Em São Paulo, catadores da Granja Julieta pedem espaço adequado para trabalhar

São Paulo – Catadores de recicláveis protestaram nesta terça-feira (27), em frente à sede da prefeitura paulistana, contra a venda do terreno onde ficava a Cooperativa Granja Julieta, na zona […]

São Paulo – Catadores de recicláveis protestaram nesta terça-feira (27), em frente à sede da prefeitura paulistana, contra a venda do terreno onde ficava a Cooperativa Granja Julieta, na zona sul. Cerca de 100 pessoas participaram do protesto. Eles acusam a gestão do prefeito Gilberto Kassab (ex-DEM, a caminho do PSD) de favorecer empreiteiras e grandes investidores em uma ação de “higienização” social.

Para Anderson Lopes Miranda, do Movimento Nacional da População de Rua, a prefeitura quer valorizar os terrenos para depois vender. “A prefeitura não investe nas cooperativas. Só se importa com a especulação imobiliária”, acusa.

Os catadores trabalharam em um galpão na avenida Professor Alceu Maynard de Araújo de 2003 a 2008, quando foram obrigados a sair após um incêndio. O caso ficou cercado de suspeitas de que o incidente poderia ter sido criminoso, para forçar a saída dos trabalhadores.

Depois de muita pressão, a prefeitura cedeu outro local à cooperativa, embora menor e sem condição adequada para o trabalho, na visão dos catadores. “Tem dois banheiros pequenos e não há refeitório e nem local para escritório”, descreve a presidenta da cooperativa, Mara Lúcia Sobral Santos.

Em 2008, à época do incêndio, a cooperativa empregava 120 pessoas. Atualmente são 50, que convivem em um ambiente mal ventilado e sem espaço para ampliação. Mara conta que muitos trabalhadores voltaram para às ruas ou estão em albergues da prefeitura. Ela afirma que alguns morreram vitimados pela violência urbana.

“São pessoas vulneráveis que encontram aqui na Cooperativa uma porta de saída das ruas. A cooperativa fez um processo de reciclagem de vida, e isso se perdeu. O dano mental e moral foi enorme”, relembra a catadora.

Para Mara Lúcia, a prefeitura de São Paulo está promovendo uma “higienização” social na cidade. “O pobre não tem para onde ir, não temos mais lugar em São Paulo”, denuncia. “Somos invisíveis, para eles (poder público) somos o lixo da sociedade, e eles não entendem que quem limpa o lixo da sociedade somos nós”, diz Mara.

Remuneração

Os catadores são remunerados por quilo de material vendido para reciclagem. Mara critica o fato de que nem cooperativas nem trabalhadores serem remunerados pela separação e limpeza do material. “Recebemos toneladas de lixo misturado, muitas vezes com lixo orgânico, e limpamos, separados, prensamos tudo e depois colocamos em um caminhão. Todo esse trabalho não é reconhecido e nem ganhamos por ele.”

A Cooperativa Sempre Verde também permanece com ordem de despejo, após ser notificada no último dia 16 pela subprefeitura da Cidade Ademar, também na zona sul. Segundo os cooperados, o contrato de concessão do terreno expirou e ainda não houve qualquer contato para revisão.

A Rede Extremo Sul, movimento social unificado dos catadores da região sul de São Paulo, produziu um vídeo que mostra o processo de despejo, além de cenas em que Kassab declarava apoio à cooperativa em reunião com os trabalhadores, há dois anos.

A Rede Brasil Atual entrou em contato com a prefeitura e não obteve resposta até as 19h desta terça.

 

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