Se todos fossem iguais...

Vannuchi: ‘Acho que o Tom também pensou no Antonio Candido ao fazer essa canção’

Analista lembra de Antonio Candido como o mais importante intelectual brasileiro, cujo ativismo pela democracia, o socialismo e os direitos humanos a imprensa comercial escondeu

EBC

Vannuchi diz que ativismo de Antonio Candido foi ocultado da grande imprensa. ‘Foi militante de esquerda e um dos fundadores do PT’

São Paulo – “Quando você levantava a questão de quem era o maior intelectual brasileiro vivo, havia um consenso: Antonio Candido.” A afirmação é do ex-ministro e membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) Paulo Vannuchi. Em sua coluna na Rádio Brasil Atual, Vannuchi diz que conviver com um dos mais importantes pensadores e ativistas sociais do século 20 foi “um dos maiores privilégios de sua vida”. Candido morreu na última sexta-feira (12), em São Paulo, aos 98 anos. 

Vannuchi contou histórias sobre o escritor e sociólogo e lembra que atuação de Antônio Candido na luta da esquerda democrática. “Ele ingressou na faculdade de Direito da uSP, no Largo São Francisco. Logo na década de 30, já lutou contra a ditadura de Getúlio Vargas.”

Apesar das homenagens e menções a ele em veículos da imprensa comercial, o ex-ministro afirma que o ativismo do intelectual foi ocultado. “Tentaram esconder que Antonio Candido foi um dos fundadores do PT, e sua condição de militante de esquerda, onde passou a vida inteira lutando pelo socialismo democrático”, observou. “Ele sempre repetia uma frase: ‘democracia sem socialismo, não é democracia. Socialismo sem democracia, socialismo não é’.”

Vannuchi lembra da participação do intelectual na presidência do conselho da Fundação Perseu Abramo – posto hoje ocupado por Dilma Rousseff. Fala também da presença de Candido no momento em que o jurista Goffredo da Silva Teles redigiu o manifesto “Carta aos Brasileiros“, em 1977, que repudiava a ditadura civil-militar e exigia o Estado de direito.

Segundo Vannuchi, Candido estava triste com rumos recentes da conjuntura política. Para ele, Lula representa um dos grandes ciclos da democratização brasileira. O primeiro foi a abolição, em 1888; o segundo, o processo de inclusão da classe trabalhadora urbana, durante o governo de Getúlio Vargas; e o terceiro seria a reforma agrária com a inclusão dos camponeses, feito por João Goulart. Lula liderou essa fase histórica da incorporação dos pobres no Orçamento da União com as políticas públicas de inclusão e os programas sociais.

Ele encerra o comentário com a música Se Todos Fossem Iguais a Você. A canção foi composta por Tom Jobim e Vinicius de Moraes para a peça Orfeu da Conceição (1956) – em que o poeta se inspira no drama mitológico grego Orfeu e Eurídice para construir uma leitura lírica e antropológica das favelas cariocas. “Esta música, parece hoje que ele até fez pensando também em Antonio Candido”, diz Vannuchi.

Ouça na íntegra o comentário na Rádio Brasil Atual.