País tem 241 rotas de tráfico humano: maior concentração em regiões pobres

Do total, 110 são relacionadas com o tráfico interno – intermunicipal e interestadual – e 131 com o tráfico internacional, de acordo com a única pesquisa sobre o tema no Brasil, em 2002

Goiânia é a cidade brasileira com maior número de casos de tráfico de pessoas (Foto: Marcello Casal/ABr)

São Paulo – Dados do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescente dão conta de 241 rotas de tráfico de pessoas no país. A informação consta da Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de exploração Sexual Comercial no Brasil (Pestraf), a única disponível sobre o tema no Brasil, de 2002. Do total, 110 são relacionadas com o tráfico interno – intermunicipal e interestadual – e 131 com o tráfico internacional. A região Norte tem a maior concentração de rotas (76), seguida pelo Nordeste (69), Sudeste (35), Centro-Oeste (33) e Sul (28).

O presidente da Fundação Interamericana de Defesa dos Direitos Humanos, Hélio Bicudo, comentou em reunião da CPI do Senado contra o tráfico humano no dia 27 de junho que as rotas dirigidas a outros países visam ao tráfico de mulheres adultas, e as domésticas, as adolescentes.

rotas no país

Bicudo disse que os traficantes raramente são apanhados porque, para isso, teriam de ser flagrados viajando com a pessoa, por isso muitas vítimas são levadas por parentes. Ele mencionou ainda estatísticas dando conta que 13,28% das denúncias mostram que o explorador é parente da vítima, geralmente pai, padrasto, tio, às vezes a própria mãe. “O medo de represálias impede as vítimas de solicitar a intervenção da polícia”, relatou Bicudo.

Goiás na ponta

A coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas de Goiás, Nelma Maria Pontes, também relatou em audiência pública da CPI da Câmara que em um centro de atendimento a vítimas de exploração sexual na Espanha, três entre cada quatro mulheres eram brasileiras de Goiás, o estado com maior número de vítimas deste crime no país.

Nelma contou que deu atendimento a uma vítima que teria dito que se alimentava uma vez por dia. “Que se ela quisesse comer mais alguma coisa tinha de pagar. Que tinha de pagar o preservativo. Que era difícil fazer higiene pessoal entre um cliente e outro porque não dava tempo, e que não podia deixar de trabalhar nem quando estava menstruada”, relatou aos deputados.

Pará e Amapá em destaque

Em audiência da CPI da Câmara no dia 26 de junho, a coordenadora da Comissão Justiça e Paz (CJP) do Regional Norte 2 (Amapá e Pará) da Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB), irmã Marie Henriquieta Ferreira Cavalcante, relatou casos de tráfico de adolescentes do Pará e Amapá para exploração sexual. Ela disse que há uma tolerância da sociedade, que vê e aceita e não caracteriza a situação como tráfico humano.

A irmã Marie, que vive ameaçada de morte, comentou que os principais destinos são as capitais do Suriname (Paramaribo) e da Guiana Francesa (Caiena). “Existe uma interligação muito forte entre exploração sexual, tráfico de pessoas, tráfico de drogas e trabalho escravo.”

Irmã Marie mencionou também a Ilha de Marajó, no Pará, onde meninas são aliciadas para serem exploradas em balsas. “O tráfico acontece ao nosso lado e não sabemos identificar”, disse. “A falta de políticas públicas, de alternativas de trabalho e a desigualdade social fazem com que as pessoas se submetam o trabalho escravo pela promessa de uma vida melhor”, analisou.

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