água para o sertão

‘Margens do Velho Chico’ e as histórias de seca, violações e esperança ao longo do rio

Em quatro capítulos, especial desvenda parte do projeto de transposição do rio São Francisco, que há três meses foi inaugurada pelo povo que recebeu com festa Lula e Dilma, que deram início à obra

José Eduardo Bernardes/BDF

A paisagem da seca que ganha novas cores com a esperança da chegada da água trazida pela transposição do São Francisco

São Paulo – Um novo capítulo da história do rio São Francisco foi escrito em 19 de março passado, quando o povo do sertão da Paraíba recebeu com festa os ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. No dia dedicado a São José, foi São Francisco que recebeu mais de 50 mil pessoas em festa.

Três meses depois, o Brasil de Fato lançou o especial Margens do Velho Chico, que conta a história da grandiosa obra na perspectiva de quem promoveu, denunciou e de quem espera com ansiedade o cumprimento da promessa de água e de tudo o que ela traz de bom consigo.

São quatro capítulos. São Francisco em mudança de curso percorre os pouco mais de 2.800 quilômetros de extensão do rio que nasce em Minas Gerais e passa por diversas comunidades sertanejas. A maioria delas convive, há mais de seis anos, com uma seca histórica – a maior dos últimos cem anos.

A grandiosidade do rio e do que arrasta consigo mostra dados do empreendimento que está orçado em R$ 9,6 bilhões. Deste total, R$ 8,8 bilhões já foram despendidos no projeto, que está dividido em duas partes mostradas em detalhes pela reportagem.

Em Água só para ver, os relatos de sertanejos e suas expectativas em relação à chegada da água, além de outros que tiveram de sair de suas casas desapropriadas para dar lugar à obra. São histórias e percalços de sertanejos que sofreram com a escassez, que passaram a sofrer com as obras e que deverão continuar tendo problemas apesar da transposição.

Esperança que deságua no curso do rio retrata a expectativa de dias melhores de gente como o sem-terra Carmélio de Souza Guerra, presidente da Associação de Moradores do Assentamento de Serra Negra. Para ele, a “transposição é uma coisa muito boa, maravilhosa. A gente mora aqui há 26 anos, e eu mesmo já passei várias noites sem tomar banho e sem jantar, porque não tinha água nem para fazer a comida. Hoje, a gente vendo esse tanto de água passando aí, não tem riqueza maior do que essa não”.

O especial resgata ainda aspectos que mostram que nem tudo são flores diante da transposição, como a resistência de governadores, comitês de bacias hidrográficas e de movimentos populares, preocupados com os impactos da obra. Um dos principais opositores da iniciativa foi o bispo Luiz Flávio Cappio, do município de Barra, na Bahia, que fez até greve de fome contra o projeto.

O Supremo Tribunal Federal (STF) também emitiu decisões desfavoráveis à obra, interrompendo-as em algumas ocasiões. As ações questionavam o licenciamento ambiental do projeto, que na época aguardava parecer do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).