Linchamento moral

Divina Valéria: ‘Grandes vítimas do acidente aéreo em Paraty são duas mulheres’

Acidente mostra tráfico de influência, falta de decoro, promiscuidade nas relações entre poderosos, o uso e o descarte de seres humanos – como a massoterapeuta Maíra e sua mãe, que era professora

Instagram/Divina Valéria

A hipocrisia que tomou conta da sociedade brasileira insiste em desconhecer a frieza dos homens poderosos, corrompidos até a médula

São Paulo – A transformista e cantora Divina Valéria afirmou hoje  (22) em sua página no Instagram estar comovida e ao mesmo tempo chocada com a hipocrisia manifestada nas redes sociais, nas quais a massoterapeuta Maíra Panas, e sua mãe, a professora Maria Hilda Panas, têm sido moralmente linchadas. As duas estavam no avião que levava o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, o empresário Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, seu amigo, e o piloto. Filgueiras era atendido por Maíra, que levou a mãe, para quem a viagem seria um passeio.

“O que mais me comove e me choca no trágico acidente aéreo em Paraty, onde perderam a vida um ministro do STF, um empresário-lobista e o seu piloto, são as outras duas vítimas, previamente condenadas ao forçado e providencial esquecimento: a jovem Maíra Panas e sua mãe”, escreveu.

Conforme a artista, a hipocrisia que tomou conta da sociedade brasileira “insiste em desconhecer a frieza dos homens poderosos, corrompidos até a medula, que oferecem e aceitam o sexo como moeda de troca”.

E que as desculpas são as mais esfarrapadas e ridículas, tentando cobrir o “sol tropical e ardente com a peneira furadíssima do cinismo”. Divina destaca que os cadáveres já estavam putrefatos, mas os nomes da “bela jovem e de sua mãe, uma mulher simples do interior do Mato Grosso, ainda não haviam sido divulgados enquanto buscavam uma explicação fajuta para suas presenças no voo da morte”.

“O que pensam dos brasileiros? O que acham de nós? Um bando de néscios, de beócios, de ingênuos? Esse trágico acidente mostra tráfico de influência, falta de decoro, promiscuidade nas relações entre poderosos, o uso e o descarte de seres humanos. As grandes vítimas são na verdade, Maíra (menina cheia de sonhos e que trilhou os caminhos tortuosos que a vida, madrastra, abriu para sua beleza exuberante) e sua pobre mãe. Sinto muito por essa flor ceifada no auge de sua juventude, beleza e alegria de viver”, afirma.

Ontem (21), a colunista Nathali Macedo, do Diário do Centro do Mundo, também questionou a inversão de valores no humilhante linchamento moral de duas mulheres.  “Não é relevante saber que Maíra batia na janela do avião, tentando, em vão, salvar a própria vida. Não é relevante saber que ela tinha sonhos, etapas incompletas e vontade de viver. O que importa, realmente, é sabermos o que a vítima fazia com o próprio corpo antes de morrer, porque nem mesmo quando estamos mortas nos deixam em paz. Não nos querem apenas mortas, nos querem humilhadas, diminuídas, desmoralizadas, esquecidas. Querem que não nos restem sequer as condolências.”

“Sofremos um golpe, congelaram gastos por vinte anos, um ministro do STF morreu misteriosamente, mas temos dois minutinhos na internet pra xingar de puta essa mulher que cometeu o disparate de viajar com um homem em seu avião particular, só pra não perder o hábito.”

 

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