Ocupação Colonial

Polícia volta a usar violência em reintegração na zona leste de SP

São cerca de 700 famílias que pediam o adiamento da reintegração para que pudessem se inscrever em programas de habitação da prefeitura. Recurso do MP também foi ignorado

Jorge Junior/Mídia NINJA

Policia Militar não poupou a utilização de forte aparato e violência na reintegração da Ocupação Colonial

São Paulo – Com bombas, balas de borracha e gás lacrimogêneo, a Tropa de Choque da Polícia Militar executou na manhã de hoje (17) ação de reintegração de posse da Ocupação Colonial, na região de São Mateus, zona leste de São Paulo. No local, cerca de 700 famílias ocupavam uma área composta por dois terrenos particulares e um terreno da prefeitura, e agora não têm para onde ir. 

Dezenas de policiais do batalhão de choque, além de caminhões blindados, estavam concentrados desde o início da manhã. A Justiça de São Paulo decidiu pela reintegração há cinco dias. Os moradores da ocupação tentaram negociar o adiamento da desocupação para que, ao menos, as famílias fossem devidamente cadastradas em programas de habitação da prefeitura. 

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) também chegou a entrar com ação pedindo a suspensão da reintegração. Ainda assim, a reintegração foi executada, antes mesmo que a Justiça pudesse julgar o pedido do MP.

Lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) pediam que os policiais aguardassem algumas horas até o horário de abertura do Fórum, quando o recurso poderia ser julgado. “Se o juiz acata esse pedido de adiamento, olha a situação que vai se criar”, apelava Guilherme Boulos, líder do movimento. “Um terreno abandonado há mais de 40 anos. Ninguém nunca fez nada. Agora que a gente fez alguma coisa para sair do aluguel, eles vêm tomar”, reclamou outro morador. 

Os moradores chegaram a esboçar resistência, com uma barricada na rua de acesso à ocupação. Há relatos de moradores feridos, repórteres que sofreram asfixia devido ao uso de gás lacrimogêneo pelos policiais e até animais de estimação machucados pela ação. A repórter da Rádio Brasil Atual Anelize Moreira também passou mal, por efeitos das bombas de gás.

É a primeira reintegração de posse executada na gestão do prefeito João Doria (PSDB), que afirmou diversas vezes que não iria tolerar ocupações. 

Até as 9h30, os moradores ainda acompanhavam a desocupação e tentavam retirar seus pertences. Eles deverão rumar para um novo acampamento, ainda sem local definido. “Não tenho lugar. Não sei o que vou fazer. Vou por as minhas coisas na garagem de uma amiga, e não tenho para onde ir. Sou sozinha, tenho 70 anos. Não sei o que fazer da minha vida”, disse uma moradora da ocupação. Os moradores da Ocupação Colonial encontravam-se dispersos pela região, abrigados da chuva por vizinhos. As crianças foram abrigadas em uma igreja também nas proximidades.

Em sua página no Facebook, o MTST comunicou que Guilherme Boulos havia sido preso pela PM de São Paulo. Em nota, o movimento classifica a prisão como “absurda” e ressalta que Boulos esteve o tempo todo procurando uma mediação para o conflito. Boulous foi preso por desobediência, e conduzido ao 49º DP, onde presta depoimento.  

Não aceitaremos calados que além de massacrarem o povo da ocupação Colonial, jogando-os nas ruas, ainda querem prender quem tentou o tempo todo e de forma pacífica ajuda-los”, afirma a nota.

Vídeo do Jornalistas Livres mostra a resistência dos moradores que, com pedras, tentam conter o ataque da polícia, armada com bombas e balas de borracha e protegida por escudos.

Eduardo Roz, ativista da área de direitos humanos, relata também em entrevista à Rádio Brasil Atual o palco de guerra em que se transformou a reintegração de posse na comunidade na manhã desta terça. 

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