Relatos revelam estigma de moradores do Pinheirinho

Ex-moradores da comunidade enfrentam dificuldade para encontrar opções de moradia. A maioria perdeu emprego depois da desocupação

São José dos Campos (SP) –  Os relatos de perda de emprego após o despejo do Pinheirinho, em São José dos Campos, somam-se às denúncias de agressão física e dano material decorrentes da operação realizada no dia 22. Ser ex-morador da comunidade  é “coisa para se carregar toda a vida”, disse um ex-morador.

Alugar moradia não é tarefa simples. “Basta falar que somos do Pinheirinho que nem olham nossa proposta”, disse Tiago da Silva, 24 anos. Com uma renda de R$ 600, ele espera ser atendido pelo auxílio-aluguel da prefeitura – em torno de R$ 300. “Já não bastam os problemas que a gente encontra sempre, de ter de ter um fiador ou depositar um valor para alugar”, lamentou. Enquanto não são atendidas, as famílias continuam em abrigos provisórios.

De dez pessoas ouvidas pela reportagem no Jardim Morumbi, em mutirão organizado nesta segunda-feira (30) pelo Conselho Estadual de Defesa de Direitos da Pessoa Humana (Condepe), para recolhimento de denúncias, sete pessoas relataram que perderam o emprego logo depois da reintegração. 

Carolina de Bastos, 41 anos, trabalhava como auxiliar de limpeza em um shopping. “Me despediram sem mais nem menos, e nunca faltei ou me atrasei no trabalho. Disseram que estavam diminuindo a equipe, mas não comprei a história”, desabafou. A dispensa foi feita na semana passada. “Certeza que é preconceito”, disparou Carolina. Com família grande – oito filhos e seis netos, todos ex-moradores –, a renda é garantida essencialmente de “bicos” esporádicos.