A reflexão e a criação de Carlos Scliar em últimos dias de exposição

Sesta IV, uma das telas da mostra sobre a obra do gaúcho Scliar, em São Paulo (Foto: ©Renan Cepeda/Reprodução) O gaúcho Carlos Scliar atacou em todas as áreas das artes […]

Sesta IV, uma das telas da mostra sobre a obra do gaúcho Scliar, em São Paulo (Foto: ©Renan Cepeda/Reprodução)

O gaúcho Carlos Scliar atacou em todas as áreas das artes visuais – desenhos, gravuras, pinturas, ilustrações, cenografia, roteiros e design gráfico – e realizou todas elas com a mesma competência e sobretudo, talento. É o que se pode conferir na ótima exposição “Carlos Scliar – Da Reflexão à Criação”, em cartaz na Caixa Cultural São Paulo até o próximo domingo, 8 de janeiro. Ela pode ser visitada sexta-feira e sábado, das 9h às 21h, e domingo, das 10h às 21h.

Nascido em Santa Maria da Boca do Monte, no Rio Grande do Sul, em 21 de junho de 1920, Carlos Scliar já publicava os primeiros artigos ilustrados com apenas 11 anos. Três anos depois, teve aulas de arte com o pintor austríaco Gustav Epstein. E, desde então, não parou mais. Fez sucesso no mundo todo e se destacou principalmente como diretor de arte da revista “Senhor”, entre as décadas de 1950 e 1960, e criou cartazes marcantes, como o da peça teatral “Orfeu da Conceição”, de Vinicius de Moraes, que pode ser visto na exposição.

A exposição é dividida em várias séries, dedicadas principalmente à serigrafia e entre as quais se destaca o álbum “Redescoberta do Brasil – 1500/2000”, em que Carlos Scliar faz uma leitura bastante pessoal de 500 anos de história do país, destacando eventos como a chegada das caravelas e o poema épico “Os Lusíadas”, de Luis de Camões; a Revolução Farroupilha; a seca da Bahia; as fábricas; o carnaval do Rio de Janeiro; o massacre de 21 pessoas em Vigário Geral, também no Rio; e a Guerra de Canudos, com Antonio Conselheiro.

Enquanto a mistura de cores chama a atenção na série “Composição”, realizada entre as décadas de 1970 e 1990, com telas que dialogam entre si; a série “Cadernos de Guerra”, de 1944, quando esteve com a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália, é de uma delicadeza comovente, ao registrar em traços simples e fulminantes os companheiros de alojamentos e batalhas. O mesmo pode ser dito com relação a “Série Gaúcha” e “Estância”, em que parece voltar da Europa em busca das origens e lembranças mais remotas. A comprovação está em lindas gravuras como “Chinoca” e “Guri”, ambas de 1962. Também merece atenção especial o libreto que ilustrou para a ópera “Il Guarany”, de Carlos Gomes.

Outra séria bastante interessante é a de 10 serigrafias, realizadas em 1973, e que retratam a cidade mineira de Ouro Preto apenas pelos telhados das casas, nas cores marrom e bege, com trechos verdes da natureza ao redor. Algo pouco comum para a cidade marcada pelas esculturas barrocas. “Quem não tiver ideia de Ouro Preto, e for conhecer a cidade através desse álbum de serigrafias de Carlos Scliar – Telhados de Ouro Preto –, estará roubado. Onde está o barroco, onde estão as volutas, as curvas, o alado sensualismo dos anjinhos e das virgens, e as explosões do sonho e do pecado? Uma longa vivência de Ouro Preto – uma longa vivência e um longo amor – dão a Carlos Scliar o direito de apresentar essa Ouro Preto lírica, mas toda serena, tão limpa na simplicidade de seus traços que às vezes parece abstração”, avaliava o cronista mineiro Rubem Braga, em texto reproduzido na exposição.

O curador da exposição Marcus de Lontra Costa encontra as palavras certas para descrever a obra do artista que faleceu em 28 de abril de 2001, no Rio de Janeiro: “Em qualquer técnica, em qualquer período de sua vida, Carlos Scliar é o artista do método e da métrica. A linha é o elemento que organiza a sua aventura artística; a partir dela, de seus vetores, ele constrói formas, acrescenta cores, desenvolve a sua poética particular. Para ele, o Brasil é assunto permanente: em busca das névoas do passado encontrou-as (e se encontrou) entre as montanhas”. Após o artista ser cremado em Cabo Frio (RJ), teve as cinzas lançadas no Canal do Itajuru, trecho que recebeu o nome pela prefeitura municipal de Orla Scliar.


Serviço
 
Exposição Carlos Scliar, Da Reflexão à Criação
Sexta-feira e sábado, das 9h às 21h; e domingo, das 10h às 21h. Até 08/01. Grátis
Caixa Cultural São Paulo – Avenida Paulista, 2083. São Paulo/SP. T: (11) 3321-4400

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