Pessoas conversam no interior de um bar, mas a imagem não está exatamente em sincronia com o que se escuta. Ou seja, as falas não pertencem aos personagens que aparecem em destaque na tela. O que pode parecer um pouco incômodo para o espectador, retoma as origens do cinema e realiza um dos mais impactantes e desconcertantes exercícios de sound design da história do cinema. Essa é a primeira cena do novo filme do diretor iraniano Abbas Kiarostami, “Um Alguém Apaixonado”.

Akiko (Rin Takanashi) é uma acompanhante de luxo em Tóquio, no Japão, mas não parece nada satisfeita com os rumos da vida dela, enquanto tenta esconder o que faz do namorado e da avó, que deseja encontrá-la e que vê cartazes com a foto de alguém que acredita ser muito parecida com ela, afixados nas paredes. Seu destino parece mudar quando vai ao apartamento de um velho e solitário professor e tradutor, Takashi (Tadashi Okuno), que, primeiro, quer apenas oferecer a ela um jantar romântico e, depois, cria uma simpatia e quase uma relação fraternal pela garota.

O que mais encanta em “Um Alguém Apaixonado” é a maneira como Abbas Kiarostami consegue imprimir na tela o ritmo da vida, com os tempos em que nada parece acontecer de relevante, mas que fazem parte da rotina e do desencadeamento dos fatos determinantes para a narrativa. Há também uma intensa valorização de espaços fechados e dos sons, que exercem aqui uma função importante de complemento do que se vê, evitando-se ao extremo a redundância tão comum no cinema norte-americano.

Desse modo, o cineasta iraniano deixa novamente sua terra-natal para realizar um dos filmes mais bonitos e delicados de sua filmografia. “Um Alguém Apaixonado” é muito mais do que uma história de amor, mas, mesmo assim, para dar conta dela, valoriza extremamente os detalhes e os requintes do ritmo da nossa vida cotidiana.

Veja a programação completa e os endereços em http://36.mostra.org/

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