sem golpe

TVT amplia a voz da sociedade e é opção democrática de comunicação

Emissora 'atua verdadeiramente como instrumento de ação educativa e veículo cultural', diz Paulo Vannuchi, à frente da fundação mantenedora

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‘Tornou-se vital construir alternativas para quem liga o rádio, a televisão, navega na internet’

São Paulo – A TV dos Trabalhadores, TVT, acaba de completar sete anos no ar. Um projeto em que alguns talvez não acreditassem, nascido na fase inicial da República que se anunciou nova – com uma câmera e muitas ideias, e sonhos –, mas que vem se consolidando como alternativa democrática e plural. Uma disputa que o diretor da Fundação Sociedade Comunicação Cultura e Trabalho, Paulo Vannuchi, considera crucial. “Ou consolidamos e ampliamos a voz das lideranças e dos movimentos populares junto a milhões de pessoas que clamam por trabalho, justiça e dignidade, ou o país seguirá à mercê das ondas neoliberais capazes de anular décadas de lutas e avanços civilizatórios”, diz o ex-ministro.

A importância desse debate cresce na mesma proporção em que manifestações de ódio e intolerância passaram a ser multiplicar nas redes sociais. Vannuchi ressalta a existência de um contraponto, uma “blogosfera democrática que se fortaleceu nos últimos anos”. Por isso, a TVT “está consciente de que a democracia é o bem comum que nos une acima de divergências menores”.

Em formato inédito, concebida e mantida por entidades sindicais, a TVT integra uma rede que inclui ainda a Rádio Brasil Atual, o site RBA e a Revista do Brasil, um sistema que agora conta com três canais em FM. E prepara, como “presente de aniversário”, dois novos programas, “que seguramente produzirão impacto nacional e elevarão nosso alcance para vários milhões de brasileiras e brasileiros em todas as regiões”, como aposta Vannuchi. Um deles será de entrevistas e o outro tratará de esportes, especialmente o futebol, como parte de um debate amplo sobre democracia. Que anda em falta no país, mas que na TVT não vai faltar.

Em que a TVT se difere das TVs comerciais, e também das públicas e demais educativas?

É diferente em pelo menos três aspectos decisivos. Em primeiro lugar, trata-se da primeira vez na história da classe trabalhadora brasileira que uma TV é concebida, construída e sustentada por entidades sindicais.

A TVT está inteiramente aberta à blogosfera democrática que se fortaleceu nos últimos anos no enfrentamento do ódio e da intolerância”

Além disso, não sendo uma empresa privada, que sempre tem como objetivo a multiplicação de lucros – e lucros bilionários no caso da Globo –, a TVT atua verdadeiramente como instrumento de ação educativa e veículo cultural, ao contrário de “educativas” como a TV governamental paulista, que além de fazer publicidade comercial escancarada (e nenhum Ministério Público age contra), transforma um programa como o Roda Viva num palanque tucano, voltado algumas vezes à articulação golpista contra a própria democracia.

A terceira questão é que a TVT se engaja em todas as mobilizações pela democratização dos meios de comunicação, sabendo que essa disputa é hoje a pedra angular para os rumos da democracia no Brasil. Ou consolidamos e ampliamos a voz das lideranças e dos movimentos populares junto a milhões de pessoas que clamam por trabalho, justiça e dignidade, ou o país seguirá à mercê das ondas neoliberais capazes de anular décadas de lutas e avanços civilizatórios.

Por isso, está inteiramente aberta à blogosfera democrática que se fortaleceu nos últimos anos no enfrentamento do ódio e da intolerância. Oferece suas ondas a múltiplas parcerias pluralizadas, está consciente de que a democracia é o bem comum que nos une acima de divergências menores. Convida toda a rede de jornalistas e militantes do meio popular e sindical a ocupar a TVT como veículo de todos.

Quais conquistas você destaca nesses últimos sete anos e quais os objetivos para os próximos?

É preciso reconhecer o trabalho de Valter Sanches, que antes de assumir a direção da IndustriAll, com sede em Genebra, coordenou os primeiros anos de implementação, liderando toda uma equipe de gente muito capacitada profissionalmente, mas também portadora de uma dedicação militante. Foram discutidos e concebidos os primeiros programas, o Seu Jornal consolidou-se como noticiário mais disciplinado das mobilizações populares, a audiência subiu para os primeiros patamares planejados.

Um desafio central, agora, é multiplicar e nacionalizar amplamente essa audiência. A palavra da hora é popularização. Outro desafio central está em atrair a juventude, coisa impossível se a telinha está sempre focada no rosto de respeitáveis cinquentões ou sessentões como eu. É preciso romper as bolhas que se formaram nas redes sociais nessa recente avalanche reacionária. As bolhas estão presentes também no preconceito e na desqualificação intolerante que povoa a Globo, a Band, a SBT e a Record, sem falar das rádios. Nossa programação tem nítida preocupação com a política, mas não pode ser restringir a ela, sob pena de se ver bloqueada por amplos segmentos, inclusive da juventude, que foram envenenados pela cruzada contra a política, contra os partidos e contra a própria vida republicana.

Os temas da cultura, da ciência, dos esportes, do comportamento, da saúde, do meio ambiente, e mesmo de tópicos como saúde, culinária e beleza, também precisam ser abordados, para abrir contato com milhões de pessoas que não são militantes, mas se preocupam com os problemas, com a violência, com as desigualdades. No mínimo, pessoas que possuem em comum, em alguma margem da esquerda ou jogados na direita, o sonho de viver num mundo e num país melhores que os de hoje.

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Como você vê este momento da TVT? Cresce a importância nessa conjuntura de ofensiva aos direitos dos trabalhadores e de fragilidade da democracia?

Cresce de forma gigante. Vamos reconhecer: assistir ao Jornal Nacional ou a um noticiário da Jovem Pan, hoje, provoca ânsia de vômito em quem mantém alguma trajetória de respeito à vida democrática, à importância da política como o bem comum da tradição religiosa, à crença no progresso humano e nos valores civilizatórias de uma forma geral.

Então tornou-se vital construir alternativas para quem liga o rádio, senta para ver televisão, navega na internet. Elas já existem, em boa dose. Mas quase nenhuma com sinal aberto, como a TVT e a Rádio Brasil Atual.

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Vannuchi: desafios de multiplicar e nacionalizar a audiência da TVT e atrair a juventude para romper as bolhas nas redes sociais

“Tornou-se vital construir alternativas para quem liga o rádio, senta para ver televisão, navega na internet”

Comunicação hoje não avança se deixarmos de lado as redes sociais. Cada noticiário nosso de TV ou rádio precisa ir para a internet, em pílulas ou posts no Face, no YouTube, no Twitter, em todas as ferramentas. Os resultados, já sabemos: a audiência de um programa mais longo, que atingia 10 mil pessoas, pula para 100 mil quando distribuído em sucessivos blocos de 50 segundos. Tudo precisa chegar muito bem ao celular de cada pessoa, que acompanhará no intervalo de trabalho, no transporte público e até no bar onde pode estar bebendo cerveja e conversando com amigos e parceiros, em vez de ficar vidrada no aparelhinho.

Momentos difíceis como a prisão de Lula ou o velório de dona Marisa levaram nosso acesso à beira dos sete milhões. A logomarca TVT foi levada até ao horário nobre da concorrente Globo, além de ocupar as TVs europeias e norte-americanas. Isso prova nosso potencial ilimitado de crescimento. As pistas à nossa frente são muito largas.

Há perspectivas de se ampliarem as parcerias com entidades sindicais, além de metalúrgicos e bancários, e dar mais sustentação ao projeto?

É nossa aposta mais importante no momento atual. Construída inicialmente pelo esforço corajoso do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a TVT vem sendo sustentada há mais de dois anos também pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, sendo que as duas entidades buscam agora a ampliação do grupo de entidades dispostas a se engajar nesse mesmo compromisso histórico.

A união desses dois sindicatos na sustentação de todos os custos marca uma página muito importante na história da CUT e do movimento sindical, onde sempre estão presentes algumas disputas menores, ciúmes e conflitos de liderança e estilo. Televisão custa muito caro, muito mais caro que imprensa escrita, 10 vezes mais caro que rádio e 100 vezes mais caro que rede social. No atual momento, algumas das mais importantes entidades sindicais do Brasil estão se engajando ou sendo convidadas, com sinalizações fortes e algumas concretizações como recentemente decidiram a Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT) e a Fenae (Federação Nacional das Associações de Empregados da Caixa Econômica Federal).

A Apeoesp mantém conversações conosco há vários meses e outros contatos seguem adiante, mesmo porque, na crise econômica atual, as “deformas” golpistas e a queda na arrecadação dos sindicatos, a ampliação do leque de apoiadores e de sustentação financeira é uma exigência.

O gesto generoso dos dirigentes sindicais bancários e metalúrgicos marcou também outro passo fundamental: a Rádio Brasil Atual, além do site RBA e a Revista do Brasil, passam a compor com a TVT um sistema único em que toda a produção de um veículo deve ser divulgada também no outro. Há décadas os bancários de São Paulo se notabilizaram por inovações de impacto e uma das mais ambiciosas foi a implantação de uma rádio. No começo, o horário era alugado de emissoras comerciais. Agora, nosso sistema conta com três canais em FM, sendo que alguns programas, como o Jornal Brasil Atual e Hora do Rango, dão saltos significativos na audiência a cada mês. A programação musical ao longo das demais horas do dia, alimentada por música brasileira de qualidade, também nos dá uma identidade diferenciada.

Pode nos contar se vem novidade por aí na grade de programação?

“Um desafio central é multiplicar e nacionalizar amplamente essa audiência. A palavra da hora é popularização. Outro está em atrair a juventude”

Diz a boa superstição que não se deve divulgar muito o livro que ainda não está pronto, o filme ainda em montagem, a música em composição. Vamos respeitar essa crendice. Mas posso adiantar que a TVT preparou um presente para si mesma neste sétimo aniversário: devem estrear em setembro, no máximo outubro, dois novos programas que seguramente produzirão impacto nacional e elevarão nosso alcance para vários milhões de brasileiras e brasileiros em todas as regiões. Um deles busca trazer os esportes, especialmente o futebol, para mais perto do debate em torno da democracia e dos valores humanos da convivência e tolerância. Terá como apresentador um experiente e respeitado jornalista que se destacou no enfrentamento do golpe recente. O outro, será uma entrevista semanal com figuras e símbolos do campo democrático em que, pela primeira vez na história da televisão brasileira, também os entrevistadores serão mulheres e homens que dirigem sindicatos, lideram movimentos sociais, militam nos mais diferentes organismos voltados à proteção dos direitos humanos, amplo senso. Além de jornalistas sérios, é claro.

Existe possibilidade de expandir o alcance e a programação por meio de TVs educativas e públicas regionais? Parcerias?

A TVT já participa regularmente nas reuniões de articulação entre as TVs educativas, priorizando o intercâmbio com algumas emissoras. Aí se incluem também TVs universitárias. A emissora pública baiana, por exemplo, nos cedeu o sábado de Carnaval, com imagens que mantivemos no ar em disputa com as redes monopolistas, que ficavam centradas nos desfiles do Rio e São Paulo. Nossa audiência superou todas as TVs abaixo das quatro redes maiores.

Acabamos de visitar o Maranhão e o Piauí para avançar na mesma linha. Estão sendo agendadas visitas também à Bahia, Pernambuco, Minas Gerais, Paraíba, Ceará e vários outros estados. Algumas vezes com foco nas emissoras oficiais desses estados. Outras vezes, na rede de comunicação da própria CUT. É de nosso interesse incorporar também parcerias com universidades e com outras centrais sindicais, inclusive com segmentos dissidentes de centrais de forte inclinação oficialista e adesista. A prioridade é ampliar a resistência aos ataques raivosos que o desgoverno de plantão lança todo santo dia contra os trabalhadores.

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