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Torça, Mick, torça

Além de se lançarem em caravanas a Brasília como pedras rolando, movimentos farão campanha para ter Jagger nas galerias do Congresso na torcida pela reforma da Previdência

Montagem sobre imagens do Facebook e Youtube

Em 2010, torceu pelos EUA, pela Inglaterra, por Messi, pelo Brasil. E estava no Mineirão nos 7 a 1. Cola neles, Mick

A revista Exame deu a deixa e as mobilizações já começaram. Depois da capa de sua mais recente edição – com a foto de Mick Jagger e a sugestão de que o trabalhador brasileiro acima de 65 anos tenha a mesma disposição do roqueiro para a labuta –, os movimentos sociais já sabem o que fazer além de despejar caravanas em Brasília, like a rolling stone, contra a reforma da Previdência.

Como reforço às manifestações, corpo a corpo com os parlamentares do dentro do Congresso, e com a polícia do lado de fora, mais uma simpatia contra a Proposta de Emenda à Constituição será PEC 287 está sendo gestada: organizar uma grande vaquinha nacional para trazer Mick Jagger ao Brasil. E colocá-lo nas galerias a favor da PEC 287. De preferência vestindo uma camiseta do pato da Fiesp, ou um boné da editora Abril.

O maior pé frio da história das torcidas não falhará. Seu currículo é impecável. Começou bem ao lado do ex-presidente Bill Clinton, num Estados Unidos x Gana pelas oitavas de final da Copa de 2010, na África do Sul. Resultado: 2 x 1 para os africanos.

Pela mesma fase, foi ver Inglaterra x Alemanha. Antes, mandou mensagem de apoio pelo Facebook aos jogadores ingleses, e no dia da partida estava lá. Noventa minutos depois, Alemanha 4 x 1 Inglaterra.

Firme como uma rocha, Mick voltou à arquibancada depois para Brasil x Holanda. Com o filho Lucas sentado ao lado, o guri com camisa da seleção brasileira e tudo, vibrou com a abertura do placar com Robinho. A sorte voltou, acreditou. Mas o tempo virou: Holanda 2 x 1.

No dia seguinte, para Alemanha x Argentina, o astro do rock preferiu manter seus pés gélidos em casa. Não foi ao estádio, mas resolveu abrir a imensa boca e declarar apoio aos hermanos. Pimba! Alemanha 4 x 0 Argentina.

Quatro anos depois, o herói da Exame estava entre nós, na Copa do Mundo do Brasil, vamo que vamo, é heeexa! Antes da estreia da Inglaterra, postou no Twitter a mensagem encorajadora: “O primeiro jogo da Inglaterra é esta noite, desejando a eles a melhor sorte – vai, Inglaterra!”. Itália 2 x 1 Inglaterra. Ok, shit happens.

Obstinado, não desistiu. O segundo jogo da Inglaterra era contra o Uruguai. Agora pelo Facebook, tascou “Vamos, Inglaterra! Esse é pra ganhar!”. Bingo. Uruguai 2 x 1 Inglaterra.

Dias antes do último jogo da fase classificatória, Mick estava em Roma fazendo o que mais sabe: rock’n’roll. Do palco, palpitou para o público que a Itália venceria seu jogo decisivo contra o Uruguai por 2 a 1. Não deu outra: Uruguai 1 x 0 Itália.

Mas nem tudo estava perdido. Naquele que seria o histórico 8 de julho de 2014, Mick e Lucas estavam na arquibancada do Mineirão para Brasil x Alemanha. O guri, novamente, vestindo a amarelinha. Ok, não vamos falar sobre isso.

Possivelmente Mick Jagger não tenha culpa de ter ido parar na capa da revista. Mas com um apoiador de currículo tão vasto… atenção, centrais sindicais e movimentos sociais: é hora de unidade para convencer o grande mito das arquibancadas a aderir à causa da grande indústria de previdência privada, vindo de livre e espontânea vontade. Não vai ter erro.

Se a intenção da revista da Abril era, a exemplo do que andou fazendo o Jornal Nacional dias atrás, humanizar a reforma que extermina o direito das pessoas de desfrutar uma aposentadoria em vida, e naturalizar a obrigação de manter-se na ativa para sobreviver na velhice, “porque faz bem”, parece que os leitores não caíram no argumento de vendedor de previdência privada.

A lista de comentários que circularam ao longo dia da divulgação da capa revelou uma legião de ofendidos com a manchete padrão literatura de autoajuda da Exame. Em síntese, o entendimento que resume grande parte dos comentários foi: “Se eu quiser trabalhar depois dos 65 ou 100 anos, ótimo. Desde que eu queira. Liberdade de escolha. Não falta de escolha”. Ou: “Depois de passar a vida trabalhando, se minha opção for o descanso, que essa opção seja respeitada, e não roubada. Senhor Civita, não maltrate minha inteligência”.

Parece que o nome de Mick Jagger não foi usado em vão.

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