Zebra na Rússia

Na sua estreia em Copas, Islândia faz história

No duelo contra a Argentina, atual vice-campeã, islandeses garantiram o empate e chamaram a atenção para o país menos populoso a participar de um Mundial

Helgi Halldórsson/Creative Commons

Islândia contra a Dinamarca, em jogo de 2011: ascensão nos últimos anos é quase uma improbabilidade estatística

São Paulo  Em setembro de 2015, a Islândia entrava para a história da Eurocopa ao empatar com o Cazaquistão e conseguir uma vaga inédita para a competição que seria disputada no ano seguinte. Superou em seu grupo equipes tradicionais como Turquia e Holanda, tornando-se o único país com menos de um milhão de habitantes a disputar o torneio continental.

Mas a façanha islandesa não pararia ali. Na fase de grupos, o time empatou com Portugal e Hungria, batendo a Áustria e garantindo sua passagem para as oitavas de final, quando derrotou a Inglaterra por 2 a 1. Só parou diante da vice-campeã França, quando perdeu por 5 a 2. Faltava ainda disputar uma Copa do Mundo, o que quase aconteceu em 2014, quando a seleção esbarrou na Croácia na repescagem das eliminatórias.

A classificação veio, e com autoridade. No grupo I das eliminatórias da Europa, a Islândia ficou em primeiro, com 22 pontos, dois a mais que a Croácia e à frente também de Ucrânia e Turquia. Carimbado o passaporte para a Rússia e realizado o sorteio dos grupos do Mundial, ficava a dúvida: como o time iria se portar diante de uma das sempre favoritas, Argentina, em sua estreia?

Mais uma vez a Islândia, terra do fogo e gelo, surpreendeu os descrentes. Com o esquema de jogo baseado na solidez defensiva, quase sempre com marcação dobrada contra o jogador adversário que tem a bola, a equipe suportou a pressão argentina e chegou a ameaçar mais de uma vez a baliza rival, com direito à defesa de pênalti cobrado por Lionel Messi, cinco vezes eleito melhor do mundo. O goleiro autor da proeza, Hannes Halldorsson, trabalha com audiovisual, já dirigiu clipes e comerciais.

Sim, é óbvio que para os amantes do futebol-arte ver a seleção islandesa não é exatamente um deleite para os olhos. Mas é a forma de se jogar de quem compreende suas próprias limitações. O site Observador fez um cálculo do quão difícil é selecionar jogadores em um país que tem 332.529habitantes.

No total, o país tem 167.270 mil homens disponíveis, mas, se levarmos em conta aqueles que estão entre 18 e 35 anos de idade, o número cai para 44.411 possíveis atletas para serem convocados pelo treinador islandês Haimir Hallgrimsson. Desse montante, se forem excluídos os que não tem um índice de massa corporal similar ao de atletas ou que possuem algum tipo de doença, chega-se a 14.517 pessoas. Tirando ainda pessoas cujas ocupações não permitiram a prática regular do futebol, como pessoas que trabalham em serviços de emergência (o país tem 216 vulcões), entre outros impedimentos, chega-se a 9.395 boleiros possíveis. Mas, de verdade, há 120 atletas profissionais registrados no país.

O empate com a Argentina é realmente um feito mais que heroico.