da indústria e do agronegócio, bem como da sociedade civil, como o Departamento Intersindical de Estátística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Porém, as projeções serviam de base apenas para a confecção de um “termômetro” que apontava se havia otimismo, ressalta ou pessimismo nesses setores, no que diz respeito ao crescimento econômico, emprego etc.

Ao transformar o relatório em um conjunto de médias, o Sensor passa a ser um contraponto ao Boletim Focus, porque reúne as mesmas projeções, mas de fontes diferentes. A periodicidade passa a ser bimestral – a publicação do BC é semanal. Serão 12 indicadores, em vez dos 15 sobre os quais opinam os agentes financeiros. Serão menos índices de inflação e questões como emprego, exportações e importações.

Para João Sicsú, responsável pelo Dimac desde 2007, as taxas de juros e câmbio que vigoraram nos últimos tempos tiveram influência sobre a qualidade do crescimento econômico brasileiro. “Não podemos dizer que as restrições (do regime de metas) são excessivas. Fosse assim a economia não estaria crescendo a taxas bastantes aceitáveis desce 2006 – excetuando o ano de 2009, ano de crise e forte desaceleração”, pondera.

“Por outro lado, as taxas de juros e de câmbio desaceleram a economia e pavimentam uma trajetória de ‘volta ao passado'”, ressalta Sicsú. “As taxas de câmbio e de juros têm puxado o freio de mão da economia, desaceleram e determinam a qualidade do crescimento”, dispara. “O câmbio valorizado e volátil incentiva a primarização da economia e a taxa de juros tem capitalizado excessivamente os ganhos de instituições financeiras e os ganhos dos grandes negócios do agronegócio e do extrativismo”, critica.

O resultado é que “a economia poderia ter crescido, a partir de 2004 e 2005, mais do que cresceu”. A análise do economista é de que o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve-se à combinação de investimentos e gastos púbicos em rubricas sociais – incluída a Previdência Social – com reajustes continuados do salário mínimo e do restante da massa salarial. Esse conjunto impulsiona o mercado interno. Mas seria possível ir além.

Sem defender diretamente uma mudança abrupta no regime de metas de inflação, Sicsú sugere instrumentos específicos para cada causa da inflação. “A inflação tem causas variadas, por exemplo, o preço internacional do petróleo, o preço dos alimentos ou os preços administrados”, explica. “Mas se se deseja sair do regime de metas, um modelo de transição deveria ser elaborado”, alerta.

Para o economista, superada “essa tensão” provocada pelo controle da inflação acima de tudo, a economia poderia crescer “de 8% e 10% ao ano em breve” e com uma industrialização mais densa em tecnologia.

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