Para Cepal, América Latina precisa de ‘revolução industrial’ para alcançar economia verde

Alicia Bárcena defende que os países latinoamericanos deixem se der apenas importadores históricos de tecnologia

Secretária-executiva da Cepal defende a busca da igualdade de direitos e dos empregos com direitos (Foto:Josef Wepplo/Wikimedia Commons)

Rio de Janeiro – Entre os principais temas que serão colocados na balança medidora do sucesso da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, está a transferência de tecnologia de mecanismos sustentáveis dos países desenvolvidos ao emergentes. Entretanto, para a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), os países da América Latina e Caribe, históricos importadores, deveriam fazer uma transformação profunda para uma nova economia verde e com paradigmas distintos.

A secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, defende uma nova revolução industrial no países latinoamericanos, que leve em conta os avanços tecnológicos, mas seja baseado em outros ingredientes, com uma participação mais ativa do Estado e da sociedade. “Essa nova revolução tem de ter a igualdade no centro de seu paradigma. Garantia de emprego como principal eixo dessa equação. Temos de ir em busca da igualdade de direitos e dos empregos com direitos”, disse.

Alicia defendeu a criação de empregos com maior produtividade, que os trabalhadores sejam capacitados para absorver todo o progresso tecnológico para que os países da América Latina deixem de ser apenas importadores e desenvolvam tecnologias e serviços ambientais. “Hoje, as grandes patentes estão em outras partes do mundo, e não aqui na nossa região. Mas podemos reverter isso”, afirmou.

Segundo ela, só a região da Ásia e do Pacífico desenvolveram 250 mil patentes, enquanto a América Latina desenvolveu 2.200 patentes. Alicia acredita que essa mudança do sistema produtivo transforme a economia das países latinoamericanos, com traços mais verde e sustentáveis, “considerando que cada país, cada estado, cada sociedade tem de buscar sua própria essência”, ressaltou.

A presidente do instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Vanessa Petrelli Corrêa, também destacou a importância de políticas sociais, que objetivem o fim da desigualdade e exclusão social, para a transição de uma economia verde nos países da América Latina. “Não existe desenvolvimento se as pessoas não estão incluídas. Os conceitos de desenvolvimento têm sido discutidos de maneira muito técnica, esquecendo os conceitos de desenvolvimento social”, alertou.

A economista defendeu outro modelo de política macroeconômica, cuja preocupação central não se baseie no controle excessivo dos índices de inflação e passe a atentar-se a outros tipos de atuação, como os investimentos públicos, por exemplo. “Esse é um dos investimentos mais importantes, pois consegue unir o desenvolvimento de curto e de longo prazo, o que é essencial para a sustentabilidade das futuras gerações”, explicou.

Da Eco92 até hoje: 20 anos de mudança

As considerações de Alicia Bárcena foram feitas durante apresentação de estudo feito pelo Cepal em parceria com o Ipea, na Rio+20. O estudo, intitulado “Sustentabilidade do Desenvolvimento 20 anos após a Cúpula da Terra”, destacou os avanços e as brechas das diretrizes estratégicas dos países latinoamericanos e do Caribe.

Dados do estudo mostram que a pobreza nos começo dos anos 1990, época da Eco92, estava no índice de 48%. Enquanto em 2010, esse índice caiu para 30,4%. O número de pessoas que vivem em favelas e nos subúrbios passou de 34% para 24%. “Em 1992, a região saía de uma ‘década perdida’ de baixo crescimento. Na atualidade, apesar da recente crise econômica, e sem desconhecer seu grave impacto, a região completa uma década de crescimento relativamente elevado”, diz o texto do estudo.