João Signorelli encarna Gandhi numa lição de amor ao teatro

João Signorelli como Gandhi: interpretação apaixonada de personagem emblemático da busca da natureza humana (©João Britto/Divulgação) Num teatro em formato de arena, vê-se no palco apenas dois tapetes (um menor […]

João Signorelli como Gandhi: interpretação apaixonada de personagem emblemático da busca da natureza humana (©João Britto/Divulgação)

Num teatro em formato de arena, vê-se no palco apenas dois tapetes (um menor sobre o um maior), um pedaço de papel, cinco pedras e algumas frutas. O ator João Signorelli adentra o palco, cumprimentando os presentes e se segurando a um cajado. Assim começa o belíssimo monólogo “Gandhi, Um Líder Servidor”, que estará em cartaz até novembro, todos os sábados, no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.

Não se trata de um espetáculo que narra a história do pacifista indiano Mahtman Gandhi, o que, aliás, já ocorrera com maestria no cinema na produção indiana-inglesa vencedora de 8 Oscar, dirigida por Richard Attenborough e estrelada por Bem Kingsley, em 1982. Mas, sim, um monólogo escrito por Miguel Filiage, baseado nos discursos do líder, que tratam de temas como solidariedade, política, amor e respeito ao próximo. 

É digno de nota, por exemplo, o relato do casal que procura Gandhi para que ele aconselhe o filho a parar de comer açúcar. O líder, então, pede para eles retornarem após um mês e, então, se ajoelha para ficar na altura da criança e simplesmente diz “Você deveria parar de comer açúcar, pois não faz bem”. Ao ser indagado pelos pais porque demorara tanto para dizer algo tão simples, ele responde: “Pois há um mês eu nunca havia deixado de comer açúcar”. 

O mesmo acontece com a visita de Gandhi a uma fábrica de algodão inglesa, onde os funcionários faziam reivindicações sem saber que o que produziam era fruto da exploração e da miséria do povo indiano. E o episódio em que ele foi vetado de comparecer a uma solenidade com a rainha em função dos trajes e, então, enviou seu smoking embrulhado para o cerimonial, dizendo que já que estavam mais preocupados com as roupas do que com a pessoa…

O texto do espetáculo também é acrescido de outros textos, inclusive com versos retirados de canções brasileiras, como “A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não”, de “Brincar de Viver”, de Guilherme Arantes; “É preciso paz pra poder sorrir”, de “Tocando em Frente”, de Almir Sater; e “Pois paz sem voz não é paz, é medo”, de “A Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)”, do grupo O Rappa.

E fica ainda mais enriquecido na interpretação de João Signorelli, que conversa com os espectadores, distribui flores e se emociona em muitos momentos, demonstrando que é o amor que move os seres humanos e a paixão pelo palco que faz um grande artista. 

É verdade que alguns dos trejeitos do ator parecem repetitivos demais, como o momento em que segura um mamão para comentar a razão de seu jejum. Porém, usando apenas uma bata branca, chinelos e óculos, e com a cabeça completamente raspada, ele comove os espectadores, levando-os a refletirem a respeito da própria vida e do papel que cumprem em seu cotidiano. Portanto, “Gandhi, Um Líder Servidor”, que vem sendo realizado desde 2003, é indispensável para quem gosta de teatro, mas também para quem se preocupa com o futuro do planeta.

Serviço
Peça “Gandhi, Um Líder Servidor”. Sábados, às 19h. Até 24/11
Ingressos – R$ 30
Teatro Ruth Escobar – Sala Miriam Muniz – Rua dos Ingleses, 209. São Paulo/SP
T: (11) 3289-2358

[email protected]

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