Médico da ditadura é alvo de manifestação em São Paulo

Comum na Argentina e no Chile, o escracho vem sendo praticado no Brasil por jovens que cobram o resgate da verdade sobre a ditadura (Foto: Marlene Bergamo. Folhapress) São Paulo […]

Comum na Argentina e no Chile, o escracho vem sendo praticado no Brasil por jovens que cobram o resgate da verdade sobre a ditadura (Foto: Marlene Bergamo. Folhapress)

São Paulo – Foi realizado hoje (7) em São Paulo mais um ato de escracho contra um colaborador da ditadura (1964-85). Militantes se encontraram na Vila Madalena, zona oeste da cidade, e caminharam até a casa do médico legista Harry Shibata.

Segundo documentos oficiais, Shibata foi o responsável por vários laudos necroscópicos que indicavam causas falsas para a morte de vítimas do regime autoritário. Cartazes espalhados pelo bairro durante a noite denunciam alguns destes casos, como o do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975 no DOI-CODI, um dos principais aparelhos da repressão.

Presa por duas vezes à época da ditadura, Ângela Mendes de Almeida, companheira de Luiz Eduardo Merlino, morto pela repressão, afirma que é importante dar nome aos autores dos crimes cometidos durante o regime. “Em geral, o movimento tem se fixado em lembrar os mortos e desaparecidos. Mas nós temos que lembrar também os causadores dessas mortes”, ressaltou a professora aposentada, uma das autoras de ação que pede a responsabilização civil do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra pela morte, ocorrida em 1971.

Ouça a reportagem da Rádio Brasil Atual sobre o ato de escracho a Harry Shibata

Para estudante de artes plásticas Cândida Guariba, ações como a de hoje são importantes para mostrar que os colaboradores da repressão ainda estão presentes na sociedade. “Vir até a casa dele representa marcar essa memória. Mostrar para as pessoas que ele está vivo, que mora perto delas e está totalmente impune”, ressaltou a jovem, cuja avó, Heleny Guariba, é desaparecida política.

Nos laudos falsificados, Shibata escondia a verdadeira causa do assassinato das vítimas, sob tortura, alegando que tinham sido mortas em tiroteios, atropelamentos ou cometido suicídio, como no caso de Herzog.

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Na condição de diretor do Instituto Médico Legal entre 1976 e 1983, Shibata instruía os torturadores dos órgãos de repressão da ditadura a não deixar marcas de suas ações nos corpos de torturados. Para organismos de luta pelos direitos humanos, a prática continua sendo utilizada pelas polícias militar e civil em vários estados.

O colaborador do regime, que teve o registro profissional cassado pelo Conselho Federal de Medicina, é alvo de ação apresentada em 2009 pelo Ministério Público Federal, que o acusa de colaborar para a ocultação de cadáveres nos cemitérios de Vila Formosa, na zona leste, e Perus, na zona oeste. Respondem ao processo o hoje deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), ex-governador de São Paulo, e o ex-delegado chefe do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Dops), Romeu Tuma, morto em 2010. 

Este é o segundo escracho realizado este ano para denunciar colaboradores da ditadura e cobrar a apuração dos fatos. No último dia 26, militantes realizaram atos simultâneos em várias capitais para denunciar a localização atual de personagens ligados à repressão.

Com informações do VioMundo e da Agência Brasil.

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