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Decisão de Doria sobre ciclovias não teve diálogo e aumenta insegurança, dizem ciclistas

Prefeito definiu que vai eliminar ciclovias e ampliar ciclorrotas, vias com sinalização especial, mas que não têm separação entre carros e bicicletas

Aloisio Mauricio/Fotoarena/Folhapress

Demarcação em vermelho e elementos de separação da via para bicicletas serão extintos pela gestão Doria

São Paulo – O anúncio da gestão do prefeito da capital paulista, João Doria (PSDB), de que vai remanejar e trocar algumas ciclovias existentes por ciclorrotas – vias com sinalização especial, mas sem separação entre carros e bicicletas – foi considerada “estapafúrdio” pelo diretor da ONG Ciclocidade Rene Fernandes. “Essa medida vai colocar os ciclistas em risco onde for aplicada. O que ampliou a adesão à bicicleta foi a segregação do espaço. Ao retirar isso você expõe as pessoas aos carros”, avaliou. Ele também reclamou de não ter havido diálogo com os ciclistas sobre a medida, que ainda não foi definida em que locais será aplicada.

“A informação sequer nos chegou pelos espaços institucionais de diálogo, que são a Câmara Temática sobre Bicicleta do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito (CMTT). Fiquei sabendo porque uma jornalista nos procurou. Não houve qualquer diálogo. Estamos cobrando informações sobre o plano do prefeito para as ciclovias desde fevereiro e não tivemos retorno”, afirmou Fernandes, que é secretário da Câmara. O secretário municipal de Mobilidade e Transporte, Sérgio Avelleda, é o representante do governo municipal em ambos os colegiados.

A reclamação da falta de diálogo nos espaços vem desde o início da gestão Doria. Em janeiro, o prefeito anunciou que revisaria o plano cicloviário da capital paulista. Mas em nenhum momento ouviu os ciclistas ou apresentou qualquer proposta sobre suas ideias para essa área. As únicas ações efetivas no setor foram a suspensão da construção da ciclovia da Avenida Ricardo Jafet, no início de fevereiro, e a extinção de uma ciclovia no trajeto da rua Doutor Fausto de Almeida Prado Penteado com Avenida Amarilis, no Morumbi, zona sul da cidade.

O engenheiro de transportes e consultor em mobilidade Horácio Figueira concorda que as ciclorrotas são menos seguras para os ciclistas, mas não é contra a reformulação. “Ciclovia não como faixa de ônibus que já se sabe quantos veículos vão passar por ali todo dia. Tem locais com bom uso, outros com pouco uso e outras que estão abandonadas. E essas podem ser desativadas. O que precisa pensar é que uso vai ser dado ao local onde for retirada a ciclovia, para que não volte a ser mero estacionamento de veículos”, considerou.

Investimento

A primeira região a receber a nova diretriz para mobilidade por bicicleta será a Vila Prudente, na zona leste da cidade. Além dela, a ciclovia da Rua da Consolação, que liga a região da Avenida Paulista ao centro, também deve ser modificada, por ser considerada perigosa. A capital paulista teve um investimento em ciclorrotas na gestão de Gilberto Kassab (PSD), sem grande impacto na ampliação do uso da bicicleta. Na gestão de Fernando Haddad (PT), foram abertos 400 quilômetros de ciclovias.

Segundo o site Vá de Bike, a principal diferença entre ciclovia, ciclofaixa e ciclorrota é que a primeira é segregada fisicamente dos carros. Essa separação pode ser através de mureta, meio fio, grade, blocos de concreto ou outro tipo de isolamento fixo. A ciclovia é indicada para avenidas e vias expressas, pois protege o ciclista do tráfego rápido e intenso.

Já as ciclofaixas são apenas pintadas no chão, sem separação física de qualquer tipo. Pode haver demarcação com “olhos de gato” ou de tachões do tipo “tartaruga”, como os que separam as faixas de ônibus. Esse tipo é indicado para vias onde o trânsito motorizado é menos veloz, sendo muito mais barata que a ciclovia, pois utiliza a estrutura viária existente. É o tipo mais comum na capital paulista.

As ciclorrotas são um caminho, em que as bicicletas compartilham a via com carros e ônibus. Podem ser sinalizadas ou não. É a rota recomendada para o ciclista chegar onde deseja. Muitas vezes é aplicada em um local de uso reconhecido pelos ciclistas. “Esse tipo de via deve ter sinalização adequada, redução de velocidade para um máximo de 30km/h e fiscalização. Geralmente, é utilizada pelo ciclista que já tem experiência. Não somos contra a criação de novas ciclorrotas, mas isso deve ser feito sem acabar com as ciclovias existentes e na forma adequada”, destacou Fernandes.

Para ele, a retirada da ciclovia da Ria da Consolação não faz sentido. “As pessoas não vão deixar de usar esse caminho porque ele é o mais curto entre a Avenida Paulista e o centro. E isso é muito levado em conta por quem pedala e está gastando a própria energia. Então, retirar a ciclovia vai deixar as pessoas em risco. É uma via pensada para o trânsito de bonde, então sua inclinação é menor que a de outros locais da cidade. Eu uso esse caminho todo dia”, afirmou o diretor da ciclocidade.

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Avelleda disse que todas as mudanças serão conversadas. “Não vai ser sem negociação. Tudo que é novo tem resistência”, afirmou. Porém, os ciclistas já estão preparando uma manifestação contra as mudanças propostas para o dia 28 de abril, na Praça do Ciclista.