Sem-teto exigem cadastramento de todas as famílias para deixar Câmara de São Paulo

Prefeitura oferece atendimento a 111 famílias, mas movimento sustenta que 250 participavam de ocupação na avenida Ipiranga. Grupo segue em frente à sede da Câmara dos Vereadores, no centro da capital

Debaixo da lona, famílias seguem acampadas (Foto: Divulgação FLM)

São Paulo – Representantes do grupo de sem-teto acampado em frente à Câmara Municipal exigem da prefeitura que todas as famílias sejam atendidas em programas habitacionais. Em reunião na segunda-feira (29), a secretaria responsável pela área ofereceu benefícios a apenas 111 famílias identificadas como as da ocupação de Alto Alegre em 2009, enquanto os ativistas dizem que mais 250 precisam ser contempladas.

Em nota, a prefeitura afirma que a Secretaria Municipal de Habitação ofereceu atendimento pelo Programa Parceria Social – que prevê auxílio-aluguel de R$ 300 por mês por 30 meses – em reunião realizada na segunda-feira com a Frente de Luta por Moradia (FLM). A condição para garantir o benefício é que as famílias desocupem outro prédio, na avenida São João, também no centro da cidade. Os sem-teto permanecem no edifício desde 4 de outubro.

Carmem Ferreira da Silva, uma das líderes do movimento, afirma que foi acordado que nenhuma família irá sair do acampamento diante da Câmara enquanto todas forem atendidas pelo Programa. “Não há perspectiva de que a gente saia do acampamento já que só querem ajudar metade do grupo, e também não foi resolvido nada na reunião”, disse.

O grupo está acampado no local desde 18 de novembro, quando a Guarda Civil Metropolitana cumpriu uma ordem de reintegração de posse em um prédio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na região central. Há ainda membros de outro despejo determinado pela Justiça, realizado na avenida Ipiranga, onde mais de mil pessoas permaneceram em um edifício que pertence a uma construtora.

Uso do banheiro da Câmara

Em carta enviada a vereadores da cidade e a diversas frentes e comissões, divulgada nesta quarta-feira (1º), a FLM atribui a escolha da Câmara de Vereadores como local do campamento por permitir menor vulnerabilidade. “Aqui, sabemos ao menos que não estaremos vulneráveis à violência da Guarda Civil Metropolitana”, diz o texto. 

Os sem-teto fazem ainda dois pedidos aos vereadores. O primeiro é a liberação do uso dos banheiros da Casa, já que os acampados dependem da “boa vontade” dos comerciantes da área. A outra demanda é por mais sinalização de trânsito devido ao maior fluxo de pessoas nas proximidades do acampamento.

Confira a íntegra da carta

FLM – FRENTE DE LUTA POR MORADIA

São Paulo, 1 de dezembro de 2010

Ao Presidente da Câmara dos Vereadores de São Paulo.

No dia 25 de novembro deste ano fomos despejados do prédio da Avenida Ipiranga, 905, onde morávamos com nossas famílias. Estamos acampados na calçada em frente à Câmara Municipal, desde que fomos jogados. Muitos questionam o porquê de estarmos aqui. Estamos aqui, pois encontramos nas calçadas desta Casa de Homens de Bem, a segurança para nossas famílias. Aqui, sabemos ao menos que não estaremos vulneráveis à violência da Guarda Civil Metropolitana. Pois, os Vereadores não permitirão que o povo desta cidade apanhe, ou que sejamos jogados para outras Somos trabalhadores. Trabalhamos diariamente para que esta cidade não pare.

Estamos aqui, pois o nosso salário não é suficiente para garantir a sobrevivência de nossa família. A vida de uma família pobre que paga aluguel é muito sofrida. A única saída que temos é nos arriscar fazendo barracos em favelas, no alto do morro, ou dentro do córrego. No entanto, quando a chuva vem, precisamos correr para não ser levados. E assim, migramos mais uma vez, em busca de outro local para abrigar Estamos aqui, apenas para lutar por uma vida melhor para nossos filhos. Fazemos muito esforço para que continuem na escola, para que no futuro tenham uma vida melhor. Só que morar na rua, não é fácil. Cada chuva que vem leva o resto de nossos últimos pertences. Mas, não vamos desistir.

Os Vereadores desta Casa, já conhecem a nossa história. Mas, trazemos um novo agravante e pedimos ajuda para solucionar este problema:

Estamos enfrentando muita dificuldade para utilizar os banheiros da região. Os comerciantes, apesar da boa vontade e do apoio dado, não podem ser penalizados com a nossa necessidade fisiológica. Temos muitas pessoas enfermas e idosas com muita dificuldade de locomoção. As pessoas com problema de hipertensão também sofrem muito com esta dificuldade. Se não usarem o banheiro, terão problemas de saúde sérios. Por isso, pedimos à Câmara Municipal de São Paulo, autorização para a utilização do banheiro. Ou caso, isto não seja possível que possam ser disponibilizados banheiros químicos para nossas famílias. Outro pedido que temos a fazer é que seja solicitado junto à CET, o aumento da sinalização de trânsito. Pois, a transitação de nossas famílias em busca de banheiros, comida e de local para se proteger das chuvas e do sereno da madrugada é muito

Aguardamos ansiosos o retorno.
Famílias despejadas do Ed. Ipiranga, 905.
FLM – FRENTE DE LUTA POR MORADIA
São Paulo, 1 de dezembro de 2010

 

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