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Baldeações e distância do embarque põem em xeque trem para aeroporto de Guarulhos

Especialistas apontam problemas na proposta da Linha 13-Jade, mas avaliam que obra deve beneficiar população de Guarulhos, que anseia por mais transporte público

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

Trens antigos ainda são comuns na Linha 12-Safira, da CPTM, e podem ter problemas com aumento da demanda

São Paulo – Após várias promessas de uma ligação ferroviária entre a capital paulista e o aeroporto de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, as mais recentes informações sobre a construção e operação da Linha 13-Jade, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), empresa administrada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), deixam especialistas em mobilidade urbana preocupados com a funcionalidade da conexão. A ferrovia, que vai ligar a estação Engenheiro Goulart, da Linha 12-Safira (Brás-Calmon Viana) ao aeroporto, terá sua última estação a uma distância de dois quilômetros dos terminais mais movimentados. Além disso, o alto número de baldeações e a limitação de bagagens do Metrô pode dificultar o uso do sistema por quem for viajar.

O doutor em engenharia civil e consultor em engenharia de transporte Horácio Figueira avalia que o sistema tende a ser mais utilizado para o trajeto Guarulhos-São Paulo do que para ligar a capital ao aeroporto. “Vai atender somente os cidadãos de Guarulhos que queiram vir a São Paulo. Mais especificamente os moradores do bairro Cecap, que fica próximo da única estação intermediária. É um sistema quebra-galho para trazer o povo de lá para o centro de São Paulo. Vai dar demanda de manhã, de Guarulhos pra São Paulo. Não para o aeroporto”, afirmou.

Para Figueira, nesse sentido o projeto é benéfico à população, ainda que seja uma parcela pequena dos moradores de Guarulhos. Ele avaliou que deve ser uma prioridade a criação de um terminal de ônibus próximo da estação. “Dali vai chegar rapidinho até a estação Engenheiro Goulart, na Linha de Calmon Viana. Desafoga um pouco o sistema de ônibus intermunicipal, não pega o trânsito das rodovias. No entanto, o usuário vai ter de esperar outro trem em condições muito inferiores de qualidade e conforto, para depois desembarcar no Brás, andar da área da CPTM até o Metrô, fazer outra transferência”, ponderou.

A posição é compartilhada pelo especialista em mobilidade urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calabria, que considera que ainda há forte demanda por transporte nas duas cidades. Ele avalia que, mesmo com os problemas citados, a população vai dar grande uso ao sistema para ir ao aeroporto. “Qualquer nova rede, por menor que seja, vai ser utilizada. A população demanda melhorias no transporte e a rede que temos hoje é ínfima. Essa conexão vai ser importante, tanto entre a capital e o aeroporto como entre Guarulhos e a capital, se houver integração com os ônibus em Cecap”, afirmou.

Calabria considera que o maior problema é o atual abandono da CPTM. A Linha 12-Safira é uma das que registra mais problemas de paralisação e lentidão, tendo também alguns dos trens mais antigos rede, sem ar-condicionado. “Nesse momento, me parece grave aumentar a demanda da Linha 12.”

Figueira, por sua vez, avalia que o principal problema no atendimento ao aeroporto é a distância entre a estação final da Linha 13 e os terminais de maior movimento (2 e 3). A estação fica próxima do terminal 3, onde só operam duas empresas aéreas. Mesmo assim, o usuário terá de atravessar a Rodovia Hélio Smidt e o estacionamento. “Quem vai pegar esse sistema para ir ao aeroporto? No máximo quem vai fazer uma viagem curta, pouca bagagem, que não tem carro, nem dinheiro para táxi ou Uber. A pessoa vai ter de pegar mais um ônibus para acessar o aeroporto. Olha que loucura”, afirmou.

“Aquilo é uma indelicadeza com a sociedade de São Paulo. Pegar bilhões de Reais e jogar num sistema daquele. A grande pergunta é: eles fizeram alguma pesquisa mostrando esse diagrama de conexões para o usuário? Porque é um investimento feito pela metade, pelo retorno que vai ter à população”, criticou Figueira.

Com custo estimado em R$ 1,8 bilhão, e prometida para 2014, a ligação só deve ficar pronta no segundo semestre de 2018. A estimativa é de transportar 120 mil pessoas por dia em 12 quilômetros de extensão. Dados de 2015 do Aeroporto de Guarulhos registraram movimentação de 38 milhões de passageiros, além de seus 35 mil funcionários.

A proposta original, feita em 2007 pelo então governador José Serra (PSDB), de ligar a estação de Luz, na região central da capital, com o aeroporto de Guarulhos, foi descartada. Um morador da Vila Mariana, na zona sul, por exemplo, precisaria somente de uma baldeação para utilizar o serviço, nesse caso. Com o trem para o aeroporto saindo de uma conexão com a Linha 12, no entanto, será preciso fazer uma baldeação na Sé, outra no Brás – onde será preciso percorrer a longa distância que separa o Metrô da CPTM – e outra em Ermelino Matarazzo.

A proposta inicial também previa desembarque com acesso direto ao check-in. Os aeroportos Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e Guararapes, em Pernambuco, têm sistemas semelhantes. Foi a própria gestora do aeroporto, a concessionária privada GRU Airport, que vetou a chegada da Linha 13 ao saguão principal do aeroporto, já que, no local onde seria projetada a estação, pretende construir um shopping. Ao chegar em Guarulhos, os usuários serão transportados por um serviço ainda não definido. Uma conexão por Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) ou a extensão da linha de ônibus que circula entre os terminais de embarque está sendo estudada. 

 

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