Entrevista

‘Ser humano não pode viver sem ter casa’

Coordenadora da Frente de Luta por Moradia diz que ocupações são resultado da falta de políticas de habitação e da especulação imobiliária. E desfaz preconceitos sobre os sem-teto

reprodução/TVT

Hotel Cambridge revitalizado pelas famílias de moradores é resultado da luta por habitação em São Paulo

São Paulo – A falta de políticas públicas efetivas para resolver o problema do déficit de moradia “contribui 100%” para o crescimento das ocupações no centro de São Paulo. “O ser humano não pode viver sem ter casa, não pode viver sem ter condições básicas”, afirma a coordenadora da Frente de Luta por Moradia (FLM) Carmem Silva, para explicar que a principal motivação das ocupações é de natureza civilizatória. 

Ela diz que, em meio à comoção da tragédia do edifício Wilton Paes de Almeida, políticos e a imprensa tradicional, em vez de se preocupar com as vítimas e com as famílias que perderam tudo, estão, na verdade, mais preocupadas com a propriedade privada e em achar um culpado. 

“Na realidade, aquelas pessoas são vítimas de um sistema capitalista e de uma ‘austeridade econômica’ que afeta o Brasil, e que não pode ser negada. É a falta da política pública efetiva em áreas básicas que ocasiona tudo isso. Então o culpado não é quem ocupa, culpado é quem deveria prover a política pública”, diz a coordenadora da FLM, em entrevista nos estúdios do Seu Jornal, da TVT, nesta quinta (10).

Ela ressalta que os movimentos sociais ocupam para denunciar a especulação imobiliária de prédios abandonados e que não pagam os devidos impostos. São pessoas que foram despejadas, por não suportarem mais o custo dos alugueis, ou que viviam em áreas de risco.

Carmem conta que os prédios ocupados têm regras e normas, assim como qualquer outro condomínio, decididas coletivamente em assembleias. “Nós já temos uma rotulação que todo mundo que está nas ocupações são vândalos, pessoas que não têm o que fazer, que querem o que é dos outros. Muito pelo contrário. Quando a gente ocupa, não ocupamos um prédio recém-reformado ou recém-construído, com tudo novinho. A gente ocupa propriedades vazias, ociosas e cheias de lixo.”

Carmem conta que ela mesma também vem sendo perseguida, e já tem contra si uma ação judicial que a acusa de ter se beneficiado pela cobrança de taxas dos moradores da ocupação Hotel Cambridge. Ela relata que a ocupação foi multada pela Sabesp e o valor, repartido entre todos os moradores. A ativista acusa o promotor do caso de vazar informações do processo para a imprensa, apenas para criminalizar os movimentos sociais. Ela diz também que teve sua integridade física e a vida ameaçadas, por impedir que atividades criminosas se desenvolvessem no edifício.

Assista à entrevista do Seu Jornal, da TVT:

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