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Luciano Huck segue o caminho das novas estrelas do PSDB: ser bom de marketing

Pretendente a candidato, apresentador se oferece como tema de escola de samba para reduzir a rejeição do eleitorado apontada por recente pesquisa eleitoral

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Luciano Huck ensaia entrada na política, estimulado por FHC e por denúncias contra Serra, Alckmin e seu amigo Aécio

Com Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra na frigideira da Odebrecht, o ex- presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) deu entrevistas durante a semana em que praticamente “lança” dois candidatos de sua preferência à Presidência em 2018: o prefeito de São Paulo, João Doria, e o apresentador da Rede Globo Luciano Huck. E o que há em comum entre Doria e Huck?

O primeiro invadiu uma área pública, uma viela que foi por ele mesmo incorporada a uma de suas propriedades, localizada na serra da Mantiqueira, na estância paulista de Campos do Jordão. Contrariando decisão do Ministério Publico Estadual, que cobra do prefeito a reintegração de posse, num processo que se arrasta desde 1997, Doria segue “enrolando” e tenta fazer acordos para evitar a devolução da área.

No pedido para reaver a área, a prefeitura de Campos do Jordão afirma que, desde 2009, “seguiram-se sucessivas suspensões do processo em razão de alegações sobre tratativas de acordo, do qual não se tem notícia”. O Ministério Público apresentou parecer favorável à reintegração de posse da área, no qual considera, “impertinente a rediscussão do mérito da causa, sob pena de clara ofensa à coisa julgada”. A decisão judicial, transitada em julgado – ou seja, da qual não cabem mais recursos. Apesar disso, Doria manteve a ocupação e continua dono da área publica invadida. A prefeitura continua cobrando reintegração de posse.

Já Luciano Huck invadiu uma praia pública em Angra dos Reis (Rio de Janeiro), executou dragagem para transformar o local em uma praia particular e cercou a área com um muro de arrimo de cerca de dez metros para proibir acesso público. Condenado pela Justiça de Angra a pagar uma multa de R$ 40 mil, derrubou o muro e cercou com boias. Fez, portanto, de uma área pública sua praia privada.

Sem licença ambiental, construiu sua mansão sobre o espelho-d’água e as rochas. Huck contou ainda com a ajuda do amigo ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB/RJ) para se livrar da Justiça: Cabral liberou as regras para construções em áreas de preservação ambiental, ao criar o decreto (número 41.921), que ficou conhecido como “lei Luciano Huck”, por ter sido feito para beneficiar o apresentador queridinho da Globo.

Além disso, Luciano Huck recorreu da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por achar, segundo declarou, muito alto o valor de R$ 40 mil estipulado como multa pelo tribunal de Angra dos Reis e, com isso, segue proibindo acesso à praia pública da qual fez sua praia  particular.

Tem mais

Quando candidato à prefeitura de São Paulo, João Doria usava discurso privatista e de Estado mínimo, enquanto recheava sua revista Caviar Lifestyle com publicidade do governo paulista. Seu padrinho político, o governador Geraldo Alckmin, pagou R$ 1,5 milhão por anúncios veiculados na publicação, destinada a pouquíssimos, diga-se. A empresa Lide, de propriedade de Doria, também ganhou agrados do governador paulista, em aportes que chegam a R$ 4,5 milhões. 

Luciano Huck, o pretendente a candidato a presidente, também já conhece os caminhos para os cofres públicos há muito tempo. Apenas como exemplo, lembremos que, em 2003, o apresentador fundou uma ONG, a Criar. Um ano depois, conseguiu fechar uma parceria com a Secretaria Municipal do Trabalho de São Paulo, sob o comando de Guilherme Afif Domingos.

Recebeu “doações” do então prefeito, Gilberto Kassab (que estava no DEM), e do governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Com tamanha bondade, a ONG cresceu e virou Instituto Criar. O negócio foi tão sigiloso que até hoje não se sabe o valor das doações.

Huck nunca escondeu sua simpatia pela direita. Animou comícios em 2002 dos candidatos do PSDB, José Serra, que concorria a presidente, e Aécio Neves, que disputava o governo de Minas Gerais. No palanque, Huck referiu-se a Serra como “grande amigo” e a Aécio como “irmão de sangue”: “Serra e Aécio são gente honesta e morrendo de vontade de fazer um Brasil melhor para todos nós”, discursava na campanha eleitoral. Aécio ganhou, e com o “irmão” Huck compartilhou o jatinho pertencente ao governo de Minas para viagens de gravações do programa do apresentador pelo interior do estado.

Luciano Huck já disse algumas vezes que nunca descartou a hipótese de se candidatar a um cargo público. Mas agora parece que é para valer. 

Reuniões para a  entrada do apresentador na política começaram no mês passado, quando se deu mais uma reservada conversa (a terceira sobre o tema) com o presidente (ou será dono?) do partido Novo, o banqueiro João Amoedo, no iate de Huck, em Angra dos Reis. Antes, os dois tiveram alguns encontros nos Estados Unidos.

Porém, o apresentador precisa pensar, em sua futura vida política, como fará para baixar a rejeição ao seu nome. Uma pesquisa do Instituto Paraná, divulgada na semana passada, mostra que 46% dos entrevistados não votariam de jeito nenhum em Huck para presidente. Entre os que têm ensino superior, 52% dizem que não dariam seu voto a ele.

Mas outra característica que aproxima os dois prediletos de FHC é a afinidade de ambos com as estratégias de marketing, em vez da discussão de políticas públicas.

Talvez, como estratégia para amenizar a rejeição, Huck tenha se oferecido para ser tema de  enredo de uma das escolas de samba do carnaval do Rio em 2018, ano da eleição. Se foi essa intenção, pelo visto, não deu muito certo.

Isso porque Luciano Huck foi motivo de chacota nas redes sociais depois de a imprensa divulgar que um emissário do apresentador teria procurado a  escola de samba Salgueiro e oferecido 6 milhões de reais para que ele fosse homenageado no Sambódromo. Uma outra escola foi procurada mas, calculando a enxurrada de críticas que receberia, não aceitou. Na Mangueira, o assunto não foi para a frente porque o carnavalesco Leandro Vieira vetou Huck.

Curiosamente, a notícia da compra de enredo veio após a pesquisa mostrar rejeição da candidatura do apresentador global.

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