'ficção ruim'

Jovens denunciados por ‘crimes que viriam a ser cometidos’ têm nova audiência

No Fórum da Barra Funda, os 18 jovens detidos no Centro Cultural São Paulo (CCSP) em emboscada armada por militar infiltrado recebem a solidariedade de amigos e familiares

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Dezenas de pessoas acompanham a audiência em defesa dos jovens detidos

São Paulo – Os 18 jovens que respondem a processo penal, mesmo sem ter cometido crimes, após emboscada do capitão do Exército infiltrado William Pina Botelho, de codinome Balta Nunes, passam na tarde desta sexta-feira (10) por nova audiência no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste da capital paulista. Os jovens estavam reunidos para participar, em 4 de setembro de 2016, de um ato contra o presidente Michel Temer (PMDB).

Foram 22 detidos no Centro Cultural São Paulo (CCSP) – quatro acabaram liberados por serem menores de idade. Um deles afirma que sequer iria para a manifestação. Por sua vez, o Ministério Público, na representação do promotor Fernando Albuquerque Soares de Souza, acusa o grupo de formar uma “organização criminosa” e de “corromper menores”.

O repórter da Rádio Brasil Atual Victor Labaki acompanha a audiência. “Estão reunidas na porta do Fórum aproximadamente 50 pessoas com uma faixa escrita ‘Solidariedade aos 18’. É a segunda audiência desses jovens. Hoje, serão ouvidos um delegado do Deic, para onde eles foram levados após serem detidos no CCSP, e um policial. Na audiência anterior, no dia 22 de setembro, foram ouvidos outros três policiais”, relata.

Todas as testemunhas ouvidas até então foram as de acusação. Para justificar a denúncia, o promotor argumenta que os jovens portavam frascos de vinagre (utilizados para reduzir os efeitos do gás lacrimogêneo), materiais de primeiros socorros, um “escudo” e uma câmera fotográfica que, de acordo com o promotor, os suspeitos “usariam para registro de ações criminosas e posterior divulgação em redes sociais e outros meios”.

Clarissa Resh, companheira de um dos jovens presos que ia encontrar seu namorado no dia, mas acabou se atrasando, está presente no ato em defesa dos 18. “Está bem difícil, não achamos que isso ia dar em nada. Foi um absurdo o que aconteceu. Quando vimos que eles seriam julgados, tentamos ler tudo que tinha sobre o caso. É uma peça de ficção ruim. O promotor escreveu 60 páginas, 20 são o histórico do Movimento Passe Livre (MPL). Mas não tem conexão nenhuma”, diz.

“Estão querendo criar uma história que não existe. O promotor ainda dá a entender no texto que ele está sendo muito legal de enquadrar os meninos em formação de quadrilha e não terrorismo. Porque, para ele, isso é terrorismo (…) é uma tortura para os pais, para os familiares”, completa Clarissa à Rádio Brasil Atual.

A expectativa de Rosana Cunha, mãe de Gabriel Cunha, um dos detidos, é que ainda hoje ouçam a defesa. “Imaginamos que comecem a chamar essas testemunhas, que finalizem a acusação. A defesa já está aqui, do lado de fora, assim como os pais. Vamos aguardar essa decisão. Estamos aqui para mostrar para a juíza que os meninos não fizeram nada de errado. Esse processo é completamente absurdo, não existem provas e eles estão sendo acusados por um ato que eles não foram.”

 

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