Pátria de chuteiras

Futebol é elemento de integração de refugiados no Brasil

Em São Paulo, 3º Campeonato Multicultural reunirá jogadores de sete países, além dos brasileiros. 'Nesse tipo de ambiente a tendência é que as pessoas não se vejam diferentes', diz diretor do Adus

Renan Carvalhais Inocencio

A seleção do Haiti foi a vencedora do campeonato realizado em 2014

São Paulo – Jogadores do Haiti, Mali, Congo, Síria, Angola, Burkina Faso, Gâmbia e Brasil se enfrentarão hoje (21) pelo título do 3º Campeonato Multicultural, no Colégio Santa Cruz, em São Paulo. O campeonato é uma iniciativa do Instituto de Reintegração do Refugiado (Adus) e foi realizado em 2014 e 2015, com as seleções de Haiti e Mali sendo campeãs em cada ano, respectivamente.

Fundada em 2010, a ONG Adus tem como objetivo promover a inserção dos refugiados na sociedade brasileira por meio da qualificação e da geração de renda. De acordo com Marcelo Haydu, diretor-presidente do Instituto, atividades esportivas como o futebol facilitam a integração e a ampliação da rede de relacionamentos.

“A integração dos refugiados não é só a independência financeira, é importante ter uma rede de relacionamento mais ampla com brasileiros e espaços de interação. E nada mais fácil para isso do que eventos culturais. Nesse tipo de ambiente a tendência é que as pessoas não se vejam diferentes, o esporte tem o poder de, naquele momento, deixar todos no mesmo nível”, aponta Haydu.

Segundo o Instituto, mais de 300 pessoas estão envolvidas no campeonato, que será realizado com patrocínio do escritório Pinheiro Neto Advogados. Justamente por falta de recursos o campeonato não foi realizado em 2016.

O diretor-presidente do Adus lembra que no campeonato de 2014 houve um grande apelo por ter sido o ano da Copa do Mundo no Brasil, e em 2015 havia o clima pré-Olimpíada. Como diferencial, em 2017, além dos jogos de futebol, o evento terá também atividades para todos os acompanhantes, incluindo crianças e mulheres, com apoio do grupo de amigos Sorriso de Batata e do Palhaços Sem Fronteiras.

“Com o apoio do escritório de advocacia conseguimos viabilizar o evento que é importante para a causa do refúgio como um todo. As pessoas ficam sabendo como eles vivem, de onde eles vêm, é uma oportunidade de passar informação de qualidade sobre a situação”, pondera Marcelo Haydu.

Por haver muitos refugiados de origem africana em São Paulo e que, assim como os brasileiros, também gostam de futebol, Haydu afirma que a demanda por atividades como essa parte deles próprios. “Vai ser um dia diferente, de lazer, bacana, pra conhecer gente nova, o que é fundamental para a integração deles com os brasileiros”, afirmou.

Em 2016, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) estimou que existam cerca de 20 milhões de refugiados no mundo. No Brasil, segundo o Conselho Nacional para os Refugiados (Conare), órgão ligado ao Ministério da Justiça, há cerca de 8.950 refugiados de 80 nacionalidades diferentes, sendo 2.480 sírios (mais de 1/4 do total). O número total cresce se considerados os “reassentados” – estrangeiros que obtiveram refúgio em outro país e, por algum motivo, tiveram que migrar para um terceiro – e frutos de reunião familiar (1.468), totalizando 10.418 pessoas. Em fevereiro desse ano, havia cerca de 25 mil estrangeiros no Brasil aguardando a análise de seu pedido de refúgio.

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