oligopólios

‘Mídia convencional projeta imagem da mulher de forma depreciativa’

Mulheres debatem em São Paulo o seu espaço na mídia, tema da segunda edição do livro 'A Imagem da Mulher na Mídia', de Rachel Moreno, que trata da importância da democratização

reprodução;expressãopopular

‘Acho fundamental ter um espaço para discutir a imagem da mulher na mídia’, disse Rachel Bueno

São Paulo – “Comecei a perguntar para pessoas de diferentes países se existia controle social da mídia e como era a legislação. Recebi respostas de 13 países absolutamente democráticos e mais a União Europeia. Acabei sistematizando essa história e colocando no livro”, disse a pesquisadora do Observatório da Mulher e militante dos direitos das mulheres Rachel Moreno, que lançou nesta sexta-feira (18) a segunda edição atualizada da obra A Imagem da Mulher na Mídia, pela Expressão Popular e Fundação Perseu Abramo.

Além da autora, estiveram presentes a vereadora paulistana Juliana Cardoso (PT) e os deputados federais Luiza Erundina (Psol-SP) e Paulo Teixeira (PT-SP), que assinam o prefácio desta edição.

O evento aconteceu na livraria Expressão Popular, na região central de São Paulo. “Antes de militar na questão da democratização da mídia, militei muitos anos na questão de gênero”, disse. Rachel estudou as características da mídia brasileira, em especial sua concentração nas mãos de um oligopólio.

“Recentemente comecei a ouvir, em manifestações, pessoas entoando ‘o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo’. Pensei que era positivo isso retornar. É antigo, então pensei que precisávamos de algo novo. Então começaram a ligar a emissora diretamente à palavra golpe. Depois disso comecei a ouvir a Dilma, o Lula e outras pessoas falando que foram ingênuas em não encaminhar a discussão da democratização da mídia. Ou, se por acaso, tiverem nova oportunidade, esse vai ser um projeto prioritário”, avaliou.

Para a pesquisadora, esse processo pode ser positivo e pode agregar a questão de gênero. “Nesse momento, isso começa com força. Já que está começando a se mover, acho fundamental também ter um espaço para discutir a imagem dos movimentos sociais na mídia, e dentro disso a imagem da mulher especificamente em razão do impacto que isso tem causado”, disse.

A primeira edição do livro foi publicada em 2010, durante o último ano do mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A realização deste estudo e sua publicação em outubro daquele ano representaram relevante contribuição à luta do movimento de mulheres e do movimento feminista pela emancipação da mulher. Especialmente numa sociedade machista e patriarcal como a brasileira, cuja imagem tem sido projetada pela mídia convencional, e mesmo pela virtual, de forma depreciativa, estimulando, assim, o preconceito e a discriminação de gênero”, afirma Erundina.

A deputada classifica como de grande importância a reedição com acréscimos no presente momento da conjuntura política brasileira. “Momento crítico da vida nacional, em que, as limitadas conquistas das mulheres e dos trabalhadores em geral, encontram-se seriamente ameaçadas por medidas de ajuste fiscal promovidas por um governo ilegítimo, fruto de um golpe parlamentar”, disse.

O estudo do texto resgata os principais temas debatidos na 1a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizado em 2009, que colocou como prioridade a discussão da democratização da mídia. “O movimento social adotou a pauta, mas infelizmente o governo não seguiu o mesmo caminho”, disse Erundina.

Rachel ainda acrescenta que, durante a conferência, representantes da mídia corporativa criticaram a questão, alegando a defesa da liberdade de expressão. “Mas apenas a liberdade de expressão econômica, não social”, disse a autora.

O deputado Paulo Teixeira afirma, em seu prefácio, que acompanha o debate, que classifica como essencial, e liga a questão de gênero ao contexto da democratização dos meios de comunicação. “Discutir a imagem da mulher na mídia, desafio enfrentado por Rachel neste livro, implica em debater aspectos estruturais da sociedade, como exclusão, visibilidade e protagonismo. Implica, também, compreender o lugar de fala e ter empatia para estudar o tema através do olhar e dos ouvidos das mulheres. Na condição de leitor e espectador, e também como parlamentar, que observo esse debate.”

Assista também à reportagem da TVT