Para Jean Wyllys, mídia interfere no crescimento de candidatos LGBT

Jean Wyllys: ‘O fato de o tema estar nas novelas, positiva ou negativamente, contribui para isso’ (Foto: Brizza Cavalcante/Agência Câmara) São Paulo – Em ano de eleição, diversas bandeiras são […]

Jean Wyllys: ‘O fato de o tema estar nas novelas, positiva ou negativamente, contribui para isso’ (Foto: Brizza Cavalcante/Agência Câmara)

São Paulo – Em ano de eleição, diversas bandeiras são levantadas pelos candidatos a cargos públicos. Neste ano, nas eleições municipais, uma das que vêm ganhando força na disputa é a levantada pela comunidade LGBT. Até o último número contabilizado, 95 pré-candidatos já estavam relacionados para concorrer, segundo a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). Para o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), a visibilidade da comunidade LGBT deve-se, em grande parte, às mídias.  “O fato de o tema estar nas novelas, positiva ou negativamente, profundo ou mesmo de maneira rasa, contribui para isso”, destaca Wyllys.

Em entrevista à Rede Brasil Atual, o deputado levantou também questões sobre o arriscado uso da comunidade LGBT por partidos e dirigentes que querem apenas angariar votos e não pensam em levantar a bandeira da causa.

Confira a entrevista:

A que você relaciona o aumento do número de pré-candidatos da comunidade LGBT às eleições municipais deste ano?

Eu acho que esse crescimento está diretamente ligado à visibilidade do movimento LGBT nos últimos anos, uma visibilidade que se mostra por meio das paradas do orgulho gay, pela atuação nas mídias e pela representação que a própria mídia faz da comunidade. O fato de o tema estar nas novelas, positiva ou negativamente, profundo ou mesmo de maneira rasa, contribui para isso.

E por conta dessa visibilidade temos o número de candidados que temos hoje. É claro que tem de se pensar em certas nuances dessa candidatura. E quando o partido aceita um candidato LGBT com essa bandeira, quer dizer que essa bandeira não é propriedade da esquerda. Embora a esquerda sempre tenha se apropriado do tema, os partidos liberais e neoliberais, os de direita e conservadores, acabam incluindo essa pauta. Esse é um dado.

Quais os cuidados que os pré-candidatos deveriam ter?

É preciso saber se, se eleitas, essas pessoas vão ter meios e espaços de atuação da causa LGBT, porque, por exemplo, muitos partidos adotam e recebem os candidatos apenas para somar votos à legenda e acabam não lhes dando apoio. E sem recursos para tocar uma campanha, o número de votos que eles conseguem não dá pra se eleger, mas dá votos ao partido, que é conservador e luta publicamente contra os direitos LGBT. Então temos um oportunismo eleitoral para incorporar essas figuras, geralmente aquelas mais folclóricas, as mais conhecidas, como as travestis que já têm um apelo visual. Elas não se elegem, mas os vereadores eleitos com votos da legenda acabam atuando contra a pauta LGBT. É o que a gente vê se repetir em várias câmaras de vereadores pelo país.

Entre os 95 pré-candidatos há muitos postulantes a cargos públicos em pequenas e médias cidades. Você acredita que nesses lugares o apelo a qualquer custo pelo voto é ainda maior? 

Pois é exatamente nessas cidades em que esse tipo de manobra acontece. Porque nesses lugares sempre tem aquele militante, aquela pessoa que toca do modo dela a política LGBT local. E são essas figuras que são vítimas do oportunismo eleitoreiro de certos partidos, que incorporam a candidatura deles, mas acabam não lhes dando recursos para serem eleito de fato. Eu não quero dizer com isso que os partidos mais conservadores não toquem agenda LGBT. A gente vê isso em nível nacional, veja bem, em nível nacional. Por exemplo, o PSDB tem a Diversidade Tucana, que é um grupo de militantes do próprio partido. Então esse partido que inclina para o conservadorismo em certos momentos também tem essa bandeira e toca, de certa forma, uma política.

Mas na maioria dos lugares, não há por parte do partido, quando as eleições se encerram, um apoio direto aos representantes das comunidades. Antes de celebrar o número, é preciso aprofundar isso, e não tratar de maneira tão simplista e soltar foguetes só porque temos um aumento no número de candidatos. É bacana, pois o aumento de candidaturas reflete o aumento da visibilidade que vem acontecendo ao longo dos anos, mas é necessário ver tudo isso com mais cautela.

E como você vê uma saída para que os pré-candidatos não se submetam a essa condição?

Tem casos em que você se pergunta como uma pessoa vai se candidatar a vereador para defender os direitos LGBT de um partido que nacionalmente luta contra. É isso que tem de ser visto. Ainda na hipótese de a pessoa ser eleita, ela não vai ter muito campo de atuação, pois, na verdade, a incorporou só para fins eleitoreiros, para somar votos. A gente tem de tratar a coisa com mais complexidade, inclusive para ajudar esses candidatos nessas situações, dando uma força a eles.

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