‘Nós começamos a incluir os pobres no orçamento’, diz Lula, em palestra na África

Em viagem ao continente, ex-presidente lembra em palestra que custo do Bolsa Família é de 0,5% do PIB brasileiro

Lula é recebido por Graça Machel, em palestra sobre políticas públicas e combate à desigualdade, em Maputo (Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

São Paulo – Em visita a Maputo, capital de Moçambique, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que as políticas públicas e os conceitos defendidos em seu governo devem ser considerados investimentos, e não gastos, e que é necessário distribuir a riqueza para criar um círculo virtuoso de expansão do mercado interno e do emprego. “Nós começamos a incluir os pobres no orçamento. O Bolsa Família, que atende 50 milhões de pessoas, custa apenas 0,5% do PIB brasileiro”, afirmou.

Lula fez uma palestra sobre o combate à desigualdade social para militantes da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), organizações não governamentais, ativistas sociais, gestores públicos e empresários. O evento foi organizado no Centro de Documentação Samora Machel, na segunda-feira (19).

Graça Machel, viúva de Samora e esposa de Nelson Mandela, apresentou Lula como “símbolo, nas condições de hoje, de sucesso em uma sociedade desigual. Nós vimos sua capacidade de tornar a sociedade menos desigual, de criar milhões de empregos, fazendo milhões de cidadãos saírem da pobreza, promovendo desenvolvimento e o fortalecimento da classe média. Na última década, Moçambique tem sido considerado um país bem-sucedido em desenvolvimento econômico, mas somos considerados cada vez mais uma sociedade desigual”.

“Samora sonhou e estabeleceu as bases para que nós tivéssemos uma sociedade em que cada cidadão vivesse com dignidade. Uma sociedade em que o saber fosse um instrumento fundamental para a transformação da sociedade e a transformação da economia”, disse Graça Machel.

Lula abriu sua fala deixando claro que as condições dos países precisam ser respeitadas e que não há receitas prontas que se apliquem a qualquer lugar. “Tudo que eu falar aqui é em função da realidade econômica do Brasil, da realidade política e do potencial do Brasil”, antecipou.

O ex-presidente ressaltou que as empresas brasileiras têm de agir de forma a evitar os erros cometidos no passado na África e no próprio Brasil. Disse que é preciso respeitar as populações locais e construir, em parceria com os moçambicanos, os projetos necessários para o desenvolvimento do país. “Moçambique precisa de investimentos brasileiros para seu desenvolvimento, e os investimentos brasileiros precisam de Moçambique. O que é fundamental é respeitar o povo de Moçambique.”

Lula encerrou sua apresentação ressaltando o que considera seu maior feito: ter superado os preconceitos e ajudado a eleger a primeira mulher presidenta do Brasil. “Todos os sucessos do nosso governo resultaram em um milagre. O nosso país, com muito preconceito, elegeu pela primeira vez uma mulher para presidenta da República do Brasil. Foi a tarefa que me deu mais orgulho. Os adversários falavam que ela era um ‘poste’, que não entendia nada de política. Pois bem, o nosso poste hoje está iluminando o Brasil”.

Lula, que já havia passado pela África do Sul, segue nesta terça-feira (20) em Moçambique e depois parte para Etiópia, onde participa do encontro da União Africana. O roteiro do ex-presidente termina na Índia, onde receberá o prêmio Indira Gandhi.

Antirretrovirais

Ainda em Maputo, o ex-presidente vai visitar as instalações da Sociedade Moçambicana de Medicamentos (SMM), onde irá entregar diplomas de formação a cinco técnicos desta organização, recentemente capacitados no Brasil. Na cerimônia, na qual será entregue a primeira remessa de antirretrovirais Nevirapina 200mg ao Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU), será ainda divulgada uma lista de 13 medicamentos que a unidade irá fornecer ao sistema de saúde moçambicano.

A cooperação entre o Brasil e aquele país africano foi iniciada em 2003. A iniciativa tem como principal objetivo a criação de uma indústria farmacêutica pública sustentável, voltada sobretudo para a produção de antirretrovirais, que possam reduzir, a médio e longo prazo, a dependência externa de medicamentos doados e importados em Moçambique.

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