Vestígios do ‘vazio demográfico’ ainda assombram a Amazônia

São Paulo – As tentativas do governo brasileiro de promover o desenvolvimento da Amazônia brasileira após o fim do ciclo da borracha resultaram em uma série de problemas que afetam […]

São Paulo – As tentativas do governo brasileiro de promover o desenvolvimento da Amazônia brasileira após o fim do ciclo da borracha resultaram em uma série de problemas que afetam até hoje a região. A primeira fase da economia do látex terminou em 1912 e a segunda durou de 1942 a 1945, momento em que a gestão federal adotou um discurso de que havia um “vazio demográfico”. 

Durante o regime militar foi criada a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) com a finalidade de planejar, coordenar, promover a execução e controlar a ação federal na Amazônia Legal – Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão -, tendo em vista o desenvolvimento regional. 

Segundo o jornalista Pedro Ortiz, que cobre temas relacionados ao meio ambiente há 20 anos, havia uma visão negativa sobre a Amazônia durante a criação da Sudam. “Trabalhava-se com as ideias de povoar e colonizar como se o local fosse um grande ‘vazio demográfico’, o que não era, e que não morava ninguém lá, porque a maioria da população era de povos indígenas”, disse. 

O diálogo de que a Amazônia era uma região de “terra sem homens” resultou na chegada de contingentes populacionais vindos do Nordeste. “A migração intensificou a colonização agrícola oficial na Amazônia e, com isto, criou em consequência os conflitos sociais, que perduram até hoje”, conta o professor de desenvolvimento socioambiental na Universidade Federal do Pará (UFPA), Sérgio Bacury. “Atraiu milhares de pessoas sem nenhuma especialização técnica, sem recursos para investir em qualquer atividade produtiva na região, e com intensa demanda por benefícios sociais que o poder público local (estados e municípios) não estava preparado para dar resposta imediata às pessoas que migraram e para a própria população local.”

Na criação da superintendência, a Amazônia representava a região com menor densidade demográfica no país. A realidade não mudou, mas, segundo Bacury, não há mais razão e nem tampouco necessidade de o local ser considerado um “vazio demográfico”. Hoje, segundo dados do IBGE, são 23 milhões de habitantes, cerca de duas pessoas por quilômetro quadrado. 

A mesma visão que culminou em problemas na Amazônia também trouxe à tona importantes discussões. “Essa visão de colonização, de desenvolvimento torto, trouxe uma série de problemas, mas, por outro lado, levantou questões importantes para pensar de que forma as pessoas que vivem na Amazônia também possam ter acesso aos direitos básicos humanos e sociais, como transporte, alimentação, energia, trabalho educação, saúde”, observou Ortiz. 

Thales Willian é estudante do curso de jornalismo “Descobrir a Amazônia, Descobrir-se Repórter”, do Projeto Repórter do Futuro, uma parceria entre a Oboré Projetos Especiais de Comunicação e Artes, o Instituto de Estudos Avançados da USP e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). 

Leia também

Últimas notícias