grupos de extermínio

Grupo denuncia assassinato cometido pela polícia a secretário de Segurança de SP

Na primeira vez em que um secretário recebe ativistas, grupo relata que jovem 'socorrido' por PMs chegou no hospital com oito tiros

Marlene Bergamo/Folhapress

Reunião era reivindicação antiga de movimentos. Grella (dir) afirma que 40 PMs foram presos esse ano

São Paulo – O secretário de segurança pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, recebeu hoje (14) em seu gabinete uma comissão formada por quatro integrantes de grupos que denunciam a existência de grupos de extermínio formada por policiais. Pela primeira vez, detalhes sobre a primeira chacina de 4 de janeiro, no Jardim Rosana, na zona Sul da cidade, vieram a público. Na ocasião sete pessoas morreram, entre elas Bruno de Cassio Cassiano Souza.

Bruno, de 17 anos, foi alvejado no pé no local da chacina e chegou a ser levado para a casa de conhecidos. Sua mãe, uma das participantes da reunião, relatou que a polícia foi chamada para socorrê-lo. Ao chegar ao Hospital Campo Limpo, o rapaz tinha oito ferimentos por bala, um deles na nuca, e morreu.

 

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Nove policiais envolvidos no episódio estão presos. São investigados por uma suposta represália a um vídeo feito em novembro do ano passado por um vizinho do bar onde ocorreu a cachina. As imagens mostram policiais retirando um morador de sua casa, o pedreiro Paulo Batista do Nascimento, 25 anos, e disparando quando ele já estava rendido. A ocorrência foi registrada como resistência seguida de morte.

Segundo Carolina Amanda Borges, integrante do movimento Comitê Contra o Genocídio da Juventude Negra, que atua contra a violência policial, o secretário ficou espantado com o relato. Grella marcou nova reunião para a próxima segunda-feira (20), para que a mãe do rapaz repita o relato a representantes da Ouvidoria, da Procuradoria, da Delegacia Geral e da Corregedoria da Polícia. “A partir desse relato a gente conseguiu provar que as coisas não são tal como elas chegaram aqui”, disse Carolina.

A reunião é a primeira entre os movimentos que denunciam os grupos de extermínio e um titular da SSP. Foi marcada depois que cerca de 200 manifestantes do Comitê Contra o Genocídio, do Periferia Ativa e do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocuparam, por cerca de uma hora e meia, a sede da secretaria, no centro da capital. Outras ocupações com o mesmo objetivo já haviam sido realizadas, mas sem sucesso.

Eles querem que as famílias das pessoas assassinadas por agentes do estado recebam indenizações equivalentes às pagas às famílias de policiais mortos em serviço. Reivindicam ainda meios seguros para encaminhar denúncias, apuração dos crimes e transparência nas investigações.

“A gente bateu muito nas questões da vias seguras para denunciar. Porque lá na zona sul, fundamentalmente, onde esse movimento atua, a gente não tem segurança nenhuma e a gente precisa disso o mais rápido possível”, afirmou Carolina.

Segundo ela, policiais do Departamento de Homicídios e Protecão à Pessoa (DHPP) ameaçaram a mãe do Bruno e a orientaram a afirmar em entrevistas que estava recebendo assistência. “Fora a quantidade de pessoas que estão se mudando da região por conta de ter feito denúncias e a polícia ter feito represálias”, relatou a ativista.

Durante o encontro, o secretário Fernando Grella Vieira reforçou a posição de “tolerância zero” para com abusos cometidos por policiais. Disse ao grupo que, neste ano, 40 policiais foram presos sob suspeita de participar de homicídios – incluídos os nove do caso da chacina do Jardim Rosana.

Grella observou, de acordo com Carolina, que não é da competência da SSP o pagamento das indenizações, mas que será “parceiro” no sentido de acionar a Procuradoria Geral do Estado e a Casa Civil. “A gente espera que essas indenizações venham por via administrativa, porque essas famílias estão com déficit, não só na questão financeira, mas emocionais, por falta de apoio psicológico.”

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