111 mortos

Nos 25 anos do massacre do Carandiru, jornalistas lançam livro

Publicação aborda dificuldade de obter informações confiáveis logo depois do episódio no presídio paulistano

Rovena Rosa/Agência Brasil

Ato realizado em 2016, em São Paulo, lembrou o massacre do Carandiru. Tribunal de Justiça anulou julgamento

São Paulo – O chamado massacre do Carandiru, em que oficialmente 111 presos foram mortos pela PM no presídio na zona norte paulistana implodido em 2002, completa 25 anos nesta segunda-feira (2), até hoje com a sombra de histórias por serem reveladas e insatisfação com o fato de o Tribunal de Justiça ter anulado o julgamento feito no ano passado. Uma nova face desse triste episódio será abordada nesta noite, com o lançamento de um livro-vídeo que aborda a cobertura da imprensa paulista naquele 2 de outubro, uma sexta-feira véspera de eleições municipais.

Carandiru – 25 anos tem 40 minutos de duração e traz depoimentos de 13 profissionais da imprensa, com ênfase no extinto Diário Popular (atual Diário de S. Paulo), onde trabalhava a autora do livro-vídeo, a jornalista e advogada Selma Nunes. O lançamento será realizado a partir das 19h, na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado (Rua Rego Freitas, 530, Vila Buarque).

Como diz Selma, a história é contada por “jornalistas de texto e imagem, que garimparam a notícia em terreno árido”, convivendo com polícia e política no mesmo plano. No domingo 4, haveria eleições para prefeito, e o governo estadual, comandado por Luiz Antônio Fleury Filho, foi acusado de omitir ou ocultar informações para não prejudicar a candidatura do PMDB na capital paulista – o noticiário inicial falava em apenas oito mortos na operação. De qualquer forma, Aloysio Nunes não conseguiu ir para o segundo turno, disputado por Eduardo Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PDS).

“Nós tivemos de garimpar a notícia ao máximo, porque as fontes oficiais não eram confiáveis para nos dizer exatamente o que estava acontecendo”, lembra Selma. “O próprio Ubiratan Guimarães, que atendia os repórteres na porta da cadeia, afirmava que tinha oito mortos mesmo e tudo o mais era invenção”, acrescenta, citando o coronel da PM responsável pela invasão do presídio.

Em 2001, o coronel Ubiratan Guimarães foi submetido a júri popular pela operação policial que comandou em 1992, tendo sido condenado a 632 anos de prisão. Recorreu e, por decisão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em fevereiro de 2006, foi absolvido. Ele morreu em setembro desse mesmo ano, quando estava em seu segundo mandato como deputado estadual.

Na manhã de hoje, a seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) faria um ato pela lembrar os 25 anos do episódio. A entidade também está relançando o livro História de um Massacre – Casa de Detenção de São Paulo, de Marcello Lavenère Machado e João Benedicto de Azevedo Marques, feito a partir do relatório da visita feita dois dias depois, a pedido da OAB, “que foi a primeira entidade da sociedade civil a entrar no recinto”.

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