‘MPB Especial’ com Jackson do Pandeiro ganha versão em DVD

Capa do lançamento histórico do programa da TV Cultura com o mestre da cultura popular brasileira Jackson do Pandeiro (reprodução) É impossível falar de baião, xote, xaxado, coco, “rastapé”, quadrilha, […]

Capa do lançamento histórico do programa da TV Cultura com o mestre da cultura popular brasileira Jackson do Pandeiro (reprodução)

É impossível falar de baião, xote, xaxado, coco, “rastapé”, quadrilha, marcha e frevo sem mencionar o cantor e compositor paraibano Jackson do Pandeiro, falecido há 30 anos, em 10 de julho de 1982, em Brasília, aos 61 anos. Mas o que o programa “MPB Especial”, exibido pela TV Cultura em 1972 e agora lançado em DVD pelo selo Discobertas, mostra é que, além de excelente artista, ele era um prosador de primeira. “Todo crioulo pensam logo que é da Bahia. Não sou. Eu sou da Paraíba”, frisa, em determina altura. E nem a história do nome artístico, e a decepção da mãe com o mesmo, são poupados: “Nome de Jackson é do tempo do cinema mudo”, conta. E acrescenta: “Moleque brincando de ser artista”.

Ao começar com o clássico “Um a Um” (décadas mais tarde redescoberta pelos Paralamas do Sucesso), Jackson do Pandeiro comenta que essa canção de Edgard Ferreira foi feita mesmo para tocar no Brasil todo, uma vez que em qualquer cidade há o “encarnado em branco e preto”. Em seguida, o delicioso “Forró em Limoeiro”, do mesmo Edgar Ferreira, é apresentado como a primeira música feita para ele gravar.

A fogosa “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti, foi regravada com grande repercussão por Gal Costa e, em plena época de repressão política de Gilberto Gil e Caetano Veloso, Jackson do Pandeiro reconhece a importância dos artistas baianos para sua redescoberta. “Esses rapazes me deram um apoio muito grande. Eles são meus amigos. Estão na casa do chapéu. Mas puseram a juventude para conhecer Jackson do Pandeiro”, declara, agradecendo e incluindo nessa lista João Gilberto. 

É bom lembrar que foi Gilberto Gil quem regravou “O Canto da Ema”, de Alventino Cavalcante, Ayres Viana e João do Vale – “o Gil canta do jeito que eu acho que tem que ser”, comenta – e “Chiclete com Banana”, de Gordurinha e Almira Castilho, que teve também o mérito de inserir a expressão “samba rock” no cancioneiro brasileiro: “Só ponho bebop no meu samba / Quando o Tio Sam pegar no pandeiro e no zabumba / Quando ele entender que o samba não é rumba / Aí eu vou misturar Miami com Copacabana / Chiclete eu misturo com banana / E o meu samba vai ficar assim”. As duas canções estão presentes no DVD.

De canções próprias, Jackson do Pandeiro interpreta “Xexéu de Bananeira” e “Xote de Copacabana”: “E passei mais de uma semana sem poder me controlar / Com ar de doido que parecia estar vendo / Aquelas moças correndo / De maiô à beira-mar / As mulheres na areia / Se deitam de todo jeito / Que o coração do sujeito / Chega a mudar a pancada / E muitas delas vestem / Um tal de biquíni / Se o cabra não se previne / Dá uma confusão danada”.

Há também parcerias com Luiz de França e Ivo Marins (“Vou lhe buscar”), com José Garcia e Sebastião Nunes (“Lágrima”) e com Maruim (“Véspera de São João (Ponta de Pedra), da qual dá apenas uma palhinha).

Também estão ali as divertidas “Mulher do Aníbal”, de Genival Macedo e Nestor de Paula; “Cabo Tenório”, de Rosil Cavalcanti; e “O Puxa Saco”, de Zé Catraca, que retrata uma figura que Jackson do Pandeiro garante ter lhe prejudicado tanto que precisou mudar até de gravadora: “A gente trabalha tanto / E consegue o que quer / Quem anda puxando o saco / Está comendo de colher / Eu não me importo / Que me chame de chaleira / De cheleleu ou bajulador / Com dinheiro não boto / Pra derreter / Eu não quero nem saber / Se eu sou bajulador”.

Por fim, em meio a lindas imagens em preto e branco, e da maneira bastante particular do entrevistador Fernando Faro conduzir o papo, o programa termina com “Vou Gargalhar”, de Edgard Ferreira; e “Catirina”, de Jararaca.

Portanto, muito mais do que um importante registro histórico, a edição do programa “MPB Especial”, com Jackson do Pandeiro, é lançado trinta anos depois em DVD, como uma verdadeira lição de como se comportava – e como era divertido! – um dos maiores gênios da música popular brasileira.

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