alimentação saudável

Ciência, religião e política se unem pela reforma agrária na Feira do MST

Feira Nacional da Reforma Agrária sediou o debate ‘Alimentação saudável é um direito de todos e todas’

rafael stedile

Conferência sobre alimentação saudável foi destaque da programação deste sábado no evento no Parque da Água Branca

Brasil de Fato – A conferência ‘Alimentação saudável é um direito de todos e todas’, realizada na manhã deste sábado (5), como parte da programação da  Feira Nacional da Reforma Agrária, reuniu conhecimento científico, religiosidade e mobilização política em defesa do movimento agroecológico.

A nutricionista Patrícia Jaime disse que as estatísticas de saúde demonstram que as principais causas de doenças e mortes em todo o mundo estão relacionadas à alimentação. Para ela, “a alimentação saudável tem o componente do acesso, mas também tem o componente da qualidade. E mais, tem a ver com o direito à terra, o que é fundamental”.

A nutricionista também aproveitou o momento de encontro e debate para fazer uma recomendação: “a minha primeira recomendação é: vamos cozinhar! Quanto mais a gente se afastar da cozinha, mais a gente se aproxima do alimento processado, que deriva de um sistema alimentar baseado na monocultura, no uso de agrotóxicos de maneira intensiva, na concentração da renda, na concentração da terra”, disse.

Patrícia ressaltou que assumir a responsabilidade pela produção do próprio alimento não é uma iniciativa para cuidar apenas da própria saúde, mas uma tomada de posição política. “Então as nossas escolhas no cotidiano, entre um alimento embalado e ir para a cozinha, são determinantes para o sistema alimentar brasileiro”, afirmou.

Já o bispo da Igreja Anglicana Dom Maurício Andrade destacou a profunda relação entre o ato de se alimentar e a religiosidade. “Quando a gente fala de alimentação e de religião, são duas coisas totalmente ligadas. Porque comida faz parte da religião. Você já viu alguma festa de igreja sem comida? Não tem. O povo diz que a gente se reúne para rezar e para comer. Alguém me perguntou: ‘O que você vai fazer lá? Comer ou cozinhar?’ Eu disse: vou comer, vou cozinhar e vou partilhar a alegria de levar a compreensão de que alimentação é parte do nosso diálogo, enquanto igreja, porque nós nos envolvemos e estamos juntos na comunhão a partir da mesa”.

“Não há falta de comida neste mundo. O que há é esse mal chamado desigualdade. A alimentação saudável é um direito de todas as pessoas”, concluiu o bispo. 

Um dos dirigentes nacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stedile reafirmou o compromisso do movimento em seguir insistindo no debate sobre a alimentação saudável como um direito.

“É uma obrigação que a Feira da Reforma Agrária, que traz aqui amostras de produtos saudáveis de todo o Brasil, também aproveite esses espaços para fazer permanentemente uma conscientização, ou seja, levar conhecimentos, para que a população da cidade entenda que se ela continuar se alimentando com produtos do agronegócio, com agrotóxicos, ela vai pagar caro, com enfermidades. E nós temos que preservar a vida e a necessidade de alimentos saudáveis”. 

Homenagem a Paul Singer

Antes do início do debate, o MST organizou uma homenagem ao economista e intelectual brasileiro Paul Singer, falecido no último mês de abril.

“O nosso querido Paul Singer nos deixou um belo legado de vida, de experiência, que serve para toda a militância, não só do campo, mas a militância de esquerda em geral”, disse João Pedro Stedile.

Stedile destacou ainda o legado deixado por Singer ao longo de sua trajetória. “Ao longo da vida dele, ele representou o que é ser um militante estudioso, dedicado e extremamente comprometido com a classe trabalhadora”, disse.

“E no final da vida, nos últimos dez anos, durante os governos Lula e Dilma, ele se dedicou a estudar e a implementar a ideia da economia solidária. No sentido de que os trabalhadores precisam construir experiências práticas associativas para eles produzirem bens em geral, seja na agricultura ou no setor de serviços, e ao mesmo tempo se apropriarem dessa riqueza, ou seja, que os bens produzidos pelo seu trabalho fossem distribuídos para quem trabalha. O que é, na prática, o socialismo”, completou.

A conferência fez parte de uma ampla programação de atividades formativas que estão sendo realizadas durante a 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que inclui ainda debates sobre o uso de agrotóxicos para a produção de alimentos e genocídio da juventude negra. A feira vai até o domingo (6) e está aberta ao público de forma gratuita das 8h às 20h no Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo.

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