Brutalidade de alguns em Passo Fundo não representa o Brasil, onde a caravana passa

Ruralistas tomam o acesso a Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, para barrar a caravana, sem encontrar repreensão do poder público. E a caravana passa

Facebook/Reprodução

A multidão que esperava a caravana no centro de Passo Fundo teve seu direito furtado pelas ‘armas’ dos ruralistas

O artigo sugere um esforço de memória. Quantas vezes você viu a polícia desistir de debelar uma manifestação, fosse ela de trabalhadores, torcedores de futebol, estudantes, movimentos sociais?

Isso aconteceu nesta sexta-feira (23) no estado de Rio Grande do Sul. Mais precisamente no trevo de acesso à estrada que leva à cidade de Passo Fundo. Cerca de 200 ruralistas, de acordo com relatos, conseguiram impedir a passagem da Caravana Lula pelo Brasil, que desde a segunda-feira (19) viaja pelo estado a partir de Bagé.

A polícia não liberou a estrada. O secretário estadual de Segurança Pública teria dito não ter capacidade de garantir a segurança dos ex-presidentes da República Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Fica a pergunta: incapacidade, incompetência, falta de interesse? A polícia gaúcha realmente não é capaz de acabar com um ato? Com a palavra trabalhadores do serviço público, estudantes sem condições de arcar com a tarifa do transporte, cidadãos ocupantes de imóveis abandonados, sem função social, em busca do direitos de morar.

Qual a interpretação do direito de ir e vir, sempre tão lembrado nos protestos de trabalhadores historicamente agredidos com violência desmedida, neste e em outros estados do país, pelos órgãos ditos de “segurança”?

Armado com grandes tratores – sim, armados com tratores –, caminhões, paus e pedras, o grupo que tem seguido a caravana desde o início usa e abusa da violência. Nos últimos dias, atiraram rojões contra a comitiva, pedras e ovos nos ônibus, um trabalhador foi chicoteado em São Borja, assim como quatro mulheres a caminho do ato em Cruz Alta, na noite anterior, que além de agredidas tiveram suas bandeiras queimadas. Chibata, açoite, vergalho, relho… arma de oprimir, de humilhar, só pode ser manuseada por um covarde.

Esse parece ser o Brasil que uma parte pequena, mas lamentavelmente barulhenta da população, insiste em tirar das trevas. Um lugar violento, cheio de preconceito, desrespeito, machismo insidioso, odioso.

Em todos esses atos, além dos xingamentos e das palavras de baixo calão dirigidas especialmente contra as mulheres, uma marca: a figura de Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência da República.

Felizmente são minoria. Continuarão sendo. Isolados num mundo que não combina com educação, qualidade de vida, respeito ao direito alheio, oportunidades, solidariedade.

Eles perderam

Durante mais de três horas, toda a comitiva que acompanha a Caravana Lula pelo Brasil aguardou, junto a uma cooperativa de pequenos agricultores que trabalham, muito, em Pontão, em clima de solidariedade, até que o trevo de acesso à cidade de Passo Fundo fosse liberado para passagem. Isso não aconteceu.

Milhares de pessoas esperaram na Esquina da Democracia (não, não é uma ironia), pela chegada da caravana, impedida de passar. Isso porque algumas dezenas de homens armados de violência e desprovidos de civilidade resolveram que não deveriam ter esse direito. A situação absurda ganhou contornos surreais quando uma jornalista da RBS foi agredida pelos ruralistas.

Em outro ato programado em São Leopoldo à noite milhares de trabalhadores esperavam por Lula, como em dezenas de atos que já ocorreram em todo o Brasil desde a retomada da caravana. Nessas ocasiões, alegria, paz e respeito às ideias, ao debate de propostas são regras. São gestos de cidadania para devolver o país ao rumo do crescimento e justiça social vivido durante alguns anos.

A reportagem da Rede Brasil Atual e da TVT seguirá para Chapecó, em Santa Catarina, onde na noite deste sábado está previsto novo ato da caravana.

Os ruralistas que talvez suponham ter vencido uma batalha, perderam. A maioria dos brasileiros não quer viver num país mergulhado na brutalidade, nas injustiças, sob violência e golpes. E quanto mais pessoas conhecerem o horror desse pequeno mundo de ódio que nada tem a ver com o Brasil, menor ele será. A caravana segue.

Ricardo Stuckerct
Depois de Passo Fundo, caravana em São Leopoldo. Praça cheia de esperança, gratidão e resistência

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