Exposição recupera a alegria e o bom humor de Leonilson

Um artista bem-humorado, alegre e perspicaz, mas também bastante crítico, é a marca que fica para cada visitante da exposição “Sob o Peso dos Meus Amores”, em cartaz no Itaú […]

Um artista bem-humorado, alegre e perspicaz, mas também bastante crítico, é a marca que fica para cada visitante da exposição “Sob o Peso dos Meus Amores”, em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo, até 29 de maio, todos os dias da semana, com entrada gratuita. A principal característica da mostra é revelar a intimidade e a paixão por listas, números, coleções, símbolos e repetições do pintor, escultor e desenhista que, ao ser extremamente autobiográfico, melhor soube representar o Brasil dos anos 1980 e, por isso, foi o que mais marcou as artes plásticas brasileiras do perído.

Aluno de mestres como Julio Plaza, Nelson Leirner e Regina Silveira, ele deixou uma marca criativa inquestionável. Não é à toa que seus trabalhos sempre foram disputados por colecionadores e donos das principais galerias, caso de Thomas Cohn e Luiza Strina.

“A presença do caráter colecionista em sua personalidade e em seu trabalho se evidencia na coleção de brinquedos e no conjunto de signos recorrentes utilizados em toda a sua obra”,  descrevem os curadores Bitu Cassundé e Ricardo Resende, no programa da exposição. Na lista, eles incluem a ampulheta, o símbolo do infinito, os números em geral, o navio, a escada, a ponte, o relógio, o avião, o farol, os instrumentos musicais, o átomo, o vulcão, a montanha, a cadeira, a bússola, a torre, o radar, entre outros.

“Delimitando todo esse trajeto, costurando todos os pontos, encontra-se a vida, o secreto, o particular, o romântico, que migrou de forma fluente e poética de seu cotidiano para sua produção artística”, prosseguem os curadores.

Pode-se acompanhar na exposição, cadernos de desenhos e anotações realizados em 1985, uma agenda de 1987 e cartões trocados com o amigo e artista alemão Albert Hien, além de brinquedos e outros objetos pessoais. No entanto, o que mais chama atenção é mesmo a criação artística do filho de uma costureira e de um vendedor de tecidos.

Estão ali desde revistas fictícias e muito divertidas, como “Vogue Ideal” e “Zé”, as clássicas telas “Ele Me Falava do Rio e Seus Afluentes” (1988) e “Todos os Rios Levam a Sua Boca” (1989), que são espécies de mapas poéticos, até o cartaz do espetáculo “A Farra da Terra” (1983), do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone.

Vale a pena prestar atenção na curiosa obra “Feliz Aniversário”, criada em 1987 com papel-cartão recortado e colado com fita adesiva, palitos de fósforo, papel e caneta esferográfica. Está ali também a primeira obra de Leonilson, o borbado realizado em 1972, com o título “Mirro”, tipo de trabalho que se tornaria uma das marcas mais conhecidas de sua obra. Como complemento da exposição, foi remontada a instalação realizada por Leonilson em 1993, na Capela do Morumbi, a qual ele não chegou a ver pronta e que foi sua última produção.

Portanto, poucos artistas representam tão bem a década de 1980, no Brasil, quanto o artista plástico cearense José Leonilson Bezerra Dias, que faleceu em São Paulo, em 1993, vítima da AIDS. Porém, para quem imagina uma obra pesada, densa ou amargurada, engana-se profundamente. A alegria e a criatividade se sobressaem em cada trabalho desse pintor, desenhista e escultor, que encontrou uma maneira diferenciada de retratar a realidade que vivia também nos tecidos, fonte inesgotável de arte, provando que o universo da costura não é exclusividade das artistas femininas, caso de Leda Catunda, entre outras.

 

Serviço

Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149

 Pisos 1, 1S e 2S.

T: 2168-1876

Grátis

Até 29 de maio. De terça a sexta, das 9h às 20h
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Capela do Morumbi – Avenida Morumbi, 5387.

T:3772-4301

Até 29 de maio. Grátis. Terça a domingo, das 9h às 17h

 

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