Palco da chacina de 1996, Eldorado dos Carajás tem mais um trabalhador rural assassinado

Acampado em um assentamento, ele foi morto a tiros

São Paulo – Mais um trabalhador rural foi assassinado na região Norte do país. O crime aconteceu nesta quinta-feira (2) – desta vez, a vítima estava em Eldorado dos Carajás, palco de uma chacina ocorrida em 1996. A insegurança e os conflitos no campo que atingem a região já resultaram na morte de outros quatro líderes agrários, três no Pará e um em Rondônia.

De acordo a Polícia Civil do Pará, o lavrador Marcos Gomes da Silva, de 33 anos, foi baleado duas vezes. Segundo uma testemunha, o carro foi interceptado por dois homens armados no momento em que transportava Marcos, já baleado, para o hospital. Os homens teriam exigido que o lavrador fosse retirado do veículo e que os outros ocupantes corressem na direção oposta. O motorista do carro obedeceu e o lavrador acabou sendo morto, no local.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) não soube informar se o crime teve motivação agrária.

Violência

Em pouco mais de uma semana, já somam-se cinco o número de assassinatos ocasionados por conflitos agrários, voltando a ganhar a atenção da mídia e das autoridades. Três deles haviam denunciado madeireiras por desmatamento irregular.

Na terça-feira (31), o governo federal havia anunciado medidas para conter a onda de violência no campo. Entre as medidas , estão a intensificação das operações Arco de Fogo e Arco Verde  e a criação de dois escritórios de regularização fundiárias no Amazonas. Durante o anúncio das medidas, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, admitiu que o governo não tem estrutura necessária para a proteção de líderes camponeses que receberam ameaças. No entanto, prometeu avaliar os casos mais graves e garantir proteção.

Em abril deste ano, o massacre de Eldorado dos Carajás, mesmo município onde ocorreu o assassinato desta quinta, completou 15 anos. O conflito deixou 19 mortos, mais de 60 feridos e  nenhum culpado cumprindo pena.

Defesa dos trabalhadores

Para reverter esse cenário de insegurança no campo, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) se reunirá nesta sexta-feira (3) com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. “É preciso que o governo converse com os movimentos sociais. Até então, houve diálogo entre pessoas do Executivo, há agenda com governadores, mas não tinha qualquer previsão de receber justamente quem está diretamente envolvido com o problema. A estratégia está equivocada”, afirma a secretária do Meio Ambiente da central, Carmen Foro, que representará a entidade no encontro. Também estarão presentes os sindicatos filiados à central da região de Marabá, que organizarão um ato unificado na próxima semana.

Carmen critica a falta de ousadia do governo federal no tratamento da questão. “A criação de um grupo interministerial de trabalho foi uma medida muito tímida e não inclui a sociedade civil na discussão. Precisamos de ações mais amplas e profundas”, defende ela.

O presidente da central, Artur Henrique, compartilha dessa ideia. “É importante, nesse momento, oferecer segurança às lideranças que estão na mira dos fazendeiros por conta da luta pela democratização da terra. Defendo, inclusive, que a Força Nacional esteja na região para atuar em parceria com a Polícia Federal. Mas, não é suficiente, se não combatermos a impunidade e não tivermos coragem de tocar a reforma agrária, que não se resume à distribuição de terras, mas inclui também medidas como a oferta adequada de recursos e infraestrutura para a agricultura familiar.”

De origem paraense, Carmen conhece bem os problemas existentes na região. “Primeiro, estamos falando de mais de 500 projetos de assentamento naquela área, a maioria sem licenciamento ambiental e onde o Incra – Instituto de Colonização e Reforma Agrária – é inoperante, muitas vezes sem dinheiro até para colocar combustível nos carros. Os assassinatos ocorreram por conta da ausência do Estado para resolver os conflitos de terra e organizar as famílias que estão acampadas”, define.

Com informações da CUT

 

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