Violência contra a mulher

Em São Paulo, crimes de estupro aumentam 250% em uma década

'Precisamos falar sobre isto. Do contrário não vamos conseguir impedir essa prática criminosa”, diz a deputada estadual Beth Sahão

Cultura machista é apontada como uma das causas da violência contra a mulher

São Paulo – A quantidade de estupros notificados no estado de São Paulo aumentou 250% num período de 10 anos. Dados da Secretaria de Segurança Pública revelam o salto de 3.223 casos registrados em 2003, para 11.089 ocorrências em 2017. Em uma década, a média mensal de tal crime cresceu de 268 para 924 casos – mais de 30 por dia. O interior do estado concentra o maior número de ocorrências, com uma média de mais de 60% dos estupros. 

“O que estes dados revelam é a própria impunidade. Não há ações que punem,” afirma a deputada estadual Beth Sahão (PT). Acompanhada de diversos movimentos feministas, como a Marcha Mundial de Mulheres, CUT Mulher, Rede Feminista Maria Maria, entre outros, a parlamentar entregará ao Ministério Público Estadual, nesta quinta-feira (7), um relatório sobre o aumento do crime de estupro em São Paulo, além de cobrar providências.

Segundo Beth Sahão, o problema já foi levado, em outras ocasiões, ao conhecimento do governo do estado, comandado nos últimos oito anos por Geraldo Alckmin (PSDB), agora pré-candidato à Presidência da República. Entretanto, ela afirma, nada de efetivo foi feito até hoje. Por isso, diz ser preciso cobrar medidas concretas do governo e, particularmente, da Secretaria de Segurança Pública. 

“Sinto que a sociedade não quer falar do assunto, é algo que incomoda. Precisamos falar sobre isto, é nosso dever. Do contrário não vamos conseguir impedir essa prática criminosa”, afirma a deputada, atual líder do PT na Assembleia Legislativa paulista. 

Beth Sahão acredita que a origem desse tipo de violência é a cultura machista arraigada na sociedade brasileira, uma cultura que só será modificada por meio da educação. Porém, falar sobre o tema nas escolas ainda é uma dificuldade. Como exemplo, cita a polêmica que sempre surge quando alguém propõe o debate sobre gênero nas escolas. Para a deputada, é importante incluir esse assunto entre os jovens estudantes, para que a educação não seja sexista, evitando formar meninos que se achem “donos” das meninas, meros objetos dos seus desejos.

“Depois esse menino cresce e se acha no direito de humilhar, de violentar a mulher. Só se muda essa cultura através da educação. Precisamos sair desse patamar vergonhoso, são dados que nos envergonham”, afirma. 

Para ela, o atual ambiente de violência na sociedade brasileira também favorece a incidência dos crimes de estupro. “Me pergunto onde vamos parar com tudo isto.” 

A deputada petista diz que denunciar as alarmantes estatísticas de estupro no estado de São Paulo é o que ela e os movimentos feministas podem fazer, assim como exigir a discussão do tema nas escolas e cobrar do poder público que melhore a estrutura dos abrigos e delegacias especializadas em violência contra a mulher. 

“Tem um conjunto de medidas específicas para a questão de gênero e que não são adotadas”, critica. Ela acredita que dar visibilidade aos dados sobre o crime de estupro deve ampliar a visibilidade para o tema e chamar a atenção da sociedade, o que deve mudar significativamente a incidência deste tipo de crime contra a mulher.