Les Pops faz pop sincero e criativo

(Foto: Ulisses Oliveira) “Eu quis te matar / Pode acreditar / Quando te vi passar por mim / Tão linda assim / E não me notar”. O rock “Esmalte” é o […]

(Foto: Ulisses Oliveira)

“Eu quis te matar / Pode acreditar / Quando te vi passar por mim / Tão linda assim / E não me notar”. O rock “Esmalte” é o melhor cartão de visitas para o álbum de estreia da banda Les Pops, intitulado “Quero Ser Cool”, lançado pelo selo Discobertas.

A voz do vocalista Rodrigo Bittencourt soa potente em meio à entusiasmante batida da bateria de Raphael Miranda. É a comprovação de que a união de quatro artistas – também fazem parte da banda Thiago Antunes e Daniel Lopes – que já haviam lançado trabalhos solo deu muito certo e resultou num misto de letras bem-humoradas e cheias de referências com uma estrutura sonora das mais competentes.

A mistura de ritmos é a marca do quarteto, que apresenta letras muito bem-humoradas, mesmo em belas baladas como a faixa-título: “Também não ando pelos bares / Tentando aparecer / Falando umas bobagens / Sobre Nietzsche ou Platão / Falando de Bukowski / Escalando a seleção”. A obra do cineasta italiano Federico Fellini é o mote da canção “E La Nave Và”, que remete aos melhores momentos de Pedro Luís e a Parede: “Chamando Fellini para sambar / Pra bater cabeça em qualquer gongá / E Noite de Cabíria / Vamos dançar”.

Os integrantes dos Beatles são motivo de brincadeira em “Aluguel em Abbey Road”: “O George tá de calça santropeito / E no terno do Paul tem um defeito / O Ringo parece um ascensorista / O John tá parecendo um umbandista”. 

A contagiante “Batalha Naval” remete ao som de bandas da virada dos anos 1990 para 2000, como a norte-americana Strokes. E “Delay”, a melhor faixa do álbum, mostra grande inventividade musical, num misto de rock e repente, produzido com acordeon, bateria, guitarra e bateria. A presença de instrumentos inusitados para uma banda pop permanece no iê iê iê “Letícia”, que conta com banjo e guitarraxo.

O clássico “Camisa Listrada”, de Assis Valente, aparece quase irreconhecível. Os reggae “Salto Agulha” e “Macaco Pavão”, composta pelo catarinense Wado, remetem às melhores bandas brasileiras do ritmo. Na última, vale a pena prestar atenção no jogo de vozes à capela. E “A Canção” fecha com os ótimos versos de Bittencourt: “A canção cansou de dizer coração / A canção cansou de sofrer por paixão / A canção cansou de chorar no refrão / A canção não quer mais tocar / Cansou de não ter o que falar”.

Ouvir “Quero Ser Cool” é garantir algumas horas de boa música, num pop sincero e criativo, que prova mais uma vez que o segredo de uma grande estreia está em misturar boas letras com base instrumental competente e surpreendente. Nada mais condizente com rapazes que, com bom-humor, agradecem a, entre outros, Saci Pererê, Curupira, Mula Sem Cabeça, Gilles Deleuze, Charles Darwin e Charles Chaplin. 

Guilherme Bryan, 35 anos, jornalista formado pela Cásper Líbero, autor do livro “Quem Tem Um Sonho Não Dança” (ed. Record), mestre e doutorando pela ECA-USP, repórter do jornal Folha Universal e colunista de videoclipes do Yahoo! Brasil.

Leia também

Últimas notícias